Ana Elisabete canta em um barzinho numa pequena cidadezinha mineira até o dia em que o hoteleiro Lucas Chevalier a descobre e resolve que vai ficar ainda mais
rico com a dona daquela voz de anjo. Ao levá-la para a cidade do Rio de Janeiro a vida da cantora vai mudar drasticamente.
Capítulo 1
Ainda se lembrava de quando as coisas pareciam bem simples. Era muito bom pensar nisso. Era bem melhor sentir a insegurança daqueles tempos do que estar passando
pelos problemas que precisava enfrentar agora. E eram demasiados pesados para ela.
Já não
tinha forças. Na verdade, já não tinha ânimo para nada. Apenas o desejo de vingança fazia com
que permanecesse respirando.
Sempre, ao acordar pela manhã. acreditava que nada valia a pena. Cada minuto do dia
- Não! Estou sendo egoísta! Tenho que pensar e Jean Luc! Preciso continuar por ele!
Mas não conseguia evitar. Aquele homem continuava a lhe causar calafrios de puro rancor.
Vencera, não vencera? E por seus próprios esforços, por seu talento! Por que isso não lhe
fazia feliz? Não contara com isso? Não contara em esfregar-lhe o seu sucesso na cara? Não
acreditara que estaria vingada no dia em que chegasse ao topo^? Então, onde estava o prazer
daquela satisfação por ter alcançado todos os seus objetivos e até um pouco mais do que
imaginara conquistar? Por que ele? Sempre ele? Como uma pessoa em quem ela depositara tanta
confiança, sua própria vida, podia ter sido tão cruel e desumano? O que ele lhe fizera tinha sido muito ruim. Mas ela
o amava. Tinha que tirar ele de seu coração.
E nem tinha o direito de chamar aquele sentimento de amor! Aquilo era um veneno que lhe
amaldiçoara o sangue! Como podia amar e odiar aquele homem com a mesma intensidade? Nem sabia
dizer qual dos dois sentimentos era o mais forte!
Como se enganara! Como pudera ser tão ingênua? Isso ela sempre soubera responder: confiara nele. Confiara nele cegamente.
Por que Lucas a magoara daquele jeito? Isso ela não sabia. Nunca lhe fizera nenhum mal.
As lágrimas faziam força para nascerem em seus olhos, mas ela foi inundada por uma onda de pura teimosia. Não iria chorar. Queria ter ódio dentro de seu coração
para se vingar dele, mas não conseguia odiá-lo.
- Não vou chorar! Não vou derramar uma lágrima por aquele desumano infeliz. Quero... Quero... Quero que ele morra! Morra não! Quero...
Quero que ele me... Quero que ele me peça perdão. É isso. Ele tem que me pedir perdão. Mas não quero que ele morra.
Ergueu sua cabeça numa atitude de desafio para com ela mesma.
- Aquele desgraçado não vai-me vencer! Nunca! Tenho que aprender a odiá-lo. Preciso aprender. Tenho que fazer isso, senão ele vai-me destruir.
Ei Ana Elis! Ei Anna Elis! - Gritavam o seu nome. Acordou para o mundo que fervilhava a sua volta. Havia uma multidão com cartazes e faixas saudando
a sua chegada.
E um bando enorme de repórteres que queriam ouvir dela qualquer declaração. Pareciam loucos, alucinados, uma multidão
Agradeceu aos céus por estar um pouco distante deles. Sabia que, se por uma razão qualquer caísse no meio daquela gente, acabaria sendo mutilada e morta. Mesmo
assim aprendera algumas coisas bastante úteis! Dar um tchalzinho por exemplo, era muito bom naquelas delicada situações onde
ela e a imprensa se enfrentavam como um touro e um toureiro numa arena. E ela com certeza
não era o toureiro. Assim, mandar sorrisos e beijinhos em todas as direções costumava ser eficaz. Evitava que o toureiro chegasse e lhe cravasse uma espada nas costas.
E tinha consciência de seu poder de sedução com a massa. Seu sorriso, em qualquer direção que
fosse lançado, sempre encontraria abrigo e acalmaria uns tantos que, por acaso, estivesse
prestes a perder o controle. Então, sorria! Sorria como uma débil mental para todos os lados.
Na verdade, já havia bebido um pouco de modo que o sorriso já se congelara em seu miúdo rosto
de traços exóticos.
"Fãs! Nos amam tanto que são Capazes de nos matar!" Olhou-os um pouco amedrontada. Sempre
temia um confronto daqueles. Era preciso estar sempre confiante na segurança. E esforçou-se
para não pensar neles. Esperava que a segurança do aeroporto funcionasse satisfatoriamente.
- Mãe do céu morena! Não sabia que era tão famosa aqui. - Disse ela ao seu assessor e amigo, Tiago di Angelis.
- Você fala sério? - Ele perguntou atônito. Não está brincando comigo, está?
- Não entendi. O que disse de errado? - Ergueu para ele aquele imenso par de olhos negros de um jeito que somente ele sabia que ela estava sendo sincera.
- Que isso, Ana Elisabete? Você ficou por três vezes em primeiro lugar na Billboard, sendo que uma de
suas músicas ainda bateu um recorde de 20 semanas no topo da lista , vende discos no mundo inteiro
feito água no deserto, ganha inúmeros Grammy por três anos consecutivos, faz filmes em holywood... E, na sua terra, seu chão, sua
gente não iria reconhecer o seu talento, a sua fama, o seu sucesso? Quem você pensa que é?
Esqueceu-se de que desde o dia em que foi rebatizada como Anna Elis, nunca mais parou de
fazer sucesso, mesmo que evite aparecer em público e dar entrevistas? Por que, justamente
aqui, em sua terra, você não receberia o reconhecimento de seus fans?
Thiago di Angelis riu com seus botões. Somente ela pensaria daquela forma. Nunca correra atrás do sucesso e o sucesso parecia persegui-la. Gostava de cantar
para os outros, só isso. E, por causa disso, sua vida se transformara, segundo ela, num inferno. Detestava a fama, as pessoas que não a deixavam em paz, as pessoas
que queriam saber sobre qualquer bobagem de sua vida. Tudo era muito desagradável. E quanto mais ela fugia da fama, mais aquilo tudo a perseguia.
Todos pareciam querer um pedaço dela. E o pior era que nada bastava para nenhum deles. Quanto
mais se doava, mais queriam! Sua vida tinha que ser um livro aberto. Queriam saber a marca de
sua escova de dentes e de seu absorvente. Quantos banhos tomava por dia, se gozara a primeira
vez que fizera amor, com quantos homens já formira... Eram terríveis as coisas que lhe
perguntavam em programas de entrevistas. E isso ainda era bom, pois a estavam filmando e todos
viam e ouviam as palavras que saim de sua boca. O pior mesmo era quando uma revista a
entrevistava. Já nem as lia mais. Sempre publicasvam coisas das quais ela nem pensara em
falar. E, por muitas vezes, um comentário seu, extremamente banal, virava tema de debates e
Lembrara-se de uma vez que lhe perguntaram sobre seus traços que pareciam idígenas. E ela
respondera que por suas veias corriam sangue negro, indígena e europeu. Nada dissera de mais.
A maioria dos brasileiros traziam consigo esse tipo de linhagem no sangue. Seu erro foi
comentar, em tom de brincadeira, que se a princesa Isabel não tivesse abolido a escravidão,
ela deveria estar cantando nos canaviais e esperava não ser açoitada por isso.
Pronto! Foi um deus nos acuda! Vários grupos de consciência negra a acusaram de negra que
queria embranquecer, que imitava os brancos e que sua postura não tinha sido politicamente
correta.
Felizmente, na época, nem morava no Brasil, embora tivesse dado a entrevista para uma
famosa emissora de tv brasileira.
Agora, tinha trauma de entrevista. Tudo o que sabia dizer era: "Sem comentários!" Isso, se
e somente se ela não pudesse ignorar completamente o paparazzi.
Olhou em volta. O carro deveria estar por perto. Comtudo, aquela atmosfera de calorosa
recepção a sua chegada não era o bastante para deixá-la animada. Não saíra de sua terra de
forma agradável. Era certo que não fora escurraçada de sua terra, mas não fora embora de uma
forma que se sentisse satisfeita em ir. Queria ter ficado.
E agora, cinco anos depois, Ana Elisabete estava de volta. Agora era Anna Elis, cantora de fama internacional. Em seu último disco havia a participação de
cantoras de diferentes estilos e que ditavam moda para o mundo.
Havia clips dela cantando com os maiores ídolos pops do mundo inteiro. Sempre havia um
famoso disposto a aparecer em um de seus clips, de seus showa, ou convidá-la para que
ela participasse de seus eventos Era natural. Estar com ela era garantia de lucro certo.
Ana Elisabete tornara-se, de um momento para o outro, na coqueluche do momento. Os jovens a elegiam
como exemplo e a imprensa aproveitava para também vender suas edições as custas dela.
Para alguns artistas cujo sucesso já havia começado a se esvanecer, bastava convidar a
morena para fazer uma participaçãozinha em seus discos. Isso fora o suficiente para que grandes
nomes, que começavam a decair, se reerguessem ao usar aquela receita.
Thiago temera que aquela febre acabasse logo. Muita gente queria usar a imagem da cantora
e se promover em cima daquilo. Para ela também era bom. Estava em início de carreira, era
muito assediada, e aquela troca poderia ser vantajosa para ambos os lados. Mas, já se passara
alguns anos e a receita continuava a mesma. Uma hora, o público se cansaria daquilo tudo e,
como ficaria a cabeça de Ana Elisabete ao se deparar com o fracasso? Achara que tudo não passava de fogo de
palha, mas, após alguns anos, Ana Elisabete ainda estava na crista da onda. Quanto mais a
consumiam, mais tinham fome dela. Talvez o fracasso ainda demorasse um pouco para mostrar as
suas garras. De qualquer forma, ela estava imensamente rica. E ele também! E esse era o lado
bom do negócio. Pelo menos na opinião dele! Especialmente quando ele já se considerava um
fracasso profissional e, nem de longe, pudera imaginar que, de simples padeiro que fora a
frança para trabalhar como garçon, acabaria se tornando um rico e bem sucedido empresário do
E, para melhorar ainda mais aquela receita de sucesso, Ana Elisabete estrelara algumas
comédias românticas em Hollywood. E estava difícil evitar tantos outros convites que não
paravam de chegar. Era assim que a máquina funcionava. Ela era um sucesso. Retorno garantido.
Então, iam espremê-la de todas as formas. Quando restasse apenas o bagaço, eles a lançariam
fora e iriam, sem a menor dor na consciência, atrás de uma outra mina de dinheiro. Isso era o
show business!
Seus shows lotavam. Fazia turnês pelo mundo afora e os ingressos para as suas apresentações acabavam antes mesmo de serem colocadas a venda.
Quando fora para a Europa, a intenção de seu primeiro empresário era que ela cantasse para os
brasileiros que viviam espalhados pelo mindo. Porém, tudo mudara. Era a nímero um na
Inglaterra e nos Estados Unidos. Ninguém ligava para sua nacionalidade. Ela cantava em
inglês, dava entrevistas em inglês e ganhava em dólar ou libra.
Estava riquíssima. Ganhara vinte milhões de dólares para rodar seu último filme.
As revistas e jornais do mundo da fama viviam a registrar seus passos, suas conquistas e desesperados para saber qualquer coisa sobre sua vida particular. Nada
descobriam.
- Estou tão cansada. Queria dormir três dias seguidos. - Dissera ela sem muito interesse.
- Você acha que vai conseguir? - Perguntou ele outra vez atônito.
- E por que eu não conseguiria: Estou muito cansada. Muito cansada mesmo! - Ela devolveu-lhe aquele olhar sincero. - Preciso dormir, não preciso?
- Você... O hotel, esqueceu? - Falou ele como se estivesse indignado. - Você resolveu trocar de hotel. Não me diga que tinha se esquecido.
Ela fechou os olhos e ele compreendeu que ela esquecera.
- Posso mudar o hotel, se você quiser. Dá tempo para mudar de planos.
- Não! Não precisa! Eu vou ficar hospedada no hotel do Lucas!
- Bem, você conhece minha opinião a respeito. Acho temeroso...
- O que ele poderia me fazer agora? Nem ele nem aquela vaca poderão me humilhar mais!
- Mas você acha que vai ter força o suficiente para enfrentar aqueles dois?
o que ela demonstrava com aquele olhar. Geralmente a conhecia, sabia o que ela estava pensando pelo olhar
que ela lhe transmitia. Todavia, naquele instante, sentiu-se incapaz de compreender
o que lhe passava pela cabeça.
Lucas Chevalier não era digno de sua confiança, e muito embora Ana Elisabete fosse agora uma celebridade, uma personalidade internacional rica e famosa,
Thiago sabia que ela ainda era a mesma garota ingênua que ele conhecera cinco anos antes.
Gostara dela no primeiro segundo que a vira. Ela estava sofrendo tanto e parecia tão frágil que se sentira tocado pela ingenuidade daquela menina. Completamente
sozinha, ali na França. Sozinha e desesperada. Precisava urgentemente de um ombro amigo. E ele oferecera o seu ombro para que ela pudesse chorar, por pra fora toda
a dor que lhe pesava na alma. E ela chorara em seu ombro. Chorara tanto que acabou dormindo em seus braços.
Não conseguia, no entanto, compreendê-la. Como poderia ser fiel a um homem que a magoara tanto como fizera Lucas Chevalier?
Com muito custo, conseguiram sair do aeroporto do Galeão. Durante o trajeto, Ana Elisabete se sentia envolvida por uma série de sensações diferentes. Sentia
saudades
de
seu lugar, sentia saudades de seu pai, da casinha em que crescera naquela cidadezinha do interior, lá em Minas Gerais. E,
sobretudo, sentia saudades de Lucas Chevalier. Não deveria, mas sentia. Aquele amor era maior que a mágoa que ele lhe causara.
Como ela tinha coragem de estar se dirigindo justamente para as garras do lobo?
Thiago lhe avisara inúmeras vezes que ela poderia se arrasar, se dar mal, que aquele homem, que quase a destruíra uma vez, poderia destruí-la
Mas ela confiava em si mesma. Mostraria a Thiago que ela enfrentaria Lucas Chevalier. Que olharia dentro de seus olhos e lhe devolveria a mágoa na mesma medida.
Não que ela acreditasse que ele se arrependera do que lhe dissera, das coisas que ele falava dela pelas costas, de como zombava dela. Ela só queria olhar nos olhos
dele e ver que ele fora mesmo cruel com ela de propósito. E mesmo que não tivesse dito aquelas coisas com a intenção de magoá-la, de humilhá-la, de ridicularizá-la,
ele as dissera. As dissera e todos que estavam lá naquele momento, ouviram a voz dele zombando dela, se divertindo as suas custas. Agora, ela queria ouvir dele
um pedido de desculpas. E Thiago di Angelis duvidava que ela fosse conseguir isso com tanta facilidade.
Mesmo porque ele até já o tinha feito. Por que faria isso outra vez?
Quando ele lhe pedira perdão, há cinco anos, lá na Europa, ela não quis ouvi-lo. E se preocupava. Ele não conhecia muito bem a Lucas Chevalier,
porém, não o tinha em boa conta. Se um homem assume um namoro com uma garota e fala mal dela para sua amante... O que pensar de alguém assim?
Isso não era uma atitude de um homem de bem. Por isso, aquele Lucas Chevalier não lhe descia muito bem, não passava de um cafajeste, de um mal caráter. Infelizmente,
Ana Elisabete o amava. E sabia que nem ela compreendia o que a levara até ali, naquele hotel. Embora ela lhe dissesse que queria ouvir dele um pedido de perdão,
ou em outras horas, que queria saber qual era a verdade, ela queria mesmo era ter a certeza de que Jean Luc era filho de seu amor e que ele a assumisse, assumisse
o filho e que vivessem felizes para sempre. Como duvidava do caráter de Lucas, não via a menor chance daquilo acontecer.
Na verdade, nem o fato de Lucas ter ido atrás de Ana Elisabete por quase toda a Europa não lhe
atenuava a culpa. Thiago nem conseguia compreender a razão pela qual ele procurara por
Ana
Elisabete, mas tinha certeza que não era por amor a ela. Acreditava que Lucas queria vingar-se dela
por causa daquela histórias das fotos onde ela estava nua com outro homem. Mas a paixão
doentia que Ana Elisabete cultivara por aquele homem durante esses cinco anos, mostrava a ele que ela não sabia mais
como agir. Se perdera naquele desejo que a consumia e não a deixava raciocinar com clareza. O chato para Thiago era reconhecer a fragilidade de Ana Elisabete, que,
embora
fosse uma mulher adulta, admirada, invejada e desejada por milhares de homens, ela, no íntimo, não passava de uma garotinha assustada diante daquele mundo que se
rendia a seus pés.
- E Jean luc? Está tudo bem com ele?
- Fique tranquila. Se algo estivesse errado, Janaína já teria entrado em contato conosco. Está tudo correndo bem. Exceto essa sua vontade de querer ouvir explicações
daquele homem. Devia esquecer essa história. Ele falou um monte de idiotices, não falou? De que lhe servirá ouvir dele alguma explicação agora? Você já o perdoou
que eu sei. Está se enganando, isso sim.
- Você sempre vem com a mesma ladainha.
- Aceite a verdade, Ana Elisabete. Você quer que ele lhe peça desculpas para depois cair nos braços dele.
- Não fale bobagens! Ele pode estar casado... Bem casado... E muito apaixonado por alguém... Aquelas palavras doíam demais. Queria que ele ainda estivesse só
e pensando nela. Mas sabia que era impossível. Ele era lindo demais para ficar só.
E, além disso, quando foi que ele pensara nela?
- Pelo jeito que as coisas vão por aqui, vai ser impossível passear com Jean Luc em algum lugar. - Disse ela mudando de assunto. - No Canadá sair com ele era
brincadeira... Pelo menos onde eu morava.
- Lá você podia passear com o Jean luc tranquilamente nas ruas próximas a sua casa... Mesmo porque não havia viva alma em milhas e milhas de distância. Seu vizinho
mais próximo estava em Marte. Em volta só havia gelo e mais gelo!
- Viu só? Foi por isso que aquela multidão no aeroporto me assustou. Será que não vou poder passear com meu filho por aqui sem ser incomodada por um fã ou por
repórteres?
- Bem... Se não der certo, a gente volta para o Canadá. Mas digo de antemão que nem pode pensar em ir à praia com seu filho. Pode esquecer qualquer aproximação
com ele, exceto no quarto do hotel.
- Meu lugar é aqui, Thiago, e é aqui que eu vou ficar. Encontrarei um meio de resolver
todos esses problemas!
saguão, pois necessitava fugir da multidão enfurecida que a aguardava do lado de fora do hotel. Era
uma luta de vida e morte, e, naquele momento, não podia perder tempo preocupada
se Lucas Chevalier estaria na recepção ou não. Lá dentro, com bastante calma, pararia para pensar. Mas torcia
freneticamente para vê-lo. Tinha saudades. E ela só podia ser uma louca para sentir saudades e ter
vontade de ver aquele homem! Era louca! Thiago tinha razão. Era louca por Lucas! Voltara por ele. E
seria maravilhoso se pudesse estar voltando para ele!
"Louca! Sou uma louca idiota e burra! Ele vai me destruir! Outra vez ele vai me destruir
e eu vou acabar contribuindo para a minha própria destruição!" Pensou desanimada e decepcionada consigo mesma. Era uma tola idiota.
Nada tinha de diferente da pamonha que ele trouxera de Minas Gerais! "E, dessa vez, não
poderei colocar a culpa nele, pois agora eu sei como ele é, sei do que ele é capaz. E tenho
certeza de que vai fazer comigo, tudo o que fez antes. Vai me humilhar, vai rir do meu amor.
Com toda a certeza, o dinheiro, a fama, o sucesso, todas as coisas que conquistei, para ele
nada significam, especialmente quando chegar o momento em que ele vai acabar de destruir
aquilo que ele começou há cinco anos! Oh, meu bom Deus! Me dê forças para suportar esse
martírio!"
Porém, ao entrar no hotel e se sentir um pouco segura, levantou os olhos a procura de Thiago e
empalideceu ao ver o reluzente rosto de Lucas e o jeito descontraído de seu pai. Por alguns
seu pai, de quem nunca se separara e que há cinco anos não via. E, entre tantos motivos que
contribuíram para aquela distância, um deles a ajudara terrivelmente: Estava para nascer
alguém que colocasse seu pai dentro de um avião. E isso a auxiliara enormemente ! Não tivera
mesmo a intenção de ficar cara a cara com ele! Como explicaria Jean Luc?
Ali estavam os dois homens de quem mais sentira saudades durante aqele tempo. Os dois eram
altos. Os dois eram atléticos. Relutou um pouco em olhar para Lucas Chevalier. Não conseguira.
Ele estava mais lindo do que nunca. Muito bronzeado, seus olhos verdes e penetrantes brilhavam de um jeito estranho. Será que a odiava? Parecia que sim. Ela, mesmo
distante, conseguia ver nele uma ruga de mau-humor, de desaprovação. Percebera em segundos, que ele não a queria ali, que não gostava da presença dela em seu hotel.
Melhor assim. Ela precisava mesmo arrancá-lo de seu coração. E ela sabia que ia doer. Mas precisava passar por aquilo para poder seguir sua vida em paz.
"Mãe do céu morena! Como é lindo!"
Encontrara de cara com seu pai que a esperava. Abraçou-o saudosa. Fazia cinco anos que não via seu pai. Quase chorou ao vê-lo. Só não o fez porque não queria
abrir aquela represa de emoções. Tudo deveria manter-se guardado, preso, contido. Sabia que se chorasse ao abraçar seu pai, essa emoção acabaria encontrando eco
em outras e outras que ela mantinha bem escondidas lá no fundo de sua alma.
- Minha filha! Seu pai não aguentava mais de tantas saudades! Você foi embora do Brasil tão depressa, sem nenhuma explicação. As lágrimas no rosto de seu pai
era um perfeito convite para que as suas também chegassem. Seu auto controle estava ameaçado. Precisava urgentemente que Thiago a salvasse.
- Foi o contrato papai. Foi o contrato. Eu assinei um contrato e quando fui saber direitinho, teria que viajar no dia seguinte... – Ela falava quase em desespero.
Onde estaria Thiago? - Eu já lhe expliquei isso inúmeras vezes, papai. Sempre nos falamos por
telefone, pela internet. Por que está perguntando essas coisas agora? Sabe que tive que ir.
Sabe o que aconteceu!
- Ora papai, estou de volta, não estou?
Ela parou um instante e olhou em volta. Fora ali que tudo começara. Fora ali que seu mundo despencara. Fora ali que ela conhecera o amor. E fora ali que ela
foi apunhalada pelas costas.
Precisava estar ali. Precisava exorcizar seu passado para tentar seguir adiante.
- Como fora bobinha, cheia de sonhos, cheia de paixão.
Lucas Chevalier continuava no mesmo lugar. Não se movera. Parecia estático, emburrado. Estava de pé, perto do balcão da recepção a observá-la.
Alto e impressionante com aqueles ombros largos, aquela beleza enganadoramente serena, aqueles olhos verdes,
aquelas pernas musculosas e longas! Estava lá, encostado no balcão sem tirar os olhos dela,
com os braços preguiçosamente cruzados! Como podia ser tão bonito? Agora, depois de tantos anos, parecia ainda
mais encantador! Seu rosto parecia mais forte! Seus traços pareciam mais definidos! E parecia
ter perdido aquele jeito debochado, aquele sorriso sempre cínico e desprovido de preocupações.
Se ele não demonstrasse estar um tanto enfurecido, diria que se tornara um homem sério! Ah!
Isso era impossível! Era mais fácil nascer cabelo em ovo do que Lucas Chevalier transformar-se
num homem sério! E, por falar em cabelos, aida se lembrava, como se tivesse acontecido há
pouco minutos, de como se agarrava aqueles cabelos escuros e fartos na hora em que faziam
amor.
"Mãe do céu morena! Tenho que espantar essas lembranças de minha mente!"
Não podia entregar-se as coisas boas que aconteceram. Caso contrário, nunca teria
respeito por si mesma. Aquele homem a magoara e a humilhara diante de muitas pessoas. Não
poderia esquecer a vergonha pela qual passara! Não podia e não devia esquecer!
Ele estava vindo em sua direção e ela pediu aos céus que algo acontecesse.
Thiago de Angelis, nesse instante, adiantou-se até ela e a beijou de leve na testa, barrando o caminho que Lucas estava percorrendo..
- Vamos subir, querida? Parece tão cansada! Já resolvi tudo aqui na recepção. Vamos? Thiago lhe dera um abraço e um beijo de amigo. Estava acostumado a fazer
aquele gesto sempre que notava que ela estava apreensiva. Mas sabia que seria interpretado de outra maneira por qualquer um que estivesse ali. Até mesmo por Conrado.
- Vamos sim. - Olhava para os próprios sapatos tentando, furtivamente, descobrir a que distância Lucas Chevalier estava dela. Precisava fica longe dele. Havia
emoções demais ali. Há cinco anos que não via o pai. Nunca havia se afastado dele, exceto no horário de aula e nas horas em que estava dormindo. Ver o pai já lhe
bagunçara as emoções. Tocar em Lucas, cumprimentá-lo, falar com ele, estava fora de cogitação.
Até que enfim, o alívio. Tocou no braço de Thiago com uma delicadeza estudada. Naquele
momento, precisava mais de Thiago do que do próprio ar. Se ele a deixasse sozinha ali, naquele
instante, sairia gritando ou, simplesmente desmaiaria! Thiago era o seu porto seguro e sem ele
não poderia viver. Não tinha condições de viver sem aquela tábua salvadora naquele mar por
onde navegava e do qual não tinha a menor idéia de para onde seguia. O que faria agora? Como
viveria sua vida a partir daquele ponto? Se, nem ao menos conseguia olhar na direção de Lucas
Chevalier, como iria vingar-se dele, olhar nos olhos dele e despejar tudo o rancor que sentia
em seu primido peito? Nada estava funcionando com esperara! Por que as coisas que pareciam tão
simples, as decisões que pareciam tão acertadas, agora nada significavam? Na verdade, só
queria poder cair nos braços dele e pedir perdão! "Olha só quanta idiotice!" Ela não tinha do
que pedir perdão! Fora ele quem a humilhara, abandonara e destruíra! Por que as mulheres eram
tão fracas? Fracas, não era bem o termo! As mulheres eram pateticamente imbecis!
- Deixe-me apresentar-lhe Thiago di Angelis, papai. - Disse ela num tom estudado. Se acostumara a procurar repórteres escondidos onde quer que fosse. Temia
que seu pai fizesse algum comentário sem prestar
atenção ao que dizia. Era muito difícil se acostumar a ser vigiado o tempo todo, a ter todos os seus mais bobos comentários distorcidos.
- Oh, muito prazer. Ana Elisabete falava tudo a seu respeito. Ela me enviou muitas fotos também... - E
abaixando bem a voz. Eu vi as fotos do meu neto. Não vejo a hora de conhecê-lo. Ele não veio
com você? Só fiquei sabendo da existência dele há poucas horas! Estou ansioso para
conhecê-lo! Por que minha filha escondeu o menino de mim? - Seu pai, como todo mundo, acreditava que Thiago era realmente o marido de
Anna Elis. Toda a imprensa dizia isso. E, conhecendo seu pai do jeito que ela conhecia, ele acreditaria que qualquer um fosse o seu marido, especialmente quando
Ana Elisabete
lhe dissera por telefone que estava retornando ao Brasil e que levava um neto na bagagem, para ele.
Na verdade, dera-lhe a notícia a conta-gotas. Primeiro disse que estava retornando.
Quinze dias depois, deixou que ele pensasse que o tal Thiago de Angelis era mesmo o seu
marido, pois quando Conrado lhe perguntara, mudou deliberadamente de assunto. E, na noite
anterior, quando seu filho já deveria estar confortavelmente instalado no Chevalier Hotel,
ela contara ao pai sobre a existência do menino. Porém, dissera-lhe apenas que o menino tinha
pouco mais de quatro anos. Nada mais.. Contudo, pedira-lhe sigilo absoluto.
- Ele está aqui desde ontem. Não poderíamos vir no mesmo vôo. Embora eu não imaginasse que ia haver tanta confusão de fãs e repórteres, Jean Luc fica muito assustado
com multidões. Além disso, ninguém por enquanto, pode saber da existência dele. Pelo menos, não agora.
Ela cochichava com o pai. No entanto, pelo canto dos olhos, observava os movimentos de
Lucas.
Thiago, que já pegara as chaves na recepção, abraçava-a carinhosamente enquanto se dirigiam para o elevador, justamente onde Lucas Chevalier se encontrava agora,
displicentemente, encostado à parede, com os pés cruzados a altura dos tornozelos, com as mãos enfiadas nos bolsos. Ela iria passar perto dele e seu coração começou
abater mais forte.
Para piorar, seu pai foi abraçar Lucas e contar-lhe que estava imensamente feliz pois sua filha voltara depois de cinco anos.
E, abraçado a Lucas Chevalier, encaminhou o rapaz para cumprimentar sua filha, já que fora ele o responsável por ela ser agora uma estrela de fama internacional.
Num relance ela o olhou e viu que ele tinha uma das sobrancelhas arqueada. Ela voltou rapidamente a olhar para o bico de seus sapatos.
Não confiava em seus próprios olhos. Eles a trairiam sem demora. Qualquer um veria o desejo escrito em seu rosto, de abraçar aquele homem
e a dor por não poder fazê-lo. Como tirar de seu rosto aquela expressão apaixonada que ela
tinha certeza de que era de fácil reconhecimento? Precisava fazer uma cara de antipatia e puro
ódio para ele! "Bom Deus! Já estrelara vários filmes e revebera excelentes críticas! Como não
conseguia demonstrar, ao menos um desinteresse por aquele homem que lhe destruíra a alma? Só
podia ser masoquista! Devia amar se sentir uma mártir! Como não conseguia odiar alguém que lhe
fizera passar noites e noites banhada em lágrimas? Odeio a mim mesma!"
Manter os olhos fixos no chão era uma boa estratégia. Precisava admirar a cor de seus sapatos,
prestar atenção ao modelo, de como se ajustavam aos pés. Onde os comprara mesmo? Quando? Será
que tinha em outras cores? Mas não adiantava. Por que ele a olhara daquele jeito? Ouvira o pai
falar de Jean Luc?
- E sei que desde que ela foi correr o mundo você também não a viu mais. - E muito satisfeito, Conrado, o pai de Ana Elisabete falava entusiasmado, sem perceber
que Ana Elisabete, Thiago e Lucas, estavam terrivelmente sem graça e sem chão.
Ela não queria nem ao menos apertar-lhe as mãos. Um simples toque como esse poderia incendiá-la. Como fazer seu pai ficar quieto e deixá-la desaparecer dali?
Viu o reprovador olhar de Thiago como a dizer-lhe que ela deveria estar consciente daquela proximidade. E ela estava. Só que ficar tão próximo de Lucas Chevalier,
deixavam-na sem fôlego.
- Papai, preciso subir, estou muito cansada. Depois a gente se fala.
- Tentava sair dali o mais rápido possível. Por que, quando tomara a decisão de retornar ao Brasil, quando decidira se hospedar no hotel daquele homem, as coisas
pareciam bem mais fáceis?
- Mas não vai dar um abraço em Lucas? Você precisava ver como ele ficou triste quando você foi embora... - Insistia seu pai, para o seu desespero. Aquilo não
ia acabar nunca?
- Eu acredito que sim, papai, também fiquei triste, mas tinha que ir, não é? - Por que seu pai tinha que ser tão cabeça dura?
Lucas Chevalier a olhava intensamente. Seus olhos iam dos olhos de Ana Elisabete e parava em sua boca. Olhava com tanto desejo e com tanta intensidade, que Thiago
teve que manifestar seu lado macho e dar um
basta naquele descarado.
- Senhor, com licença, nós precisamos passar e o senhor está...
- Ah, desculpem... É que... Faz tanto tempo que não nos vemos que fiquei emocionado. - Disse Lucas Chevalier parado bem a sua frente. Não parava de olhá-la daquele
jeito que a enlouquecera tantas vezes. Porém ela sabia que aquele olhar era pura enganação. Mas, algo estranho acontecera ali. Sua voz tremera? Ana Elisabete tivera
essa impressão, contudo, logo descartou a idéia. Deveria estar louco para usá-la outra vez e descartá-la como já fizera antes. Ou rir dela, quem sabe o que aquela
mente monstruosa poderia estar maquinando contra ela?
Por fim, parecia que o pai de Ana Elisabete compreendera que não haveria abraços ali pois seu genro, um rapaz
moreno e grandalhão, muito mal-humorado, deixava transparecer claramente os seus ciúmes.
E Ana Elisabete, seu pai e Thiago, finalmente entraram no elevador.
Lá dentro, separada daquele homem pela porta de aço, Ana Elisabete respirou aliviada.
- Quase tive um troço! - Falou meio sem ar, esquecida de que seu pai estava ali. Aninhou-se nos imensos braços de Thiago e enterrou a cabeça em seu peito, esforçando
o mais que podia para que as lágrimas não
rolassem por seu rosto.
- O que aconteceu entre você e o Lucas, minha filha? Há algo que não tenha me contado? Seja lá o que for, eu preciso saber, você não acha? -
Conrado não se dava conta de que Thiago poderia não estar gostando daquela conversa. Ao ver o embaraço da filha, calou-se, por fim.
Felizmente a porta do elevador se abriu e Ana Elisabete fingiu estar entertida em achar a sua suíte.
Encontraram, entraram e ela, ainda querendo fugir às perguntas do pai, pediu a Thiago que fosse buscar seu filho para que seu pai pudesse conhecer o neto.
Ao ficar à sós, seu pai a observava com curiosidade, terrivelmente intrigado.
Por sorte, Jean luc entrou pulando dos braços de Thiago para os braços da mãe.
Vou te apresentar o seu vovô. E levou o garoto até onde Conrado estava a observar encantado aquela criança alvoroçada. Abraçaram-se.
- Você é meu vovô e a mamãe disse que na sua casa tem um montão de árvores e passarinhos... - E pulou carinhoso para os braços do avô a quem acabara de conhecer.
- Eu sei falar com as plantas e com os bichos, sabia, vovô? Igualzinho a você!
Romances no Rio 3 - A voz do coração - romance sensual
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Romances no Rio 3 - A voz do coração - romance sensual
aiiiiiii lindooooooooooooo amei todos o lucas a anna e o livro muiiiiiito maravilhosos
ResponderExcluirmuito muito obrigada de coraçao de verdade
amo voce imensuradamente
aninha