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Série Os Quatro Elementos 1 - Um homem do Ar

brad pitt
Gabriel  Villas Boas é um libriano que adora defender o planeta. É um ambientalista  que
salvou, há muitos anos, uma menininha de cinco anos da morte certa. A menina passou
a considerar Gabriel o seu anjo da guarda e, ao 17 anos, perdidamente apaixonada por 

ele, consegue seduzi-lo. Sentindo-se culpado por envolver-se com uma menina a quem deveria
proteger, Gabriel vai embora sem saber que Carine estava grávida dele. Quando retorna, 7
anos mais tarde, Carine está casada com outro homem.

Signos do Elemento Ar: Gêmeos, Libra e Aquário
        Sendo o Ar o elemento mais ligado ao espiritual, normalmente seus nativos, Gêmeos, Libra e Aquário, têm no pensamento a sua maior forma de expressão. Costumam
ser equilibrados e muito inteligentes. Valorizam a harmonia, a justiça e a beleza. São espertos e pensam rápido e lidam com o abstrato com muita facilidade. Adoram
analisar, ponderar e chegar a resultados. Ótimos amigos, muito comunicativos, idealistas e excessivamente curiosos, apreciam a companhia das pessoas e o conhecimento
que as acompanha. Vêem o planeta como um lugar maravilhoso e cheio de coisas novas a serem descobertas. No entanto, podem ser aparentemente  calmos e suaves como
uma brisa ou violentos e intempestivos como um furacão, dependendo de como as coisas estiverem funcionando ao redor. Mesmo aparentando muita tranqüilidade, uma vez
ofendidos ou contrariados, seu equilíbrio se quebra e eles partem para o ataque.
                                                        capitulo 1
        Ele desembarcou no  aeroporto do Galeão, no Rio De Janeiro e respirou fundo, como se precisasse daquele gesto para criar coragem, ou pelo menos, para poder
ter um novo ânimo para seguir em frente.
        Não era o ar puro da floresta a qual estava acostumado a ter em seus pulmões. Há anos que se embrenhara pelo Amazonas e era aquele o ar que os seus pulmões
gostavam de aspirar.
        Não queria ter voltado. Quando se fora, jurara a si mesmo que não mais retornaria a ao Rio de Janeiro. Mas, nem saberia dizer onde fora mais infeliz.
        Nos sete últimos anos, sua vida se tornara árida, angustiante, desolada. Fora, por seis anos, um homem casado e pai de um menino lindo e saudável. Mas não
soubera valorizar o tesouro que tinha em suas mãos e o perdera. E agora, somente agora, depois que tudo o que mais amava, ou, pelo menos, tudo aquilo que ele deveria
mais amar e valorizar tinha se perdido para sempre, é que ele percebera o quanto tudo aquilo que ele se permitira perder, lhe fazia falta. Muita falta!
        Mas não era assim mesmo que a vida se apresentava para todos? Quem, nesse imenso mundo de Deus, dava valor ao que tinha em suas mãos. Todos, sem exceção,
só sentiam falta daquilo que haviam perdido.
        Quem já não ouvira, dissera ou pensava secretamente que "antes era feliz e não sabia?"
        Perdera Tânia, sua mulher, perdera seu filho e... Perdera Carine!
        Seu único consolo era ter a mais absoluta certeza de que não era o único! Não era o único canalha miserável do planeta. Exatamente como ele, existiam milhares
de desgraçados que um dia se deixaram levar por uma ninfeta vadia e sem escrúpulos! O pior, fora acreditar na inocência daquela vampira traiçoeira! E pior ainda,
muito, mas muito pior mesmo, fora perder tudo o que tinha nas mãos, fora se sentir um infeliz resignado por ter uma mulher que o amava, um filho que o fazia sentir-se
o mais importante ser humano do mundo quando se atirava em seus braços e o chamava de pai, só por que não conseguia se livrar daquela maldita obsessão!
"Carine... Cadela dos infernos!" E pensar que durante anos Carine lhe dissera que ele era o seu anjo da guarda, o seu anjo Gabriel! Por que diabos, depois de tanto
tempo ainda pensava em Carine? Tinha que pensar em seu filho, a quem perdera de forma tão dolorosa, tinha que pensar em sua esposa Tânia, que também se fora!
        Na verdade, não tinha o hábito de viver a lamentar-se.  Detestava ver as pessoas reclamando da vida. Acreditava que, mesmo com todos os problemas, a vida
era um dom, uma verdadeira glória e, só o fato de se estar vivo, era o principal motivo de se alegrar. No seu caso então! Era um homem saudável, tinha uma excelente
situação financeira, nascera rico. Não era de reclamar da vida e nem poderia. E, em seus primeiros anos de vida, ele fora uma pessoa feliz e sossegada em todos os
sentidos. Era o terceiro filho de um lar feliz.
        E, pelo fato de não ter que ser o responsável pela empresa de sua família, como seus irmãos mais velhos, ficara livre e com muito dinheiro para gastar. Mas
não fora totalmente irresponsável. Trabalhara lado a lado com os irmãos. Entretanto, aprendera a amar a natureza e se tornara um famoso ativista ecológico. E, para
a sua tranquilidade, nesse ponto, não decepcionara aos familiares. Todos compreendiam que o seu dom maior estava voltado para a defesa do planeta onde viviam. Embora
soubesse agir como um executivo de sucesso, almejava metas totalmente diferentes.
        O seu receio em voltar, em enfrentar o seu mundo poderia ser facilmente explicado. Antes, quando jovem e despreocupado, era uma pessoa diferente. E quem
não fora assim em seus primeiros anos? Sabia que muitos, como Carine, por exemplo, já nasciam sofrendo. Mas esse não era o seu caso.
        Já estava com 36 anos e, de um momento para o outro, todo o seu mundo desabara.
        Voltava, na vã esperança de colar seus caquinhos, se é que ainda havia cacos para serem restaurados. De qualquer forma, tinha que reconstruir o que sobrara
de si mesmo. Tinha que encontrar o fio da meada de sua vida. Estava perdido num vazio escuro e assustador e ele não se sentia confortável com isso. E quem se sentiria
a vontade quando o seu mundo ia para o ralo enquanto se tentava reter alguma coisa nas mãos e tendo a mais absoluta certeza de que não o conseguiria jamais?
        Mas ele estava vivo! ainda estava vivo! E não estava derrotado! Não ainda!
        Sentia-se culpado por amar a vida. Ele sobrevivera. Os sobreviventes de uma tragédia sempre se sentiam culpados por terem sido poupados, por terem saído
ilesos, por terem sido espertos e de alguma maneira, driblado a morte. Sabia por que deveria sentir-se culpado. Ele fora o único responsável pelo que acontecera
a sua mulher e ao seu filho.  Fora negligente. Acabara perdendo o seu bem mais precioso. Tudo por sua capacidade de avaliar de forma errônea as ameaças alheias,
por não levá-las em consideração, por não perceber que ele tinha um ponto fraco. Fraco demais! Tão fraco que o atingiram mortalmente bem naquele ponto, bem naquele
alvo. Apenas subestimara o inimigo. Não levara em consideração o quanto o inimigo poderia ser perigoso, forte, capaz. Erro seu. Pagara caro por isso. Acreditava
que, se ele não tinha coragem para acabar com a vida de alguém, outras pessoas também não teriam. Como fora ingênuo! Esquecera-se de quantos assassinos estavam presos
pelas cadeias do mundo afora e quantos ainda estavam em liberdade. E, no final, ele mesmo que se acreditava incapaz de matar qualquer ser vivente, não matara a fim
de defender sua família? Era certo de que de nada adiantara. Quando conseguira pegar o primeiro assassino, sua mulher e seu filho já não tinham mais chances de sobreviver.
Tinham-no acertado em seu ponto mais fraco! Tinham acabado com a vida de seu filho!
        Mas, agora, ele poderia reconstruir o seu mundo, ser feliz outra vez, livrar-se da culpa, rever Carine...
        Provavelmente, não deveria colocar Carine naquela equação. Revê-la não o faria feliz. Muito pelo contrário, iria aborrecê-lo profundamente. Mas, como evitar?
Ela vivia na mesma cidade onde ele morava e  aquela cidadezinha a beira mar, pertinho do Rio de Janeiro não era um lugar tão grande assim, onde as pessoas não se
encontravam com facilidade.
        Obviamente, era uma cidade cumprida, ao longo da Br 101, a Rio Santos. Mas, para os endinheirados como ele e Carine, as chances de se encontrarem eram imensas,
já que frequentavam sempre os mesmos lugares.
        O mais chato seria revê-la nos braços de outro. A traidora se casara com um renomado médico antes que ele tivesse tempo para pedi-la. E isso, depois de ter-se
entregado a ele e lhe jurado amor eterno. Apenas uma noite após ter-lhe brindado com a sua virgindade, já se refestelava nos braços daquele que se tornaria o seu
marido.
        "Cadela! Nunca se pode confiar em uma mulher!" Pensou desgostoso. E aquela, em particular, por mais que exercesse sobre ele um fascínio quase irresistível,
seria eternamente, nesta ou em outra vida que por acaso chegasse a existir, o objeto exclusivo de seu ódio.
        Mas, no momento, tinha que pensar em coisas práticas como trocar de moto, comprar um carro, dar uma recauchutada em sua casa e... E... E rever Carine.
        "Diabos!"
        - Não caia desmaiada agora não, mana, mas acho que estou vendo o seu anjo louro bem ali, na entrada da loja.- Carine ouviu  Sabrina,sua irmã caçula dizer
em voz quase estridente pela surpresa.
        Antes porém, de poder esboçar qualquer comentário ou mesmo, ter sequer tempo para digerir o que acabara de ouvir, outra voz se fazia notar.
        - Acho que seu Brad Pitt acaba de entrar no saguão da loja. - Era Bruno quem falava de modo um tanto irritado. Não gostava de Gabriel. Pelo menos, não depois
do que ele fizera a Carine. Jurara a si mesmo, que odiaria aquele homem enquanto vivesse. E toda a sua vida seria pouca para poder aplacar o ressentimento que nutria
contra aquele verme miserável comedor de capim!
        - Acho que aquele ali se parece com o seu Thor, o deus nórdico do trovão. Não é ele? - Ouvia sua irmã Joyce, a esotérica.
        Seus tres irmãos falaram ao mesmo tempo. E, para enfatizar bem o que diziam, Carine sentiu tres cotoveladas virem das tres diferentes posições em que seus
irmãos se encontravam, muito próximos a ela.
        - Ai! Isso dói, droga! - Fora tudo o que conseguira dizer antes de olhar para o lugar que seus irmãos discretamente apontavam
        - Realmente, com aqueles cabelos loiros e compridos e aquele par de olhos verdes que brilham até no escuro... Só falta mesmo o martelo... Mas, como eu o
conheço bem... Tão logo chegue perto de nós e a sua voz vai reverberar como uma sonora trovoada. Nem vai precisar do martelo de Thor para que apareçam as faíscas
de um relâmpago! Espero que a fúria com a qual o vi carregado da última vez em que dei de cara com ele, permaneça distante de mim.- Sabrina tornara a falar. Parecia
preocupada. Um encontro entre aqueles dois depois de tanto tempo e depois de tanta mágoa e ressentimento... Isso não seria nada bom. No entanto, Gabriel passara
por maus momentos. Deveria estar mais tranquilo em relação a sua irmã. De qualquer forma, ele estava ali e um encontro entre os dois parecia inevitável.
        - Voz de trovão? - Riu Joyce. - Ele é libriano. Os librianos odeiam levantar a voz. No máximo, sussurram, mesmo quando carregados de ódio.
        - Quem o chamou de Deus do Trovão foi você. - Sabrina reclamou.
        - Sei disso. Mas não foi por causa do tom de voz. - Respondeu Joyce. - Foi por causa da semelhança dele com o Thor das revistas em quadrinhos. Só por isso!
        Confusa com tantos adjetivos que descreviam o seu Gabriel , Carine olhou na direção indicada. Antes mesmo de avistar aquele monumento louro, ela já sentia
o coração palpitar. Sabia que era ele, o homem de sua vida que estava ali. Depois de seis longos anos. Iria insultá-la ali, na presença de todos, como havia feito
nas últimas vezes que se encontraram, desde que haviam feito amor por uma única noite? Será que despejaria sobre ela, mais uma vez, aquele ódio que ela não sabia
de onde vinha? E se recriminava por estar preocupada com a reação dele. Agora estava preparada. Se ele abrisse a boca para ofendê-la, diante de alguém ou não, arrancaria
os olhos dele! Ele não mais a surpreenderia com a força de sua fúria virulenta!
        Parado a entrada da grande loja de tres andares, Gabriel retirou do rosto o óculos escuros e calmamente colocou-os no bolso do terno escuro e elegante que
usava. Olhou com seus grandes e expressivos olhos verdes para o topo da escada, onde eles estavam, respirou fundo, resignado, e rumou na direção do quarteto de irmãos.
O que mais poderia fazer? Voltara, não voltara? Então tinha mais que seguir em frente. que alternativa ele tinha, afinal? Mas caminhou com os passos mais lentos
o possível. Gostaria de demorar vinte anos para subir aquelas escadas.
        - Deus meu! O que ele faz aqui? - Carine estava quase sem fôlego. - E está vindo para cá? O que devo fazer? Tremia. Seu coração parecia querer sair pulando.
Ia desmaiar!
        - Não tenho a mínima idéia, queridinha. - Bruno falou de forma afetada. - Só sei que o menino louro e super esnobe, que mais parece um modelo da Gucci por
causa das roupas que veste, está subindo as escadas e vindo em nossa direção. Pelo que vejo, vem falar conosco. Como ele se atreve, não tenho a menor idéia. Se quiser,
dou-lhe uma rasteira e o faço rolar escada abaixo. E isso me daria um prazer inenarrável!
        Carine ignorou os comentários maldosos do irmão. Estava aterrorizada diante da idéia de rever aquele homem.
        - Estou com medo...
        - Ei, irmãzinha! Estou desconhecendo você. Onde está a mais maluca de minhas irmãs, a temerária, a que enfrenta raios e trovões para conquistar aquilo que
quer? Aquela que não leva desaforo para casa? Ele é só um babaca louro, nada mais! Coloque-o em seu bolso, dobrado em vinte partes iguais. Ele não merece esse seu
desespero. Destrua esse impertinente com um daqueles seus olhares de Afrodite e deixe-o cambaleando a míngua, na sarjeta. Use essa beleza brasileira, morena  e estonteante
que Deus lhe deu e mande o idiota pomposo para o inferno que é o lugar dele!
        - As coisas que ganhei desse homem foram um pontapé no traseiro e muitas ofensas, esqueceu disso, Bruno? - Carine tentava respirar. Puxava o ar não sabia
bem de onde. E sua mente entoava os mantras que Joyce lhe ensinara a fim de manter-se calma. Mas era difícil ter calma depois de seis anos!
        - Ah! queridinha irmã! Você ganhou muito mais que um pontapé no traseiro e as ofensas injustas que esse imbecil soube vomitar! Disso eu tenho certeza e até
posso provar!
        - Ih! Chega vocês dois. Ele já pode ouvir as bobagens que estão falando. - Disse Sabrina se preparando para acolher o recém chegado quando Angélica apareceu
para dar um pouco de tranquilidade aos filhos, tomando a palavra e evitando que as coisas melassem bem no topo da escada rolante, de onde todos no primeiro e no
segundo piso pudessem ser testemunhas de qualquer alteração.
        - Olá, Gabriel! - Disse a mãe dos quatro apavorados filhos revelando um sorriso sincero e encantador de boas vindas. - Que maravilhosa surpresa vê-lo por
aqui! Não sabia que tinha retornado ao Rio! Quando voltou?
        - Cheguei ontem do Amazonas. - Ele respondeu cumprimentando a sua amiga de infância a quem não via desde que partira há seis anos, levando uma bagagem de
puro ódio e ressentimento na alma. - Passei a noite com meus pais. Tínhamos alguns negócios para acertar.
        - E como estão Ciro e Telminha? Eles estiveram almoçando aqui no mês passado. Estavam radiantes. Seu pai falou que estava pensando em se aposentar, deixar
todos os negócios com os filhos.
        - É. Isso mesmo. - Gabriel foi evasivo e Angélica percebeu que o rapaz não queria falar sobre os negócios de família.
        - E dessa vez, quanto tempo pretende ficar por aqui? - Arriscou.
        - Vim para ficar e não vou mais partir. Meu trabalho na Floresta Amazônica não chegou ao fim, mas não pude mais continuar por lá. No entanto, a luta continua
e não importa onde eu vá, a natureza sempre clama, sempre precisa de nós. E, como nós precisamos dela... Nada mais justo que eu lhe dedique o meu tempo, o que tenho
de sobra. Agora, vou me dedicar ao meu estado. Não preciso ir para longe, para lutar pela Floresta Amazônica, por exemplo,  quando aqui mesmo a mata Atlântica clama
por socorro, pois está sendo destruída bem debaixo do nosso nariz, sem que nossos governantes tomem qualquer providência.
        As pessoas em volta de Gabriel entendiam que a morte da esposa e do filho obrigaram-no a sair do lugar onde estava.  Mas guardaram silêncio a esse respeito.
Para que lembrá-lo da dor, que, com toda a certeza, estava presente em seu coração, jamais esquecida. Não queriam falar disso. Nenhuma das cinco pessoas que o rodeavam.
        Enquanto falava, Gabriel não tirava os olhos de Carine. Até que tentara. Não queria olhar para aquela mulher que transformara sua vida num verdadeiro calvário.
Mas o que mais poderia fazer? Ela estava tão bonita. Aquele par de olhos castanhos. Como alguém podia ser tão linda e tão mentirosa. Mas, dessa vez, ele estava preparado
para ela. Ela nunca mais o enganaria como fizera há um pouco mais de sete anos. E ele, tão mais velho que ela, caíra feito um patinho. Como fora idiota por acreditar
nas lágrimas de uma mulher ordinária. Nunca mais! Nunca mais seria feito de bobo.
        Aqueles olhos grandes e castanhos, olhos de cigana... Aquela boca em forma de coração... Aqueles cabelos escuros e que caíam de forma a fazer o coração de
um homem acelerar... Aquele corpo de curvas perfeitas onde ele uma vez derrapara... Tudo nela era belo e sensual. E os seis anos que os separaram tornaram-na ainda
mais bela, mais mulher, mais curvilínea, mais provocante! "Deus! Ela estava deslumbrante, de tirar o fôlego!" O que poderia fazer diante daquele espetáculo de mulher?
        Sua atenção fora chamada pela chegada ruidosa de duas menininhas de cabelos loiros e olhos verdes. Sabia quem eram, embora não pudesse diferenciar as garotas.
Uma delas era a filha de Carine, Ele a conhecera seis anos antes, quando voltara para o Rio e para aquela cidade que margeava a Rio Santos. Naquela época viera para
levar Carine consigo, para onde quer que fosse. Mas Carine havia se casado e era mãe de uma menininha que tinha quase um aninho na época. Por pouco não  morrera
de desgosto e tristeza. Entretanto, havia sua ex noiva. Acabara se casando com Tânia, que lhe dera um filho pouco tempo depois de casados. E que acabaram morrendo
por causa de uma rixa sobre a floresta que ele defendia.
        A outra menininha era a filha de Sabrina, a adolescente precoce que se tornara mãe aos dezesseis anos, mas que agora era, exatamente como ele, também viúva.
        Gabriel viu as crianças e não pode evitar de fazer uma festa na cabeça das duas meninas.
        - Cresceram bastante desde a última vez que as vi. - Disse sem poder ocultar um certo ressentimento. - Agora nem sei mais quem é quem. Ambas têm o mesmo
tamanho!
        - Essa bonequinha que tem a pele mais morena, exatamente como a mãe, e os cabelos loiros, - ia dizer, como os do pai, mas preferiu abster-se de um comentário
que, com toda a certeza seria mal interpretado. -  E que você está abraçando é a filha de Carine.
        Ele sabia. Só queria ouvir alguém lhe dizer aquilo mais uma vez. A prova da traição de Carine. Aquela menina que ele abraçava era a filha de outro homem!
Carine o traíra desavergonhadamente logo após jurar a ele que o amava, que esperara por ele a vida inteira! E ela tinha acabado de sair de sua cama! A falsa! A víbora
traiçoeira! Retirou o braço do ombro da criança, esforçando-se para não parecer brusco. Aproveitou para abraçar a outra menininha e conversar com ela.
        - Também vi você quando tinha um aninho. Ou quase isso. - Disse para a garotinha que agora abraçava.
        Carine sentia o coração em pedaços. Por que ele fora embora daquele jeito. Fora ele quem a humilhara, quem a abandonara, na primeira vez que partira. E,
quando retornara, mais de um ano e meio depois, já a encontrara casada e com a menina em seus braços.  Mas, fora ele o culpado daquela situação. O que ela poderia
fazer? Estava grávida e sozinha!
        - Seis anos! - Disse ele. - Faz seis anos que fui embora.
        - E agora? Realmente pretende ficar ou vai fazer como da última vez que disse que viera para ficar e partiu em pouquíssimos dias?
        Gabriel ainda se lembrava da dor. Quando chegara, pretendia pedir a Carine que se casasse com ele. Mas ela se casara com outro. Não suportaria vê-la nos
braços de outro homem. Fora cruel. Passara a vida negando aquele amor por considerá-lo fora do normal e, quando criara coragem para seguir adiante, ela havia desistido
dele, cansado de esperar por ele. Tivera que ir embora. Não gostava de lidar com suas frustrações. E vê-la todos os dias... Com outro homem...
        Ele olhou longamente para Carine.
        - Agora vim para ficar. Agora consigo conviver com os meus fantasmas. Além do mais, minha casa, meus amigos, minha família, toda a minha história pertence
a esse lugar. Não vou mais partir. Estou preparado para o que der e vier. - Olhou para Cerine com os olhos flamejando de pura ira!
        - Seja bem vindo em seu retorno ao lar. - Angélica quis evitar continuar a conversa na linha em que estavam seguindo. Ele parecia carregado de rancor. E
ela sabia que tudo aquilo estava voltado para a sua filha Carine.
        Gabriel tornou a olhar para as duas meninas.
        - Qual o nome de vocês?
        - Sou Bia e ela é Alana. Acabamos de fazer sete anos. Quase que chegou no nosso aniversário. Foi na semana passada. Sabia que quase nascemos no mesmo dia?
A vovó diz que a diferença entre nós é só de trinta e oito horas! Mas não sei o que isso quer dizer.
        Mas Gabriel sabia. Sabia que ambas haviam nascido na mesma época. E isso era o pior de engolir.
        - É. Ambas têm a mesma idade. - Angélica limitou-se a dizer. Parecia que todo e qualquer assunto que fosse conversar na presença de Gabriel Villas-Boas ia
ser um tabu. Todos os assuntos, por mais inocentes que pudessem parecer, acabavam encontrando o passado como barreira.
        - As coisas aqui em nossa cidade têm progredido bastante. - Angélica arriscou um assunto bastante neutro. Não entendia por que seus quatro filhos estavam
tão calados. Entendia o silêncio de Carine, embora manter-se calada não era uma de suas qualidades. Joyce, todavia, era calada por natureza. Agora, Sabrina e Bruno?
O que havia acontecido com a língua deles que não vinham em seu auxílio. Pensando bem, era até melhor que se mantivessem calados. Bruno, embora fosse um conceituado
médico, quando estava perto das irmãs nunca falava coisa com coisa. Não sabia ser sério, comportar-se como adulto. E, naquele caso, a raiva que ele guardava em seu
peito contra Gabriel não  o deixaria manter a conversa num nível neutro e educado.
        - É. A cidade tem crescido tanto que se torna cada vez mais necessário e urgente que se tome algumas providências a fim de evitar um colapso no meio ambiente.
Sabe como é, cidade praieira, muitos turistas, muitos loteamentos de posse, crescimento desgovernado... Os problemas, que quase sempre são empurrados para adiante,
acabam chegando a um ponto que torna impossível a convivência pacífica entre o homem e a natureza.
        - Eh, Gabriel! Sempre preocupado com o bem estar do planeta, hein? - Disse Joyce arriscando uma palavrinha. Algo inusitado, partindo dela.
        - É o que gosto de fazer, é a minha profissão. E, cuidar da natureza é a mesma coisa que cuidar do próprio corpo, da própria saúde. - Sempre que falava do
meio ambiente, ele se inflamava. Mas estava consciente da presença de Carine muito próxima a ele. Queria poder tocá-la. Ao menos, falar com ela. Na verdade, queria
tomá-la nos braços e fazer amor com aquela mulher no primeiro lugar que ele pudesse encontrar para ficarem a sós. Queria deslizar para dentro dela e... Sentiu uma
pontada na virilha. Era melhor parar de agir como um adolescente e começar a se controlar.
        Entretanto, não conseguiu se conter. Banhou Carine com seus ternos olhos verdes. A moça sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha. Seu estômago parecia imerso
em gelo. Seu corpo tremia descontroladamente e seus joelhos estavam fracos.  Não podia falar. Seu coração disparara e sua voz estava estrangulada em sua garganta.
        - Como vai, Carine? - Ele disse com uma mistura de dor e sarcasmo. Fazia muito tempo que estavam tão próximos um do outro e nem haviam, ao menos, trocado
um cumprimento de cabeça. E ele estava em vantagem. Sabia que a encontraria. Ela, ao contrário, fora pega de surpresa.
        Vira o medo nos olhos dela. Medo? Carine? Ali estavam duas coisas que não combinavam. E medo de que? Dele? Temia algum tipo de vingança? Ora, ele não era
desse tipo, embora pudesse guardar rancor por toda a vida.  Mas, a não ser que a passagem da adolescência tivesse mudado muito a essência de Carine, não conseguia
entender de onde fluía aquele medo que ele percebia nos olhos dela.
        Ela apenas balançou a cabeça num gesto afirmativo a fim de deixar claro que estava bem. Será que ele não conseguia perceber que ela não tinha forças nem
para continuar respirando?
        - Veio almoçar por aqui? - Arriscou-se Sabrina. Ainda não tinha certeza se queria conversa com aquele porco!
        - Sim. Tenho um encontro com o prefeito. Mas estava ainda admirado em como as coisas mudaram por aqui. Está tudo muito bonito. - Gabriel falou se referindo
ao centro comercial de Angélica, enquanto se esforçava para desviar sua atenção de Carine para olhar em volta.
        Era realmente uma loja diferente das outras que o carioca estava acostumado a ver. Angélica transformara uma das propriedades que herdara de seu finado marido
num centro comercial e cultural de grande prestígio e famosa em todo o Brasil e até mesmo no exterior. A princípio, uma mansão de três andares fora reformada e somente
o primeiro piso era usado como loja. Mas não era uma grande loja e sim, várias pequenas lojas que se dividiam entre joalheria, roupas de grife para homens e mulheres,
arte e decoração. Mais tarde, quando sua filha Sabrina assumira aquele empreendimento, quintuplicara o patrimônio da família e recriara o sonho da mãe tornando-o
gigantesco. Um gigantesco culto ao que havia de melhor no mundo dos ricos e famosos. As maravilhas que se viam ali iam de moda internacional feminina e masculina,
passando por produtos de luxo feitos para bebês até os adolescentes mais exigentes e com papais ávidos por mostrar seus pimpolhos vestidos no mais alto glamour,
tendo ainda, joalherias de grande nomes, pet shop de grife, sapatarias de grandes designers e acessórios de alto luxo para os bolsos mais recheados.
        No segundo piso, havia tres restaurantes badaladíssimos. Um deles, japonês. Outro de cozinha internacional com destaque para a cozinha européia e um bem
brasileiro, todos  disputadíssimos, pois estar ali era o mesmo que estar nas recepções mais importantes e comentadas nas colunas sociais do país.
        E a vista era de tirar o fôlego! De um lado a montanha, que ainda preservava um pouco da Mata Atlântica. do outro, aquele mar imenso e de um azul tão profundo
que se confundia com o brilhante azul celeste.
        Muitos, cansados da longa fila de espera dos restaurantes, aproveitavam para dar uma passadinha no spa, tão disputado quanto os restaurantes e os salões
de beleza, feminino e masculino, que também seguiam a mesma norma. Era quase impossível encontrar um horário.
        Felizmente, para qualquer membro da família ou para os seus convidados, sempre havia uma mesa, um horário no salão ou no spa,  um jeito de serem paparicados.
Afinal, eles eram os donos daquele parque de diversões para os endinheirados e onde a mente de Sabrina sempre estava buscando um meio de aumentar ainda aquele espaço
 e as atrações, de modo que uma pessoa chegasse ao abrir  das portas, pela manhã e só saísse dali bem tarde da noite, não sem antes deixar para trás uma boa quantidade
de grana.
        A casa, que antes era apenas uma mansão de tres andares e mais um sótão, fora reconstruída por Sabrina e se transformara numa espécie de shopping, excetuando-se
o sótão, e onde a família era a dona de todas as lojas e, obviamente Sabrina gerenciava a todas com o seu natural talento para ganharr dinheiro.
        Era um culto a futilidade, segundo alguns. Para outros, um paraíso onde se podia encontrar assinaturas como Gucci, Galeano, Valentino, Armani, Prada entre
outros astros do mundo da moda. Gabriel olhava, via as mudanças. Reconhecia que depois que a jovem Sabrina começara a administrar aquele templo fashion, as coisas
haviam melhorado muito. A menina realmente tinha o dom de fabricar riquezas. E, para uma pessoa como ele, que para alguns era uma incógnita pois, ao mesmo tempo
em que passava noites e mais noites dormindo em barracas e redes, desbravando trilhas pelas florestas, adorava, quando nas grandes cidades, de se vestir com roupas
de boa qualidade, bons hotéis e bons restaurantes. Isso era motivo para considerá-lo contraditório? Talvez. Mas gostava do que era belo e bom. Simples questão de
estética! Era tão claro como um dia de sol. Ele defendia a natureza por que era a mais pura e verdadeira demonstração de beleza que Deus deixara na Terra. Mares,
montanhas, rios, cachoeiras, lagos, árvores, flores, florestas, geleiras, desertos... Entre essas dádivas da natureza e as mais belas criações arquitetônicas criadas
pelo homem, ele admirava todas, desde que o homem soubesse aproveitar, com bom senso, os maravilhas divinas.
        - Que ótimo saber que o prefeito também está prestigiando a nossa casa. Sinto-me honrada. - Angélica sorriu desviando os pensamentos de Gabriel de uma loja
masculina que ele acabara de ver.
        - Até parece que o prefeito nunca vem aqui! - Disse Bruno com certa antipatia e agora Angélica percebia, com preocupação,  no rosto do filho  aquele conhecido
ar beligerante. Precisava afastar Bruno dali. Ou, precisava afastar seus filhos de Gabriel.
        - Percebo então que já está arregaçando as mangas da camisa. Um almoço com o o prefeito só pode significar uma colocação, certo? - Sabrina falou ignorando
o irmão. Ela, ao contrário dele, não queria se meter nos assuntos de sua irmã. Não sabia o que o levara a magoar sua irmã como fizera. Sabia o que sua irmã sofrera,
mas não iria guardar rancor daquele homem que sempre fora amigo da família, sem saber ao certo o que acontecera. Conhecia os fatos através de Carine. Não conhecia
a versão de Gabriel. Essa, ele nunca dissera a ninguém. E fosse qual fosse as razões dele, não ia esquecer o bem que ele fizera ao salvar Carine da morte certa.
Deviam isso a ele. Não podia julgá-lo culpado de algo que ela nem sabia o que era.  Além do mais, confiava nos instintos de Joyce. E Joyce não  demonstrava nenhum
sinal de antipatia pelo anjo louro.
        Logicamente, sempre estaria, sem a menor sombra de dúvida, do lado de Carine, caso fosse necessário tomar partido. Entretanto, Carine nunca falara nada que
comprometesse tanto assim ao anjo loiro. E o que acontecera entre os dois não era de sua conta. Não podia julgar o que rolava entre duas pessoas, entre quatro paredes.
Cada um sabia onde o seu calo lhe apertava. E, embora fosse a mais jovem entre os irmãos, sabia que toda história sempre tinha dois lados.
        Dessa forma, mesmo com tantas coisas contra o deus do trovão, era melhor abster-se de bater de frente com ele.
        - É. Vou assumir alguns projetos na área de infra estrutura. Ele está meio preocupado com o o desmatamento da mata Atlântica e é aí que eu entro. Vamos apenas
aparar algumas arestas. Mas é certo que eu fique mesmo por aqui, trabalhando ou não para a prefeitura. Também tenho meus próprios projetos e preciso dar continuidade
a eles. Afinal, há anos que estão parados esperando que eu resolva o que fazer da minha vida.- E tornou a olhar para Carine.
        Ela corou violentamente ao sentir sobre si aquele olhar intenso que a queimava por inteiro.
        - Preciso lutar pelo meu chão,por minha terra. As vezes, até que tento não fazer nada, mas não consigo ver toda essa destruição do planeta em que vivo e
continuar de braços cruzados. Não suporto quando vejo pessoas atirando das janelas de seus carros, dos ônibus e dos trens, uma quantidade exorbitante de lixo. Fico
imaginando como deve ser a casa de uma pessoa que sai por aí, jogando em qualquer lugar, tudo aquilo que acha não ter mais valor. Uma pessoa que não se preocupa
com o bem estar de seu planeta, de sua terra, de seu chão é incapaz de se dedicar, de coração a qualquer coisa. Essa pessoa é incapaz de amar.
        Gabriel falava com tanta sinceridade  e com tanta paixão que Carine teve ciúmes do planeta. A terra conseguia dele algo que ela jamais conseguiria, o seu
amor. Como isso podia ser possível? Aquele homem era capaz de se apaixonar por uma causa, em sua opinião, quase perdida, e não fora, durante anos, capaz de olhar
para ela como mulher, ou pelo menos, como algo a ser tocado, cuidado, admirado.
        - Mas você andou pelo Brasil inteiro nesses últimos anos, não? - Perguntou Angélica, satisfeita por que aquele assunto não comprometia o desenrolar da conversa.
Poderiam falar sobre a natureza, a  destruição e a preservação do planeta, fauna e flora, ecossistemas e biodiversidades. Sabia que, ao se enredar por aquele caminho,
Gabriel falaria por horas e as mágoas do passado, cobranças e ressentimentos estariam relegados a um segundo plano. Ela, mais do que ninguém, deveria ter-se colocado
contra aquele rapaz quando ele partira ao deixar sua filha Carine com o coração despedaçado. Mas, como poderia julgar as ações e as razões de um ser humano. Ele
tentara, por duas vezes, casar-se com sua filha. Não dera certo da primeira vez, então, partira cheio de rancor. Depois, voltara com a intenção de consertar tudo,
de esquecer os passos errados, e assim, poder, daquela vez, casar-se com Carine. Disso ela sabia. E isso já fora razão suficiente para que ela o perdoasse. Afinal,
ele voltara para corrigir o seu erro. Só que Carine já estava casada com César. Bem, na verdade, não tão casada assim. Mas, quem precisaria saber disso?
        - O Brasil possui uma das biodiversidades mais ricas do mundo, as maiores reservas de água doce do planeta e um terço das florestas tropicais que ainda restam.
Estima-se que aqui está uma em cada 10 espécies de plantas ou animais existentes em todo o mundo. - Gabriel prosseguia empolgado. - Rodei pelo mundo inteiro, mas
cheguei a conclusão de que prefiro lutar pelo meu solo, por minhas matas, pelo direito de respirar o ar puro de minha terra. Trabalhei alguns anos na bacia amazônica.
Lá, tudo é maravilhosamente imenso, abundante, fabuloso. A floresta em si é um exagero de tão bela e gigantesca. Mas, depois de tudo o que aconteceu por lá, não
tive mais condições de continuar ali. Algumas pessoas me chamaram de covarde. Felizmente, outras compreenderam que eu não poderia continuar ali. Meu filho e minha
esposa descansam naquelas terras...
        - Nós soubemos que você passou por maus momentos lá. Existe, neste mundo, pessoas muito ruins, que não respeitam nada, nem mesmo o direito a vida. Matam
por qualquer coisa, não deveriam ter o direito de serem chamados de seres humanos. - Angélica resolveu arriscar. Sabia que estava tocando numa ferida e que essa
ferida ainda era muito recente.
        Gabriel deu um longo suspiro mas não continuou a conversa pelo caminho que esta se desviava agora. Calou-se e esperou que Angélica percebesse que ele não
queria falar sobre aquilo.
        - Mas aqui, com esse mar imenso e com essa mata maravilhosa, você, certamente, vai encontrar muito trabalho para ocupar o seu tempo. - Fora Joyce quem falara.
Se Angélica percebera ou não o desconforto de Gabriel ao falar da mulher ou do filho, não ficara claro. Mas mudou de assunto seguindo por onde Joyce se embrenhara.
Mas uma vez, o assunto era a ecologia. Ao menos, ele se sentia seguro ao falar do meio ambiente. O restante... Doía muito, fosse falar de seu passado ali, na Costa
Verde, fosse para falar da emboscada que acabara levando sua esposa e seu filho.
        - É verdade. Aqui há muita coisa a ser feita. A Mata Atlântica, incluindo as florestas estacionais semideciduais, originalmente foi a floresta com a maior
extensão latitudinal do planeta. Esta já cobriu cerca de onze por cento do território nacional. Hoje, porém a Mata Atlântica possui apenas quatro por cento da cobertura
original. A variabilidade climática ao longo de sua distribuição é grande, indo desde climas temperados superúmidos no extremo sul a tropical úmido e semi-árido
no nordeste. O relevo acidentado da zona costeira adiciona ainda mais variabilidade a este ecossistema. Nos vales geralmente as árvores se desenvolvem muito, formando
uma floresta densa. Nas encostas esta floresta é menos densa, devido à freqüente queda de árvores. Nos topos dos morros geralmente aparecem áreas de campos rupestres.
Realmente é um pecado deixar que esses quatro por cento desapareçam sem deixar vestígios. E é por esse pouco de verde, por esse pouco ar puro que ainda nos resta,
que vou lutar para que sejam preservados. - Os olhos de Gabriel brilhavam de tanta satisfação ao falar daquele assunto.
        - Você se esquece que o progresso não pode parar por causa de um punhado de árvores. Onde as pessoas vão morar, em que direção as cidades vão crescer se
todo mundo resolver defender essa bandeira verde? - Bruno falava com desdém. Não gostava das coisas que Gabriel estava dizendo e não o queria perto de sua irmã.
Ele já a magoara muito. Não entendia por que a mãe e Joyce ainda davam trela ao safado. Deveriam expulsá-lo daquele lugar e avisar aos seguranças de que não era
permitido a ele que voltasse ali.
        - Se pensarmos com clareza encontraremos solução para todos os problemas, inclusive o problemas da super população. Há, com um mínimo de boa vontade, uma
solução viável para tudo e...
        - Algumas coisas não encontram solução viável. É muito mais fácil virar as costas e ignorar o problema, fingir que ele não existe, ou ainda, colocar a culpa
no lado mais fraco. - Bruno tornara-se bastante hostil. Muita gente se pendura em barracos nas favelas, nas pirambeiras dos morros por que não têm outro lugar para
ir. Há pessoas que ficam perdidas, sem saber o que fazer, pois de repente, seu mundo acabou, seu chão desapareceu debaixo de seus pés. Para onde você enviaria esse
imenso contingente humano, pessoas que precisam morar, trabalhar, arar a terra, pescar nos mares e rios, construir fábricas, refinarias, e outras coisas que acabam
poluíndo seu mundinho azul, rosa e verde apenas por que não quer que derrubem um punhado de árvores, por que teme que o seu mundinho de menino rico fique cinza?
Queria saber o que você faria se tivesse que lutar, como a maioria dos mortais, pelo pão de cada dia? Com toda a certeza não ia ter tempo de se preocupar com um
punhado de árvores! Na verdade, vocês ambientalistas são contra o progresso e só sabem alarmar a população com essa profecias idiotas de miséria , fome e sede para
o futuro. Já querem matar os menos favorecidos agora, impedindo a eles o direito de morar, de comer, de beber, de se locomover... Tudo para não interferir no equilíbrio
do seu planetinha de faz de conta! São cegos! Não conseguem ver a realidade! Só vêem o capim, seu alimento natural!
        Angélica estava chocada com o filho.
        Gabriel percebera que Bruno não mais falava de problemas ecológicos e sim sobre Carine. Aquilo com toda a certeza, não teria um bom desfecho. Não deveria
ter aceitado o convite do prefeito para almoçar naquele restaurante. Mas sabia que ali, o prefeito encontraria muitos sociáveis, que alguns paparazzi estariam a
espreita do lado de fora e que apresentar Gabriel de Toledo Villas-Boas como o seu braço direito na preservação do município ia ter uma repercussão internacional.
Sabia das intenções do prefeito e sabia que encontraria Carine ali, ou, pelo menos, algum familiar dela, já que aquela loja pertencia a sua família e sua irmã Sabrina
era agora, a responsável por aquele mundo de puro glamour.., tanto que era rotulada pelos meios de comunicação como a menina prodígio do mundo das finanças devido
a grande repercussão de seu trabalho, tanto no país, quanto no exterior, sendo a mais jovem empresária a ser tão bem sucedida.
        Precisava ignorar os ataques de Bruno. Tinha que respirar fundo e fazer de conta que não queria quebrar a cara daquele moleque mimado. O idiota o chamara
de riquinho como se ele também não o fosse! Desde que Angélica e o falecido marido Afonso salvara aquele indivíduo da morte certa, aos tres anos, que ele nadava
em dinheiro. E vinha querer ofendê-lo por que era bem nascido! Hipócrita de uma figa!
        - Bem, o Brasil é, como já disse, riquíssimo quando se trata da biodiversidade. Temos aqui a Floresta Amazônica, a Zona dos Cocais, a  Caatinga, os Cerrados,
o Pantanal,a Mata Atlântica, os Manguezais e restingas, os Pampas, a Mata de Araucárias e por aí afora. - Gabriel optara mesmo por ignorar o mau humor de Bruno.
O que ele poderia fazer? Acontecera aquele problema com Carine, era certo. Mas ele não fora totalmente culpado. Ela se agarrara a ele, como tantas vezes havia feito
antes. E ele sempre conseguira se esquivar dela. Daquela vez, entretanto, não conseguira. Fizera amor com Carine. Ela era menor de idade e ainda era virgem. Mas
o que tinha isso demais. Com toda a certeza, se não fosse com ele teria sido com outro qualquer. Alguém tinha que ser o primeiro, não tinha? Carine não perdera a
virgindade com ele, muito pelo contrário, encontrara a sua sexualidade. E, para uma menina como ela era, fora bastante sensual e atrevida para uma virgenzinha sem
nenhuma experiência anterior. Provavelmente, treinara com alguns de seus amiguinhos, evitando apenas chegar ao fim. Deixara aquele presente de grego para ele. Sim.
Fora exatamente isso. Aquela virgindade fora um presente de grego do qual ele se arrependia até os dias de hoje.  Se é que as coisas haviam acontecido realmente
assim. A menina de sete anos, que tinha a mesma idade da prima era uma prova mais que evidente de que fora enganado, de que aquela adolescentezinha mimada e traiçoeira
o passara para trás. Fora um imbecil! Acabara aceitando aquela verdade. Caso contrário, nem teria voltado. Não seduzira aquela ninfeta. Fora seduzido, enganado,
sacaneado e feito de babaca por ela!
        Não ia ficar pensando no que aquela vadia lhe fizera. Tinha outras coisas para se preocupar. Sua cidade estava sendo devastada e a última coisa com a
qual se preocuparia era com Carine e sua filha. Ainda podia se lembrar do momento em que chegara ao
Rio.A medida que ele avançava pelo trânsito da Linha Vermelha em direção a Zona Sul, onde seus pais ainda moravam, seu desgosto , tristeza e decepção
aumentavam.
Sua cidade natal, uma das mais belas cidades do mundo estava entulhada de lixo por todos os lados e com um mau cheiro deplorável. Como as autoridades permitiam
que
aquela cidade maravilhosa, que descansava plena e majestosa em sua singular beleza, entre o mar e a montanha, com aquela magnífica e extraordinária Floresta da
Tijuca
embelezando a paisagem de um lado e aquelas luxuriantes praias sensacionais do outro, se  tornasse uma lata de lixo, expostas para os céus e para os desavisados
turistas que vinham ao Rio atrás das belezas tão decantadas em prosa e verso pelos poetas?  Quem eram os manda chuvas daquele reino encantado e que parecia ter
sido
amaldiçoado por uma bruxa malvada e invejosa de tanta beleza que seria capaz de arrebentar a retina dos desavisados diante de tanto esplendor? Como alguém podia
permitir que tal heresia ocorresse tão abertamente, tão claramente? Nunca poderia classificar como humanos, seres pensante, pessoas inteligente, aqueles que eram
capazes de cometer tal atrocidade, tal crime contra a natureza, contra a vida do Rio de Janeiro, cidade maravilhosa e absoluta em seus encantos naturais. Uma pessoa
com cérebro, certamente não espalharia latas, garrafas, papéis e sacos plásticos pelo seu caminho afora. Por que as autoridades não multavam aqueles porcos ignorantes
ou os fazia limpar tudo aquilo que eles deliberadamente emporcalhavam?
        Entretanto, nem poderia exigir tal esforço das autoridades competentes já que tudo parecia funcionar mal em sua cidade. Não existia segurança pública, um
bom atendimento nos hospitais, uma educação de qualidade e por aí afora. Num lugar onde tudo funcionava mal, quem iria se preocupar em preservar a natureza, manter
a cidade limpa, cuidar de praças, jardins e educar o povo para que aprendessem a preservar sua casa, sua terra, seu mundo?
        Por todos os lados, as paisagens mais belas, eram destruídas para dar lugar a um deserto horrendo e repulsivo de obras criadas pelo homem para competir
com
o que a natureza, tão caprichosamente criara. Desde que se entendia por gente, já ouvira relatos de todos os tipos sobre a extinção de milhares de espécies, tanto
na flora quanto na fauna.
        E o ser humano continuava reinando, sozinho, criando, administrando, governando a devastação. Em nome da evolução da humanidade e do progresso, os humanos
conseguiram transformar rios, lagos, mares e oceanos de águas limpas, puras e cristalinas, em esgotos a céu aberto, em depósitos de lixo, em esconderijo para os
excrementos, em uma profusão assustadora de venenosos produtos químicos, sem contar os vazamentos de petróleo e outras sujeiras que somente o ser humano, totalmente
evoluído, consciente, cheio de regras de tiqueta e de boa postura, com suas roupas e perfumes caros, seriam capazes de produzir e distribuir por todo o planeta.
        O problema, ele reconhecia, vinha de longe. Não eram os governantes atuais, fossem lá eles quem fossem, que eram os responsáveis por aqueles desmandos todos.
Mas... Como acabaria aquela cidade se medidas enérgicas não fossem tomadas urgentemente?
        Pegara um táxi quando saíra do aeroporto. E, enquanto o carro atravessava a Linha Vermelha, seu aborrecimento crescia. Sentia-se agora irritado, encolerizado.
O que ele poderia fazer para mudar a mentalidade daqueles seres imundos que se comportavam mais como ratos e baratas do que como gente que deveriam ser? Deveria
ter pedido um helicóptero na empresa de sua família. Dessa forma, evitaria ver aqueles porcos atirando lixo pelas janelas dos carros e dos ônibus!
        O Rio, o seu Rio de Janeiro mais parecia uma lata de lixo gigante! Emporcalhavam aquele paraíso sem a menor cerimônia! Devia haver leis que proibisse aquela
falta de respeito! Multas! qualquer coisa que inibisse aqueles imundos de maltratar aquela jóia da natureza!
        Se ele pudesse tomar qualquer providência, se tivesse nas mãos tal poder, condenaria a todos a cadeira elétrica, a forca, a guilhotina, a câmara de gás.
Depois que uma dúzia tivesse encontrado um fim trágico, os outros temeriam até mesmo a pisar no solo com medo de poluir a terra com a poeira de seus sapatos. Riu
intimamente. Não era cruel. Não era violento. E nunca, jamais em sua vida, atentaria contra a vida de uma pessoa, fosse ela o maior poluidor do planeta. Todavia,
um pensamento tão pernicioso, de vez em quando, funcionava como uma válvula de escape. Embora a sua natureza fosse bastante tranquila, era preciso exteriorizar
a
raiva contida de alguma forma. Pensamentos violentos, drásticos, terrivelmente destrutivos eram bem vindos, em sua opinião. Sempre pensava em coisas ruins. Porém,
nunca cogitara em fazer mal a qualquer ser vivente. Nem mesmo a Carine... A Carine que lhe causara tanto mal!
        Era o seu amor pela vida, sua vontade de continuar vivendo que o fazia amar a natureza e querer lutar por ela. E fora por causa dessa luta que sua mulher
e seu filho haviam partido. Não! Não taparia o sol com uma peneira. Sua mulher e seu filho de cinco anos haviam morrido, vítimas daqueles que não queriam vê-lo
lutar
pelo bem estar de todos. Enquanto ele brigava pela preservação da Floresta Amazônica, que ele e outros como ele consideravam como o pulmão do mundo e, portanto,
um bem a ser cuidado, até mesmo, venerado, idolatrado, santificado, um plano maléfico para neutralizá-lo estava sendo elaborado. Um plano onde  sua mulher e seu
filho deveriam ser sacrificados em seu lugar por aqueles ambiciosos que queriam tirar tudo o que a floresta pudesse produzir. Queriam que ele se calasse!Queriam
que ele ficasse quieto, apavorado com o que estavam planejando! E ele realmente ficara! Mesmo lutando com todas as forças para proteger seu filho, o que vira o
destruíra
intimamente. E ele estivera impotente, nada pudera fazer para que seu filho vivesse!
        Por um certo tempo chegou a acreditar que nunca mais se recuperaria daquela dor, daquela culpa que o roía as entranhas. Como pudera deixar que a vida dos
seus se perdesse daquela forma? Como pudera acreditar que sua ridícula luta pela preservação do planeta pudesse ser maior do que o amor por sua mulher e por seu

filho?
        Na verdade, o amor por seu filho fora maior que tudo na vida. Mas ele se fora. Sua mulher se fora. Só lhe restava continuar a luta. Eles não haviam morrido
por aquela causa? Como desistir agora que já não tinha mais nenhum outro ponto fraco para ser destruído por aqueles infames? Faria da morte daqueles a quem
amara
a sua bandeira. Seriam o símbolo das coisas que desejava realizar.
        E dessa luta Gabriel de Toledo Villas-Boas não abriria mão. Podiam matar a todos a quem amasse. Enquanto lhe restasse um sopro de vida, enquanto dentro
dele
ainda pulsasse aquele fio de esperança, enquanto os seus sentidos pudessem se lembrar do cintilante verde das matas; do azul brilhante do céu e do mar; da cor da
terra, do barro e da areia branca das praias; do ar puro ao qual todos, inclusive os que destruíam, tinham direito; lutaria pela vida no planeta, mesmo que tivesse
que perdera a todos a quem amava. Até que sua voz fosse calada. Até que silenciassem o seu grito!
        Amava a vida. Amava pisar na terra. Amava aspirar o ar puro das montanhas. Amava viver. Se todas aquelas maravilhas da natureza estavam ali, ao seu alcance
para que desfrutasse delas, para que sua retina explodisse de êxtase ao ver tantas belezas em sua terra, por que ele permitiria que uns malucos roubassem dos outros
o que deveria pertencer a todos? Por que ele cruzaria os braços e permitiria que  outros imundos destruíssem aquilo que era belo, que jogassem suas imundícias pelas
ruas, pelos mares, pelas matas? Por que ele fingiria estar cego, surdo e mudo quando alguns idiotas poluíam rios, mares e mananciais? Não permitiria. Não mesmo.
Enquanto vivesse ele jamais permitiria que as pessoas fizessem o que queria de sua terra sem que ele colocasse a boca no trombone.
        Tudo bem que alguns o chamavam de filhinho de papai que nunca tivera que ganhar o pão de cada dia levantando as quatro da manhã para pegar o trem e ir ao
trabalho e que por isso era tão afeiçoado a natureza. Outros o chamavam de fanático comedor de moitas e outros ainda de viciado no verde da maconha. Ele, porém,
não se importava com os rótulos. Nascera bem de vida. E, em vez de ficar se lamentando pelos cantos por que o dinheiro não lhe trouxera felicidade, como muitos
de seus colegas que haviam nascido ricos, mas se acabavam na depressão, nas drogas e nas bebedeiras com mulheres que só visavam o seu bolso, ele abraçara aquela
causa. Podia ser um vício, podia estar errado, mas acreditava realmente que o planeta necessitava de pessoas como ele para lutar por sua  terra, por seu ar, por
suas águas, pelo prazer de poder ainda desfrutar do calor do sol, dia após dia.
        Aquilo era vida! Era a vida a que todos tinham direito. O direito de poder respirar e viver. Precisava fazer com que as pessoas compreendessem, que a natureza
precisava da boa vontade de seus filhos antes que se voltasse contra eles. E um dia, com toda a certeza, ela se rebelaria. Aí, nesse dia, não adiantaria pensar
nela
como mãe. Ela não mais mataria a sede ou a fome de seus filhos e provavelmente não lhes permitiria respirar em paz ou mesmo pisar firme em seu solo. Com toda a
certeza,
sua vingança seria terrível!
        E, enquanto avançava no caótico trânsito carioca, seus pensamentos divagaram para coisas práticas. Ainda tinha sua moto. Comprara-a há mais de sete anos
e a deixara na casa dos pais. Precisaria comprar um carro. Um carro que fosse movido a álcool. Era uma pena que todos os carros para os quais seu coração batia
mais
forte, eram movidos a diesel, combustível que ele deplorava, altamente poluente. Ou então, eram beberrões de gasolina! Infelizmente, ele tinha uma caminhonete movida
a esse combustível deplorável!
        Sua Dodge Ram era a sua paixão, mas...
        Felizmente, todas as montadoras do planeta estavam começando a pensar em carros e motos ecologicamente corretas. As mudanças vinham em doses homeopáticas,
mas estavam chegando, finalmente. Quem sabe agora poderia comprar a sua Ferrari sem se sentir um hipócrita consumado? Era óbvio que nenhuma Ferrari teria um motor
Flex mas sonhar com o impossível as vezes podia fazê-lo tornar-se realidade, não? Logo ele que  defendia a ampliação do uso de etanol e outros biocombustíveis.
"Era
declaradamente a favor de combustíveis que emitiam menos gases poluentes e de efeito estufa.
        "Já pensou se minha Dodge Ram tivesse um motor Flex? Eu ia até a China com ela!" Pensava sonhadoramente. Não comprara ainda a sua Ferrari, não por falta
de dinheiro e sim por que achava desnecessário ter dois carros que não eram movidos a álcool. Todavia, era muito adepto as caronas. Sempre que podia, deixava seu
carro ou sua moto em casa e se tornava passageiro de algum amigo. Entretanto, que homem não gostava de dirigir?
        Quantos aos transgênicos, era cauteloso. Conhecia o problema da fome no mundo, não era radical. Sabia das dificuldades que muitos povos enfrentavam com
o
intuito de alimentar sua população."Tinha em mente o princípio da precaução. Era contra os danos imprevisíveis e irreversíveis que o plantio [de transgênico] poderia
causar. Não havia perigos no presente, mas quem saberia o que poderia acontecer dali a alguns anos?
        Era certo que, em tudo na ciência havia um risco. Sempre fora assim, bastava estudar a história do mundo, das invenções, da tecnologia. No princípio, tudo
causava uma certa apreensão, e, muitas vezes, até mesmo, pânico. Não era um ecologista de mente fechada aos benefícios que a ciência podia trazer ao seu planeta.
Não negava a existência do novo, como via muitos de seus colegas fazerem, sem ao menos procurarem um embasamento científico para as suas declarações. De qualquer
forma, a Gabriel parecia que a transgene era um processo que seria difícil frear no futuro. A bio tecnologia caminhava a passos largos. Tentava ser otimista lembrando
que a invenção do avião, dos elevadores, do ar condicionado, dos celulares, do microondas causaram também apreensão na população. Isso sem falar no acelerador de
partículas. Sempre haveria alarme com relação ao que era desconhecido!
        E, como se tantos aborrecimentos não bastassem, em seu caminho ainda tinha aquela maldita usina nuclear, uma gigantesca pedra em seu sapato. Que defensor
da natureza aceitaria ver todos os dias aquele monumento a morte em seu caminho habitual. Todos os dias era obrigado a dar de cara com aquele monstro assustador.
        O efeito estufa vinha colaborando com o  aumento da temperatura no globo terrestre nas últimas décadas. E, qualquer um, com um pouquinho de conhecimento,
sabia que a temperatura no Brasil aumentara demasiadamente no século XX. Isso era o resultado de pesquisas sérias. E todos sabiam que esse aumento de temperatura
era gerado pela derrubada de florestas e pela queimada das mesmas, pois  eram elas que regulavamm a temperatura, os ventos e o nível de chuvas em diversas regiões.
Como as florestas estavam diminuindo no mundo, a temperatura terrestre vinha aumentando na mesma proporção
        Num futuro próximo, o aquecimento global provocado pelo efeito estufa com toda a certeza, deverá ocasionar o derretimento das calotas polares e o aumento
do nível dos mares, além, é claro, de demonstrar claramente  as catástrofes climáticas que ultimamente vinham assolando a humanidade.
O aquecimento global, que com toda a certeza destruiria o planeta Terra, tinha todas as suas causas e consequências  voltadas para os seres humanos.
        A humanidade criativa e inventiva seria a única responsável por sua própria destruição! Fatalidades da evolução!
        "De certa forma parecia poético... Se não fosse trágico!" Pensou alarmado.
        Seus pensamentos se voltaram para a sua casa na Costa Verde. Teria que fazer algumas modificações, algumas alterações. Seu sistema de energia solar deveria
estar em bom estado e só usava lâmpadas fluorescente. O procedimento que criara para a  captação de água da chuva., também funcionava a contento, segundo dona Ceci,
que cuidara de sua casa durante todos aqueles anos em que não se atrevera a voltar e rever Carine. Mas sabia que um dia voltaria. E queria estar na casa que construíra
quando muito mais jovem, quando acreditava que um dia seria feliz. Mas não queria pensar em Carine naquele momento. Aliás, não queria pensar nela nem naquela hora
e nem nunca!
        Com relação ao processo para a estação doméstica de tratamento de esgoto, algo precisaria ser feito com urgência.
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                                     Um homem do ar -  Série Os quatro elementos 1 



                                    

                    

Comentários

  1. Uma heroína pretinha? E muito forte! Gostei disso.

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  2. errei... a heroina pretinha é na histoinha do sheik

    ResponderExcluir
  3. como faco para baixar esse livros?
    mendesjanneth@hotmail.com

    ResponderExcluir

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