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Série Cowboys do Vale 11 - Com os olhos do coração


Resumo: Eles eram tão diferentes como água e óleo. E ela acabara de ser abandonada pelo marido, deixada pra trás com quatro filhos pequenos e sem ter aonde cair
morta! Fora trocada pela amiga! Ele era a celebridade da cidade. Adorado, mimado, querido e egoísta até o último fio de cabelo. Vaidoso, não podia ver um espelho
que esquecia da vida para se admirar. E, como se nada disso bastasse, ele só admirava mulheres perfeitas e belas! Tão lindas quanto ele! E ele a achara feia e gorda!
E ela precisava da ajuda dele! Ela e as quatro crianças! Iria ele estender a mão para aquela mulher e seus quatro filhos?

capitulo 1

        Tavinho tornou a olhar pela porta um tanto aborrecido. Onde estava Adriano Salviati que até aquela hora não aparecera? Ia furar o acordo? A esposa não o
deixara levá-lo ao rodeio?
     


   E, enquanto esperava o amigo, não resistia ao espelho colocado perto da porta, o que, a todo momento chamava a sua atenção. Ele não conseguia resistir a
sua imagem num espelho. Olhava-se por todos os ângulos possíveis e, logo depois, voltava a se irritar pela demora do amigo.
        - Ah! que droga ter que andar com essas muletas!
        Estava com um humor terrível, algo que quase nunca lhe ocorria. Era difícil olhar para ele e não vê-lo sorrindo. Era um rapaz feliz em todos os sentidos.
E o fato de estar agora um tanto impossibilitado de caminhar normalmente não ia tirar-lhe o bom humor. Exceto se Adriano não surgisse em sua porta nos próximos
sessenta
segundos!
        Mal pensara nisso e a campainha soou, para o alívio de Tavinho.
        - Puxa! Demorou, hein?
        - Consegue imaginar o tamanho da tromba de minha mulher? Ela não queria que eu o levasse ao rodeio. Disse que vai estar lá antes que eu e você cheguemos.
E disse mais. que se eu olhar para os lados, vou me tornar um eunuco, um homem totalmente incapacitado.
        Tavinho riu.         

        - Ela será a mais prejudicada!
        - Não quero saber quem será mais prejudicado. Não quero perder meu... Hã... Você sabe o que.
        Tavinho riu divertido mas não conseguiu evitar de se olhar no espelho que ficava estrategicamente perto da porta de entrada, já que nunca conseguia sair  

de casa sem dar uma última olhadinha em sua figura. E não gostou do que viu. E amaldiçoou as muletas!
   

     Infelizmente, o simpático Gustavo Ribeiro era um ser muito apaixonado por si mesmo e pela própria imagem. Ao ser atropelado, meses antes, entrara numa terrível
depressão ao ouvir o médico lhe dizer que talvez não pudesse mais andar. Chegara mesmo a pensar em acabar com a própria vida pois não podia se imaginar sem poder
se locomover, paquerar as garotas por onde quer que fosse e nem mesmo fazer amor de uma maneira não convencional.
        Era vaidoso demais para ficar paralítico! Como ia fazer para mostrar a mulherada o quanto seu corpo era perfeito?
        Talvez, Deus, em sua infinita brandura achou que não valia muito a pena dar uma lição daquelas ao superficial Tavinho. Se a paralisia podia ser uma espécie 

de ensinamento para algumas pessoas compreenderem  o real significado de sua existência no mundo, isso nada serviria para aquele tão fútil  e despreocupado rapaz.
Tavinho não conseguiria ver nada além de seu próprio umbigo! Nenhuma lição de vida o faria ver que viver era algo mais que se admirar, comprar roupas e cuidar da
pele e da musculatura de seu corpo.
        Sua irmã Joana, por vezes pedia aos céus que seu irmão aprendesse que a vida não consistia apenas naquilo que as aparências podiam mostrar ao mundo. Mas
quem seria capaz de fazer com que Gustavo Ribeiro olhasse para as outras pessoas e percebesse nelas algo mais que um cabelos sedoso, um corpo perfeito, roupas da
moda e todas aquelas outras coisas que mulheres e homens gostavam tanto de mostrar aos demais como uma boca sensual, unhas bem tratadas e pele de cetim!
        E Tavinho ainda tinha um outro agravante, na opinião de sua irmã. Mulher, para ele, tinha que ser deslumbrante! De tirar o fôlego! Com as roupas certas!    

Elegante e sofisticada! Cheia de charme! Rosto hollywoodiano! Magras e longilíneas! Com cabelos de veludo! Com saltos altíssimos! Para ele, cada detalhe da figura 


feminina, contava!
        Mesmo se equilibrando com dificuldades sobre suas muletas, Tavinho olhou-se de frente, de lado, admirou seus ombros largos, sua barriguinha reta, seu rosto
bonito, seus cabelos sem um fio fora do lugar, suas roupas dentro da moda!
        - É chato ser bonito e gostoso! - Disse para o amigo.
        - É muito mais chato ser chato! - Adriano devolveu sorrindo pois sabia o quanto seu amigo era vaidoso e se achava um presente de Deus para a humanidade.
        Olhou-se quase com satisfação, mas as muletas que tinha que carregar consigo o deixavam um pouco desanimado.
        - Deixe de ser tonto! - Adriano reclamou. - Você agora pode andar. Não vai ficar paralítico. E essas muletas em breve não farão mais parte de sua vida!
Agradeça
a Deus por isso!
        Tavinho olhou o amigo e se lembrou das coisas ruins pelas quais Adriano já tivera que passar e acabou por dar razão ao amigo. Era certo que se considerava
irresistível e que ficar paralítico era algo que o amedrontara terrivelmente. Mas não queria passar, de forma alguma, pelas tormentas que Adriano já tivera que
enfrentar 

em sua vida. Suspirou ao se lembrar de sua irmã Joana e de seus pais. Também já sofrera bastante. Não era tão vazio como as pessoas pensavam. Mas precisava fugir 

da dor. E admirar a si mesmo fora uma boa maneira de se afastar do sofrimento. Enquanto algumas pessoas se viciavam em drogas, tornavam-se violentas, viciadas em
trabalho ou coisas do gênero, ele aprendera a aproveitar cada momento que a vida lhe desse. E como ele aproveitava a vida? Fazendo amor com as mais belas mulheres
que podia encontrar em seu caminho. E, como beleza atraía beleza, ele gostava de estar sempre em perfeita sintonia com as beldades com as quais se deitava.
    

    - Vamos logo e deixe de conversa boba. Quero ver as garotas que vão competir na prova dos tambores. A filha de Evelyn vai concorrer... Adoro ver uma bela
mulher montada em um cavalo! E competindo com outras belas mulheres!
        - Ela não é muito criança para você? Ela nem deve ter completado os dezoito ainda. E o Pedro e o Oliver arrancam suas partes e te deixam tão eunuco como
minha mulher me deixaria se eu olhasse para os lados estando em sua companhia!
        - Não estou de olho na Raíssa, não! Com tantas garotas que vão competir acha que vou ficar de olho numa pirralha. Menininhas ingênuas e puras não fazem
o
meu gênero. Gosto de mulheres! Gosto de ter uma mulher experiente embaixo de mim! Daquelas que sabem muito bem o que estão fazendo! Acha mesmo que quero ver a prova
dos três tambores por causa daquela ninfeta sobrinha do Oliver e enteada do Pedro? Puxa! Eu gosto de mulher de verdade!
        Adriano ia perguntar se era isso que ele pensava quando dera em cima de Beatriz mas preferiu calar-se. Aquelas paqueras de Tavinho com a mulher que se tornara
sua esposa eram coisas do passado. Tavinho, desde que Bia ficara com ele, Nunca mais olhara para ela. E quando se encontravam, tratavam-se como irmãos. Não tinha
ciúmes de seu amigo embora sua mulher não gostasse muito que ele andasse com Tavinho pois o amigo era uma má influência para qualquer homem casado! Aliás, nenhuma
esposa via com bons olhos a aproximação de Tavinho! Ele era um perigo constante para casamentos não muito estáveis! Não que fosse cantar a mulher alheia. Longe
disso!                                                                       


Mas para Tavinho, não custava nada para fazer um marido um tanto entediado admirar e até desejar outras mulheres! Dizia que tinha pena de seus amigos casados por
terem que aturar uma única mulher para o resto da vida sem poder variar o cardápio! Assim, todas as esposas corriam com ele quando ele dava o ar de sua graça! Quem
ficaria tranquila ao ver seu marido conversando com aquele homem que tinha tantas conquistas que mais parecia ser dono de um harém?
        Mas Adriano gostava muito do amigo. E quem não gostava?
      

  Mas Tavinho era o melhor amigo de Adriano. Era uma pena que ainda estivesse solteiro. Se ele se casasse, com uma mulher bacana, claro, poderiam estreitar
ainda mais os laços que haviam entre eles. Mas nem conseguia imaginar seu amigo se amarrando. Não com aquela quantidade estonteante de mulheres dando em cima dele!
E quem podia garantir que se Tavinho se casasse um dia, seria fiel? Aquele camarada gostava demais de mulher! Um pouco além da conta!

        - A Andreza, a Priscila, a Camila e a Fabiana vão competir também. Sabe, né? Eu e elas... Bem... Vai ser difícil torcer por uma só. Vai dar briga.

        - Então era melhor que você não fosse.
        - Vou sim. Por isso vou torcer por Raíssa. É filha do Pedro, é sobrinha de Oliver e aí não vai dar problema algum. Ela é ainda muito menininha! E tenho
certeza
que sua mulher e todo aquele bando de amigas, vão torcer por Raíssa!
        - Não se esqueça que nesse bando de mulheres do qual você fala, vai estar sua irmã.
        - E a sua também!
        Riram e se dirigiram para a caminhonete de Adriano.
        - Todas vão estar lá torcendo por Raíssa menos a Angel...
        - Sabia que a  Angel não comparece nas festas de peão  por que ela é contra? Diz que é uma violência com tudo o que fazem com os  animais nas provas de
um
rodeio. Ela acha que  os bichos são muito sacrificados!
        - A Angel até conseguiu, segundo minha irmã me contou, que o doutor Reys, aquele bebum que fumava mil cigarros por dia, se tornasse vegetariano! O que você
quer mais?
        - Eu também soube disso! Ela acha um absurdo uma pessoa matar um bicho inocente para comer quando os humanos nem são carnívoros!
        - É... A Angel é uma sonhadora. Acabar com os rodeios é algo impensável nessas cidadezinhas do interior. É a única festa que o povo tem por aqui! Só precisam
encontrar um meio de não maltratarem tanto os animais! E como os vaqueiros vão se divertir? Não tem mais nada para fazerem além de mostrar o quanto são bons em
cima 

de um cavalo ou de um touro brabo!

        - A prova dos três tambores também sacrifica os animais? - Perguntou aflito provocando um sorriso em Adriano. - Não consigo imaginar aquelas belíssimas
mulheres
maltratando aqueles cavalos enormes! Isso até parece uma afronta!
        - Cara! você não tem mesmo jeito!
        Riram divertidos. Duas pessoas tão diferentes uma da outra. Nem dava para acreditar que eram amigos.
        - Não vejo a hora de poder subir numa moto outra vez! - Tavinho reclamou. - Adoro aquela sensação de liberdade, de correr pelos campos, de correr na chuva...
        - Quase morreu com a sua, esqueceu? Acho esse negócio de moto um troço muito arriscado. O piloto não tem proteção alguma! E quer voltar a andar de moto
outra
vez?
        - A culpa foi daquele filho da puta! Quase me matou. Deu uma trombada na minha moto que me jogou longe. E, quando o patife percebeu que eu caíra na frente
do carro dele, passou por cima de mim! Por sorte não morri. Mas quase fiquei paralítico! E amarguei dores terríveis nesses quatro meses! Foi um milagre que eu voltasse
a andar! É um maldito filho da puta!
        - O que você queria? O homem estava fugindo de um marido brabo! Ele roubou o dinheiro do caixa da loja do marido da Nathália e, ainda por cima, estava fugindo
com ela! A culpa foi sua por ter virado a esquina na maior velocidade! Ele não tinha como frear para evitar te atropelar! Sabe bem disso!
        - Eu nem estava correndo! Quem corria era ele. E fugiu sem me prestar socorro!
        - Se ele tivesse parado para te socorrer, o marido da Nathália acabava com ele! Era ele ou você! E olhe que ainda teve sorte do marido da Nathália não passar
por cima de você, também!
        - Na verdade, foi o coitado do Vinícius quem me socorreu. Até desistiu de perseguir a mulher dele para me prestar o socorro que o infeliz que me atropelou
deixou de prestar!
        Adriano não saberia dizer se Vinícius Fernandes era um coitado mas calou-se. O fato dele ter magoado sua mulher, anos antes não vinha ao caso.
        - É... Ele até desistiu de continuar correndo atrás da safada!
        - Talvez ele tivesse chegado a conclusão de que não valia muito a pena correr atrás da mulher fujona e traidora! E ainda por cima, o casal fujão limpou     


conta bancária do sujeito. E uma das lojas também! Não deixou nem moedas para o troco!
        - Onde você arranjou essa lingua maldosa, Adriano? Nunca foi de falar tão mal assim de alguém! Nem parece meu velho e tranquilo companheiro! Se alguém tinha
que estar irritado com essa história sou eu! Olha só como fiquei estropiado! Para um homem você está me saindo um fofoqueiro de mão cheia, hein?
        - Não sou fofoqueiro! Minha mulher tem um prazer especial em ver o Vinícius quebrar a cara. Sabe que ele é o pai biológico de Bruninha, minha filha. A Bia
adora quando as coisas dão errado para ele.
        - Sei... E você não fica incomodado? Não sente ciúmes?
        - Do Vinícius? Nem um pouquinho. Ele vive se dando mal. Dá até para acreditar que aqui se faz aqui se paga!
        - Não acredita nisso? que o castigo vem a jato?
        - Se todas as vezes que uma pessoa fizesse algo errado ela fosse realmente devidamente castigada de alguma forma, ninguém cometeria nenhum ato vil, por
menor
que fosse! Todos saberiam que se pisasse na bola seriam recompensados com algo da mesma espécie. Aí, todo mundo ia querer fazer o bem para poder se dar melhor ainda.
O chato é que fazendo o bem ou o mal, dá tudo na mesma. As pessoas se enganam achando que se forem boazinhas, Deus as recompensará e se fizeram alguma maldade serão
castigadas! Balelas!
        Tavinho deu de ombros. Se fosse pagar por cada lágrima que já vira uma mulher chorar por ele, estava frito! Mas não ia se preocupar muito com aquilo pois
para eles as mulheres choravam lágrimas de crocodilo!
        - E a mulher do cara que te atropelou? Conhece-a? - Adriano perguntou de repente.
        - Nunca vi mais gorda! E me disseram que é uma tremenda baranga e de barangas eu estou correndo!    


        - Deixe de ser besta! Estou falando sério! Se o camarada que te atropelou sacaneou o Vinícius, imagina o que fez com a própria esposa. Abandonou-a sem um
tostão e com quatro filhos!
        

- Não quero saber dessa gentália! - Tavinho deu de ombros! - Só quero esquecer as dores que padeci por causa daquele miserável! Se eu o visse na minha frente
era capaz de acabar com ele!
        - Imagine o que a mulher dele abandonada então tem vontade de fazer! E com quatro filhos pequeno!
        - A tal de Ivana?
        - Tem certeza de que não a conhece?
        - Eu não quis manter contato com essa gente! Tava cheio de ódio por que acreditava que ia ficar paralítico!
        - Mas a mulher abandonada do camarada não tem culpa!
        - É claro que tem! Uma mulher deve saber manter seu homem satisfeito Se ela tivesse sido uma boa mulher para ele, o camarada não ia precisar de outra para
fazê-lo feliz!
        - Você está simplificando as coisas! Nada é tão simples como parece...
        - E o que eu tenho com isso? Não me interessa saber das mazelas dos outros. Já tenho meus próprios problemas para me aborrecerem!
        - Não sente pena da tal Ivana?                  

        - E por que eu sentiria?

        - A mulher tem quatro filhos e agora não tem onde cair morta! Não tem nem mesmo uma pensão para ajudá-la a cuidar dos filhos!
        - E o que isso me importa? Na cidade tem aquele grupo de mulheres que vivem auxiliando as outras... Aquele lá que a Fernanda cuida... Que levem a tal mulher
idiota pra lá... Aliás, segundo me consta, ela fazia parte desse grupo, não? O tal de AMOVIVER?
        - Cara... Você é uma incógnita! Todos dizem o quanto você é bonzinho, amável, afetuoso... E fala dessa maneira de uma pessoa que precisa de ajuda!
        - Eu não sou anjo da guarda de ninguém. Além do mais, está se esquecendo que o marido dessa aí me atropelou?
        Adriano se deu por vencido e encolheu os ombros.
        - Conhece a Andreza? - Tavinho não queria pensar em coisas sérias. Em seu mundo só havia lugar para a diversão, para momentos felizes.
        - Não. - Adriano respondeu um tanto irritado com a futilidade do amigo.
        - Sério? Aquela deusa de cabelos vermelhos? Quando entra na arena para competir os homens ficam babando!
        - Não sei quem ela é.
        - E a Priscila? Aquela morena de parar o trânsito?
        - Também não.
        - Camila? Ela é lindinha. Tem cabelos negros e lisinhos como seda. Quando está em cima de um cavalo só consigo pensar em... Sexo!
        - Também não a conheço.
        - E Fabiana? Loura! Um metro e setenta! Uma cavala! Linda!
        - Nunca ouvi falar.

        - Você não conhece essas beldades de Vila Verde?

        - Não... - Adriano disse simplesmente enquanto dirigia para o parque de exposições.
        - Não pode ser possível! Ficou cego depois que se casou. Ou será que morreu para o mundo?
        - Não morri e nem estou cego! Caso contrário como poderia estar dirigindo para você?
        - Como explica que não conhece essas mulheres lindas das quais acabei de lhe falar?
        - Ora essa! Não as conheço e é só! É um crime não conhecer todas as mulheres de Vila Verde?
        - Não estou falando de todas as mulheres! Estou falando das lindas! Das mulheres bonitas! Daquelas que tem um corpo perfeito, desenhado milímetro a milímetro
para o pecado!
        - Então, nesse caso, eu deveria ficar o mais longe dessas aí, né?
        - Nunca vou me casar. Homens casados não tem vida! Acho que se eu chegasse a me casar ia chifrar minha esposa, não ia conseguir ser fiel por mais de um
dia.
As tentações são tantas! Tem mulher gostosa demais por aí para que eu me sinta preso a uma somente!                            

        - Quando você se apaixonar de verdade, não vai querer ter outra pessoa em sua vida!


        - Besteira! Nunca vou conseguir me apaixonar. A cada dia eu conheço uma mulher deliciosa e fico doidinho para prová-la. Mas é só curiosidade. No fundo todas
são iguais! Mas gosto de variar. Um dia, morenas, no outro, ruivas, depois, louras e adiante, mulatas! Mulher é muito bom. Ainda mais quando vem em cores, tamanhos,
formas e cheiros variados! Só de pensar fico doido!
        Adriano riu.
        - Ah, Tavinho... Você não tem jeito! Está aí todo estropiado mas não esquece a mulherada!
        - Ora essa! Eu não tô morto! E adoro mulher! Queria ser um sheike só para poder ter umas duzentas!
        - Não ia dar conta de todas elas.
        - Mas morreria tentando... Por outro lado, você parece que ficou cego depois que se casou com Beatriz. Não vê mais mulher nenhuma!
        - Prefiro parecer ser cego do que morrer sem minhas bolas! Ou algo mais!
        Chegaram na arena e o lugar estava lotado. Não demorou dois segundos e Tavinho estava rodeados de belas mulheres para o desespero de Adriano que olhava
em
volta e por cima dos ombros esperando ver Beatriz com um rolo de macarrão a qualquer momento irrompendo entre a multidão. Como ia fazer para largar Tavinho entregue
a todas aquelas mulheres e ficar longe de confusão?
        - Sei que você quer dar o fora. Vá procurar sua mulher, vai! Eu arranjo alguém para me levar para casa! Estou cercado de lindas motoristas, não está vendo?
- Tavinho liberou o amigo de suas responsabilidades para transportá-lo de um lado ao outro.
        Satisfeito, Adriano saiu correndo dali o mais rápido que pode. Mas retornou aonde o Tavinho estava. Afastando-o um pouco das mulheres que o cercavam

, deu-lhe 
as chaves da caminhonete.
        - Vou voltar para casa com minha mulher. A caminhonete vai ficar aqui e como você mora um pouco afastado do centro da cidade, se não for com ela para casa
hoje, pode pegá-la amanhã.
        Tavinho pegou as chaves, colocou-as em seu bolso e agradeceu ao Adriano. Pensou no quanto ficara ansioso para sair de casa, estar com as belas mulheres
mas,
ao mesmo tempo, algo o incomodava. Desde que acordara do coma, algo mudara dentro dele mas ainda não entendia o que era. Mas não ia se preocupar com aquilo naquele 

momento. Era hora de se divertir, de ter uma bela mulher ao seu lado, de satisfazer seus desejos mais primitivos!
        - Se a Bia te bater por que você sumiu a culpa não é minha. Já dispensei você! Tá de olho numa daquelas gatinhas?
        - Nem de brincadeira. Só voltei mesmo para lhe dar as chaves.
        - Tá bom que eu acredito! - Tavinho riu mas era consciente da fidelidade do amigo.
        Adriano se afastou sorrindo e balançando a cabeça como se dissesse que seu amigo não tinha mesmo jeito.
        Com um pouco de sacrifício por causa das muletas, Tavinho conseguiu se sentar num bom lugar na arquibancada para ver algumas provas. Tinha muita mulher
bonita
na prova dos Três tambores e ele estava perdido em meio a tantas mulheres também ao seu redor. Por que ia se preocupar com aquele probleminha de saúde pelo qual
estava passando? Logo voltaria a antiga forma e  não ia precisar de uma carona para sair ou para voltar para casa. Logo estaria em sua moto novinha em folha, pegando
a mulherada que nunca o deixava sozinho. Era só estalar os dedos e aparecia, ao menos, umas três para lhe trazer um pouquinho de consolo!      

        O novo prefeito Crispim estava mesmo arregaçando as mangas da camisa e fazendo com que a cidade recuperasse, através de uma variedade imensa de atividades, 

o brilho que a colocara entre as cidades mais belas daquela região. As cachoeiras, o turismo, o barco do ex prefeito no meio do rio, as pousadas, o Le Mirage, o
campo de golfe, a canoagem e mais um monte de atrações estava fazendo a cidade balançar.
        Naquela semana  a cidade estava sediando uma etapa do campeonato de montaria em touros, prova dos três tambores e rodeio em cavalos na modalidade. cutiano.
No fim da festa, teria, todas as noites, shows, não só com artistas locais como cantores de música sertaneja que estavam fazendo o maior sucesso!
        O povo estava animado. Depois de tanto sofrer com o ex prefeito João Baptista, era compreensível que todos se sentissem mais leves e levassem a diversão
ao pé da letra!
        Estava em seu elemento! Muitos habitantes de Vila Verde, embora o considerassem um perigo para suas filhas e esposas, o adoravam como se ele fosse uma celebridade.
Tavinho era excessivamente carismático e não só as mulheres disputavam o prazer de sua companhia. Muitos moradores fizeram questão de cumprimentá-lo por ele ter
sobrevivido aquele trágico acidente onde o detestado marido de Ivana, uma das quatro fofoqueiras que acompanhavam dona Josepha pelas ruas de Vila Verde fazendo
da 

vida dos outros um verdadeiro inferno,  quase o matara.

        E Tavinho conseguia se divertir mais que qualquer outra pessoa pois sempre achava que a vida lhe sorria. E nem conseguia compreender por que passara por
aquela provação ao ser atingido pelo carro daquele homem em fuga com a mulher de outro! E, depois das dores pelas quais passara, junto com sua irmã Joana, quando
acabaram perdendo os pais e sendo obrigados a fugirem pelo país afora de um louco, achara que nunca mais ia ter que passar por tantas adversidades outra vez.
        Na hora dos shows não se deu por vencido. Cantou todas as músicas sertanejas em alto e bom som como se fosse ele que estivesse no palco. Todavia, começara 

a cair uma chuva e nem todo o espaço destinado ao show era coberto.  Não ia ficar na chuva. Tinha gesso em uma das pernas e, por outro lado, nunca seria reconhecido 

mesmo como cantor. Então resolvera dançar um pouquinho mesmo com as pernas em pandarecos! O local onde o baile estava sendo realizado era coberto e quentinho, uma
gostosura para se esbaldar. E ele se divertia em qualquer situação, não? Ainda mais quando baile pegava fogo e ele, mesmo com dificuldade para se locomover não
saíra
da pista de dança. Quase não se movia por causa dos machucados, mas a cada momento estava agarrado a uma mulher diferente e muito cheirosa, fingindo que estava
dançando.
        Como adorava as mulheres! E se fossem bonitas, então, ficava maluco!
        Entretanto, quando o dia quase amanhecia, não se interessou em levar nenhuma garota para passar o resto da noite com ele. Agradeceu aos céus o fato de Adriano
ter deixado a caminhonete com ele e iria para casa dormir, sonhar com cada uma daquelas mulheres com as quais dançara e cheirara o cangote e na noite seguinte,
quem
sabe...                                                      

        Fora uma dificuldade sair do baile sem carregar uma dúzia de mulheres atrás de si. Mas conseguira chegar ao estacionamento sozinho e se arrastando com as 

muletas. A chuva deixara muitas poças de água no chão e já se formavam alguns lamaçais. Mas estava satisfeito demais consigo e com a vida para reclamar. Afinal,
não ia ficar paralítico! Que importância tinham umas poças dágua e um pouquinho de lama?
        Quando recebera o primeiro diagnóstico de tetraplegia, quis morrer. E nem a visita de Fernanda conseguira levantar seu astral.
        Ela tentara mostrar a ele que ela passara por tudo aquilo e que ainda sofria com as dores e com as sequelas do acidente mas que colocara sua vida a disposição
do bem comum. Mas ele não era esse  tipo de pessoa. Estava se lixando para o bem comum. Queria viver sua vida, sair com os amigos, chapar o coco de vez em quando
e chegar em casa carregado, dormir com as mulheres mais lindas que lhe aparecesse pela frente e não ter compromisso algum com pessoa alguma. Nos fins de semana,
gostava de visitar sua irmã Joana, rolar na grama com seus sobrinhos e durante os dias normais, trabalhar  com seu computador, onde criava jogos para celulares
ou
para outros consoles, o que lhe exigia um pouco mais de tempo e atenção. Era um game designer e, quando era preciso, ia até São Paulo, onde sua empresa funcionava
e, junto com sua equipe, colocava mãos a obra num trabalho para o qual fora feito! Mas também trabalhava  na fábrica dos Irmãos Cassilhas e Sivelie, onde era o
responsável
pela parte de informatização da empresa.          

        E essa era a sua vida. Mulheres, computadores e sua família. que mais um ser normal de trinta anos podia querer?


        Estava caminhando no estacionamento com certa dificuldade por causa da lama e das poças dágua. Não via a hora de se livrar daquelas muletas. E disso ele
não gostava, embora nem ousasse reclamar. Estar vivo e caminhando com suas próprias pernas era um presente dos deuses que sempre o estavam abençoando.
        Ao se aproximar mais do carro notou um movimento que o deixou em estado de alerta. Olhou vagarosamente em volta e percebeu que não havia mais ninguém. Se
tivesse uma pessoa interessada em lhe aplicar um golpe, aquele seria o momento certo. Estava só e um tanto vulnerável. Qualquer um podia pegá-lo na covardia.
        Sentiu sua nuca se arrepiar ao ouvir um cochicho muito baixo.
        O que deveria fazer? Entrar no carro e se trancar lá dentro procurando sair dali o mais depressa possível? E se tivessem armados?
        Então viu um homem correndo em sua direção. ainda estava escuro e não dava para saber se era amigo ou inimigo. Mas se fosse amigo, por que não falava o
seu
nome? E por que corria para ele? A cautela fez com que seus instintos aflorassem. Se alguém o atacasse, ele não se entregaria sem lutar!
        

Fosse lá quem fosse,não estava correndo para ele! Estava procurando alguém que pudesse estar escondido entre os carros estacionados.
        Respirou aliviado. Mas a quem o sujeito estava procurando? Devia oferecer-lhe ajuda?
        Curiosamente, Adriano não saiu com a caminhonete. Entrou no carro, sentou-se atrás do volante e ficou ali observando o camarada protegido pela escuridão 

olhar carro por carro, de vez em quando até se abaixando para olhar embaixo dos carros.
        Foi então que ouviu um barulho quase imperceptível na porta do passageiro. alguém queria entrar em seu carro.

        Uma mulher?
        Não era uma dessas mulheres que o fazia virar a cabeça para olhar. Não era bonita e, pelo que podia perceber, não era do tipo vaidosa, daquelas que se cuidavam,
se pintavam, se vestia para arrasar com os homens e com as outras mulheres! Era do tipo comum. Sem nenhum atrativo para ele. Mas parecia estar desesperada e com
um terror imenso em seu olhar. O tal homem da escuridão do estacionamento procurava por ela?
        Tinha que ser cauteloso. Aquilo bem que podia ser um truque para assaltá-lo, para machucá-lo ou até mesmo algum tipo de vingança de um ex namorado chifrudo
que não gostara de saber que ele andara com sua noiva, namorada ou amante.
        

Enquanto se decidia se abria ou não a porta para aquela mulher entrar concluiu que já a vira antes. Mas não conseguia se lembrar de onde. Certamente não
chamara nem um pouquinho de sua atenção pois se fosse uma das suas, podia até ter esquecido o seu nome mas nunca esquecia uma mulher para quem seus olhos se colocaram
em cima! Decididamente, aquela ali não fazia parte de sua longa lista de conquistas. E nem ia querer aquela mulher... Que não era a mais feia que ele já vira mas
estava longe de ser ao menos vista como passável!

        Lembrou-se rapidamente de algumas piadas sobre mulheres feias e, por um instante, teve vontade de rir, mas não o fez por que o homem estava mais próximo 

e o olhar implorante a apavorado da mulher o convenceram a abrir a porta.
        E qual não foi a sua surpresa ao ver que entravam em seu carro um monte de pessoas.
        Era um assalto! Ou um sequestro! Dançara por que tivera pena de uma mulher. E nem ao menos se penalizara de uma mulher bonita! Ia ser assaltado, sequestrado
ou possivelmente morto por uma mulher a quem ele, sem um pingo de pudor ou compaixão classificaria como uma mocréia de primeira grandeza. Uma mulher que só se pegava
em época de extrema necessidade!
        Mas em dois segundos percebera que eram crianças que entravam em seu carro e rapidamente se jogavam no banco traseiro e logo se abaixavam.
        - O que está acontecendo aqui? - Perguntou irritado. Aquela mulher saíra para a festa com as crianças e agora o tirava de otário só para ganhar uma carona!
Ia querer que ele desse uma carona para o camarada que fingia que os procurava também?
        - Moço! Por favor, saia correndo daqui. Ele quer nos pegar e está chegando perto. - A mulher falou num sussurro e se encolheu, junto com uma criança de



colo,
no lugar destinado aos pés do ocupante daquele banco.
        Tavinho olhou para trás e verificou que, se alguém olhasse para o banco traseiro da caminhonete de cabine dupla, também não veria nada e nem ninguém. Parecia
que as crianças haviam entrado embaixo do banco! Ou desaparecido num buraco negro qualquer... Além disso, suas janelas eram muito escuras.
        - Para onde? - Ele perguntou um tanto irritado com aquela invasão em seu veículo, fazendo questão de que seu aborrecimento fosse notado, tanto em seu semblante
quanto no tom de sua voz.                                          

        - Qualquer lugar longe daqui!


        Tranquilamente, Tavinho saiu do estacionamento e com os nervos um tanto eriçados, acabou passando bem do ladinho do camarada que procurava aquelas pessoas..
Por sorte, a a atenção do sujeito fora chamada por um outro carro que também saía dali ao mesmo tempo!










                             Cowboys do Vaale 11 - Com os olhos do coração





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