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Série Cowboys do Vale 5 - Sem limites para o amor



       Resumo: O amor que ela sentia por ele era algo descabido. Por  mais humilhada que fosse,
sempre acreditava que um dia ele conseguiria amá-la da mesma forma que ela o amava. Era
um amor doentio, obsessivo, sem limites. Ela faria qualquer coisa por ele, até mesmo manter-se na sombra. E morreria por ele se fosse preciso.  Algumas pessoas a criticavam,
diziam que ela não tinha vergonha, brio, amor próprio, mas ela não se importava com a opinião alheia. Diante de seus olhos, só via aquele homem. E somente ele er




a o dono de
seu coração. Desde que ali entrara, nunca mais houvera lugar para outro. Seu primeiro pensamento do dia era para ele, assim como o ultimo depois de um dia cansativo de
trabalho. E, durante as noites, sonhava com ele! Amava-o. Amava-o tanto que fora capaz de
cometer loucuras por ele! O pior era dedicar-se a um homem que a tratava com o maior desprezo.  E ele não só a desprezava. Ainda tinha um prazer mórbido de desfilar diante dela com uma
infinidade de amantes! Ela nunca ia se livrar daquele vício maldito?
Capitulo 1

  Aquilo já não estaria passando dos limites? O que o seu cunhado pensava da vida? Andando pra cima e para
baixo com aquela tal de Patrícia, a loura aguada debaixo do braço! Levava a Mocreia para o
seu restaurante, para jogar golfe com ele no Le Mirage e ainda a levava para sua cama, à
noite! Uma verdadeira falta de respeito! Ele era tão cego que não enxergava há um
palmo diante do nariz? O que ela teria que fazer para que ele acordasse, abrisse os olhos
e percebesse que ela existia
Lila Rose estava tão aborrecida que se pudesse, agarraria a loura pelo pescoço e o
apertaria até que ela ficasse cinza! Ou morena!
Desde que fora viver na casa de seu cunhado, há cinco anos, que volta e meia via o sem
vergonha sassaricando com uma ou com outra conquista. Aquilo estava certo?
Ele trocava de garotas como uma mulher trocava de calcinhas, mas essa maldita loura já
estava ali, no pedaço, há mais de seis meses! E nenhuma mulher de bom senso usaria uma
mesma calcinha por tanto tempo!
Lila Rose teve que sorrir para si mesma. Frases como aquela não saiam de sua tímida e
feminina cabeça. Como todos naquela cidade sabiam, só podiam ser palavras de Beatriz, a
piriguete que, por puro acaso, era uma de suas amigas.
Fora Beatriz que lhe falara da frequência de troca de calcinhas pois, como todo mundo
ali sabia, sua amiga morena jambo, antes de encontrar seu quase marido, também trocava de namorados com a mesma frequência.
Mas as preocupações de Lila Rose eram mais profundas. Tinha muitas coisas em sua mente
para pensar e ver o homem de sua vida agarrado aquela loira que fazia metade da cidade
virar a cabeça quando passava requebrando as ancas, era doloroso demais!
Contudo, seus problemas não se resumiam a uma paixão unilateral. Se fosse apenas isso, tudo
bem. Era só ir embora, tirar aquele homem da cabeça ou, pelo menos, tentar esquecê-lo.
E Lila Rose acreditava que, se conseguisse ficar fora das vistas de Guilherme Lobo, se
pudesse morar bem distante dele, se nunca mais ouvisse falar de seu nome, a dor do
desprezo seria menor.
Entretanto, havia um garotinho nessa história que era todo o seu mundo e um pouco
mais!
Por outro lado, ser o objeto dos olhares rancorosos de Guilherme, como se ela fosse a culpada da tragédia que se abatera sobre a vida dele, era algo difícil de engolir!
Não fora ela a culpada por sua irmã ter-se suicidado, não fora ela que colocara
aquele coquetel maldito nas mãos de Marielle! Se ela soubesse que era essa a intenção de
sua irmã teria se afastado há muito mais tempo e nem mesmo teria permitido que Marielle a
usasse como a tinha usado.. Afinal, toda aquela maldita confusão fora criação da cabeça
doentia de sua irmã.
- Você a levou ao suicídio! - Sua mãe lhe gritara e por mais de uma vez. - Nunca vou
perdoar o que fez a minha filha! Ela se matou por sua causa, por causa da sua interferência, por causa de seus ciúmes, de sua - Não me chame de mãe! Não sou mãe da assassina da própria irmã! Nunca mais ponha os pés dentro da minha casa! Esqueça que existo!
Era assim que sua mãe a via.
Como fazer sua mãe, dona Margarida, compreender o que na verdade se passava na cabeça da filha mais nova. Sua mãe ficava cega e surda quando se tratava da filha caçula e
não percebia que Marielle manipulava tanto uma quanto a outra.
E que diferença fazia isso agora? Ela ficara nas mãos da irmã e agora estava nas mãos de sua mãe! E não sabia até quando sua mãe lhe permitiria viver ali, sob o mesmo teto de Guilherme. Já fazia alguns anos que ali estava sem que sua mãe se pronunciasse.
De certa forma, era até compreensível a dor de sua mãe. Perdera o marido e logo depois perdera a filha mais nova. Mas que diabo? Ela também perdera um pai e uma irmã. Ambos de forma trágica e inesperada. Por que sua mãe tinha que acusá-la de tud o?
Mas como falar de alguém que já não vivia e que não podia se defender?
Na verdade, nem mesmo ela que estava viva e sã poderia se defender das ameaças de sua
mãe que fazia questão de lhe infernizar a vida ao afirmar que contaria toda a verdade
para seu cunhado.
E, enquanto ela amargava naquele tormento de ameaça da mãe, desprezo do homem amado e
da mentira em que vivia ao lado do sobrinho, ainda era obrigada a conviver com aquela
sensação de abandono, de solidão e até mesmo de remorso pois não sabia mais o que poderia
fazer para que sua vida voltasse ao eixo!
Uma coisa era certa. Ela amava Guilherme de todo o seu coração sem a menor dúvida da
extensão daquele amor.
E outra verdade se incluía em tudo isso. Amava seu sobrinho ainda mais. E, se tivesse
coragem, abandonaria Guilherme se pudesse ir embora com o filho dele.
Logicamente, esse não era o seu sonho para o futuro. Em suas fantasias, ela, Guilherme e
Thiaguinho conviveriam num grande laço de paz, alegria, compreensão, amor e felicidade.
Bobagem! Pura bobagem! Jamais poderia dizer ao pai do menino toda a verdade sobre a
concepção do garoto. E se um dia o fizesse, perderia os dois. Pai e filho. E era
lamentável! Sua irmã preparara as coisas de tal maneira que ela não encontrava uma saída.
Como poderia dizer a verdade a Guilherme? E nem mesmo Thiaguinho, quando tivesse idade
para compreender o que ela fizera, acabaria se voltando contra ela. E acharia que ela fora
realmente a culpada pela morte de sua mãe!

  
Se pensasse bem, perderia apenas o menino pois o pai do menino ela perdera há anos, no
dia em que sua irmã colocara os olhos nele pela primeira vez quando fizera a besteira de
apresentá-lo a sua família. E fora direto para o escritório de contabilidade que o pai
tinha na parte da frente de sua casa e deixara seu futuro noivo conversando com sua mãe na
sala de jantar onde ela arrumava a mesa.
Na época seu pai, que ainda vivia, lhe dissera, com todas as letras, quando ela fora
prepará-lo para a surpresa que lhe trazia.
- Você está apaixonada por esse rapaz que trouxe hoje aqui?
- Estou sim, papai. Eu amo Guilherme de todo o meu coração e ele veio hoje aqui para
pedir minha mão em casamento. Não é maravilhoso? - Lila Rose dissera por trás de uma nuvem
de sonho e felicidade. - Só pega leve com ele pois está um pouco nervoso. Mas se não pedir
minha mão hoje, não deixará de fazê-lo na próxima visita!         
    - Não deveria tê-lo apresentado a sua irmã e nem a sua mãe.
- Mas papai... Vocês são a minha família!
- Deveria ter-se ido embora com ele, se casado e, mais tarde, quando o amor dele por
você fosse forte o suficiente para suportar qualquer tranco, aí sim, você o apresentaria a
nós.
- Mas papai... quero entrar na igreja de braços com você...
- Conhece sua irmã. E sua mãe sempre lhe faz todas as vontades. Sabe que ela foi muito
doentinha quando menina e sua mãe a superprotege até hoje. Corre o risco de
ver seus sonhos se esfumaçarem, filha... - Seu pai falava encolhendo os ombros como se
jamais conseguisse interferir caso algo desse errado.
E seus sonhos se esfumaçaram mesmo. Seu pai não era uma pessoa maledicente. Vira o que Lila


Rose não vira. Afinal, ele conhecia muito bem a sua mulher e suas duas filhas. Sabia que tudo o
que Marielle quisesse, conseguia. E que sua esposa daria preferência a filha mais nova.
Ela, talvez, também tivesse percebido. Mas fingira não ver.
Fora uma pateta, que não queria demonstrar sua fraqueza diante dele, que não quisera
pedir, implorar, querer justificativas para aquele distanciamento que surgira entre eles
de um momento para o outro. Por que as mulheres fingiam que estava tudo bem quando seus
instintos lhe diziam que não estava? Por que temera descer o barraco quando era isso que
uma mulher ciumenta e desconfiada sempre fazia?
Fora uma idiota ao receber dele uma longa série de recusas para saírem. Ele ligava e
desmarcava o cinema, o barzinho, a boate, o passeio a Angra dos Reis, a Parati, a ilha de
Paquetá, ao Terra Encantada. Um a um, iam sendo desmarcados pois ele alegava que surgira
um compromisso inadiável. Tudo bem que eram encontros que eles haviam marcado muito tempo
antes, baseados na agenda dele de dono de restaurante chique!  Fora uma tonta ao não perceber que ele já não a beijava como antes, com uma necessidade, com volúpia, com paixão. Agora os beijos dele se resumiam a um simples roçar de lábios, muitas vezes, nas têmporas e só na hora da despedida. E seus olhares então? Sempre por cima dos ombros dela, perdidos num ponto qualquer atrás de sua cabeça!
E nem notara que nunca mais fizeram amor.
Como não percebera? Como não sentira? Como não vira? Era cega? Antes faziam amor duas, três vezes por dia!
Guilherme era muito intenso, muito viril, muito exigente, muito faminto na hora do sexo. Se não a
procurava mais...
- Tenho algo para lhe contar.
O medo percorreu a espinha de Lila Rose. Ele ia dizer algo apavorante. Já estava
sentindo a aproximação de uma desgraça há dias. Mas quem sabe conseguiria reverter a situação. Nada podia ser tão grave que não pudesse ser remediado. Era uma otimista e acreditava que
enquanto houvesse vida, haveria uma esperança.
- Eu... Humm... Hã... - Ele começara a falar.
O que ele poderia ter para falar que parecia tão terrível? Ele não ia terminar o
namoro com ela. Ambos se davam muito bem. Estaria ele doente gravemente? Ela estaria com
ele fosse para o que fosse, mas orava aos céus para que ele estivesse bem de saúde. Não
podia perdê-lo assim. Morreria sem ele!
- Diga o que está havendo... Estou ficando assustada. Aconteceu alguma coisa?
- Aconteceu.



    - E o que foi?
- Eu... Traí você.
Aquelas palavras entraram no coração de Lila Rose como uma punhalada. Machucara-a
bastante. Era como se ele a tivesse esfaqueado e agora revirava a faca em seu coração em
todas as direções. Achou que ia desfalecer. amava-o demais. Era um amor doentio, que lhe
fazia mal, pois estava sempre a imaginar coisas. Era um sentimento que misturava dor e prazer, tristeza e felicidade, angústia e êxtase. Mas não ia chorar. Ia ser forte!
Todas as vezes que olhava para Guilherme, sentia uma fisgada em seu peito. Era uma dor
lancinante que a fazia temer o futuro. Se o perdesse, morreria. E só de imaginá-lo longe
de sua vida, aquela dor se tornava insuportável.
Quando ele lhe pedira para fazer amor, ela não pensara duas vezes. Aquele era o homem
de sua vida. Guardara-se para ele sem saber que um dia o conheceria. Mas o conhecera. E
se apaixonara. E pertenceria a ele, de corpo e alma, por toda a eternidade.
Chorou de felicidade ao ser penetrada por ele. E no gozo que se seguiu, seu primeiro
orgasmo, ela flutuara num universo que temia nunca mais poder abrir mão. Era algo
maravilhoso demais para que ela perdesse aquilo. E nunca poderia compartilhar aquele

homem, aquela sensação de estar com ele com ninguém mais. Nunca mais seria a mesma depois
daquele dia. E nunca mais iria se deitar com outro homem que não fosse Guilherme Lobo.
Todavia, tudo mudara num abrir e fechar de olhos. Guilherme, o homem de sua vida a
traíra! E estava calmamente lhe confessando isso! - Traiu-me? Como? Quando? Com quem? Por que?   

As perguntas saiam de sua boca mas, na verdade, ela não queria saber. Ou queria. Mas
tinha medo de ouvir a verdade embora quisesse parecer que não se importava, que era forte,
que não era ciumenta. Gostaria que aquilo estivesse acontecendo com outra pessoa, não com ela.
- Eu... Acho que me deixei envolver por sua irmã...
- Minha irmã? - Algo parecia ter explodido em seus ouvidos. Ouvira direito? Não! Claro
que não ouvira! Ele não dissera
aquilo!
- Sim... Envolvi-me com sua irmã Marielle.
As palavras demoraram um tempo enorme para fazerem algum sentido. Parecia que ele
falava uma outra lingua. Ela não estava ouvindo aquilo. Estava tudo errado. Ele quisera
dizer outra coisa. Aquilo que achara que ouvira, ela não queria ouvir.
- Você me traiu com minha irmã? Foi isso que disse? Acho que não entendi direito!
- Sim. Eu a traí com sua irmã. Quer que eu repita? Eu a traí com Marielle!
Lila Rose não conseguia compreender, por mais que tentasse, aquela confissão. Como
ele lhe dizia aquelas coisas como se a quisesse fazer sofrer? Parecia sentir prazer com
aquilo. Era um sádico? Um doente? E ela? O que era? Lenta demais para entender o que ele
tão cruelmente lhe dizia? Queria vê-la chorar, arrancar os cabelos, enlouquecê-la de dor?
- Por que? Por que me traiu? - Perguntou tentando conter a dor, a fúria, a raiva, o ódio.
- Ela é linda!
"Ela é linda?" Aquilo era uma explicação plausível para o homem que havia pedido a mão de uma mulher em
casamento? Ele não havia jurado amá-la para sempre como ela jurara a ele? que amor era
aquele que morria ao ver uma mulher linda? Ele a traíra vergonhosamente! Fora traída, simplesmente por que ele estivera diante
de uma mulher linda? E quantas outras lindas estariam diante dele no futuro.
- E o que acontece agora? - Procurava manter-se firme. Era claro que ele ia dizer que
fora um erro, pediria perdão e ela faria jogo duro, demoraria a perdoá-lo. Mas sabia que o perdoaria. Não saberia viver sem ele. Tinha que ser compreensiva. As mulheres, no geral,
eram assim. Pouquíssimas mulheres não perdoavam os deslizes de seus parceiros. Afinal, os homens eram uns fracos que não sabiam manter seu membro dentro das calças quando uma
mulher bonita lhes dava bola. E sua irmã, realmente, era um estouro! Era quase impossível para um homem não desejá-la!
- Vou me casar com ela.Agora as palavras não faziam sentido de modo algum. Ele dissera mesmo que se casaria com sua irmã?
Respirou fundo. Não podia chorar na frente dele. Não podia deixar que vissem o quanto a machucavam. Ele se casaria com sua irmã? Realmente? E ela teria que conviver com aquela
realidade dolorosa todos os dias? Não ia conseguir. Quem conseguiria levar um fora, ser passada para trás pela própria irmã e manter a cabeça erguida como se nada de mais tivesse
acontecido?
- O que? Mas não viera aqui, no outro dia, para pedir minha mão ao meu pai?
Tinha que tentar fazê-lo raciocinar. Ele, há pouco mais de um mês, estava apaixonado por ela.
Ia até pedi-la em casamento! Precisava trazê-lo à razão. Lembrá-lo que se amavam, que
fizeram juras de amor eterno. Aquelas coisas não se acabavam assim, num estalar de dedos!
- Mas não pedi. Assim que vi sua irmã, não consegui pensar em mais nada!
Ela bem que o notara. Mas fingira não ver o que se passava bem diante do nariz. Quem
sabe, se fingisse que ignorava a realidade, as coisas aconteceriam como ela sonhara? Se
casariam. Teriam filhos... E, logicamente, sua irmã dormiria com seu marido até que o
casamento acabasse!
E, quando Guilherme entrara outra vez naquela casa trazendo sua irmã pelo braço, dona
Margarida achou aquilo normal. Afinal, era apenas uma disputa entre irmãs.
- Mas ele ia se casar comigo, mãe!
- Mas não casou. Vocês eram apenas namorados, nada mais.
- Eu amo Guilherme, mãe!
- Ama nada! Isso passa! Coisas de garotas jovens! Nem derramou sequer uma lágrima
furtiva quando ele lhe deu o fora!
Só por que se esvaíra em lágrimas as escondidas não significava que não o amava. Só
não queria demonstrar sua fraqueza diante de todos. Ririam dela!
- Ela o roubou de mim, mãe!
- Pare com esse drama, Lila Rose! Sua irmã não lhe roubou nada. Foi seu namorado que
preferiu ela a você. Ou acha que se ele a amasse de verdade ia querer agora se casar com
sua irmã? Acorda, menina burra! Se ele não a traísse agora a trairia mais tarde!
Lila Rose teve que aceitar aquele argumento. E teve que suportar calada enquanto a
casa se transformava num grande salão de festas para o casamento de sua irmã. Teve também
que ajudar pois sua mãe não aceitava recusas.
- Mas isso não é justo, mãe. Eu não quero ajudar nos preparativos do casamento.
    - Como você é egoísta! Veja se cresce, garota!  - Mas, mãe... Eu amo o noivo de minha irmã!
E, em troca, recebeu uma bofetada de sua mãe.
- Eu a proíbo de falar essas asneiras! Não vê o quanto está sendo inconveniente?
Mas o que ela podia fazer? Não fora sempre assim? Quando pequenas, se sua irmã quisesse um
brinquedo, era ela quem teria que abrir a mão. Na adolescência, as coisas não mudaram.
Eram as roupas, os passeios, os namoradinhos. Se Marielle quisesse, a preferência era
dela.
- Sua irmã é pequena... Você é a mais velha! Não se envergonha de querer tudo o que é dela?
Mas não seria o contrário? Além do mais, sua irmã era só dois anos mais nova!
- Você é a mais velha e tem a obrigação de entender sua irmã que é pequena. E ela
quase morreu, esqueceu-se do quanto ela é doentinha? Não vê que a saúde dela é muito fraca?
- Entende agora o que lhe falei no dia em que trouxe o rapaz para nos apresentar? -
Seu pai lhe recordava.
Era claro que Lila Rose se lembrava. Desde aquele dia Guilherme nunca mais fora o
mesmo até o dia em que lhe confessara que a traíra vergonhosamente. Depois, era só olhares
para sua irmã. Parecia tê-la riscado de sua vida e, quando seus olhares se encontravam
agora, nada para ela havia ali. Nenhum carinho, nenhum afeto, nada mesmo!
E isso fora tudo. Ele se apaixonara por Marielle e a esquecera. Ao menos, era o que
sua mãe fazia questão de lembrar-lhe a cada segundo de sua existência.
- Caia na real. Ele ama a sua irmã. Não percebe que ele só tem olhos para ela? Ele
nem parece enxergar você! De que lhe serviria o seu amor?
E assim, foi. Guilherme se casara com Marielle e ela assistira a tudo do primeiro
banco da igreja.
Fora Marielle que seu pai trouxera pelo braço para entregar a Guilherme. O seu sonho.
Seu sonho de amor com outra protagonista. E ela tinha que ver, ouvir, sentir e se calar.
E agora, tantos anos depois, seu amor não diminuíra nem um pouco. E ela sempre
estivera ao lado dele, esperando, ansiando, espreitando, aguardando o momento em que ele
olharia para ela como mulher outra vez. Mas esse dia nunca chegava.
Alguns poderiam até dizer que ela não se amava, não se gostava, não tinha orgulho,
brio, amor próprio. Não tinha mesmo. Tudo isso pertencia a Guilherme, o homem a quem
sempre amara e que agora, quando sua irmã não mais existia, a desprezava, culpava-a pela
morte da esposa.
No entanto, ele nem desconfiava do que ela fora capaz de fazer por amor. E se outros
soubessem, além de condená-la, ainda iriam comentar que ela era mesmo incapaz de se
gostar, de se respeitar como pessoa, de ter amor próprio! Veriam o quanto ela fora capaz
de descer por amor.
    Como se nada disso fosse o bastante, surgia agora aquele problema inesperado! O exame de
DNA de Thiaguinho! Seriam eles capazes
de descobrir alguma coisa que a incriminasse? Ela estava agora de pés e mão atados enquanto
esperavam que a justiça resolvesse aquele pequeno impasse que poderia comprometer todo o
resto de sua vida.
Um casal da cidade onde viviam, acreditava que tivera o filho trocado. Um bebê vivo por um bebê morto.
E isso acontecera exatamente no mesmo dia em que Thiaguinho nascera, há cinco anos. Fora a parteiraAngel, a hiponga da cidade que fizera os dois partos com um espaço de quase três horas
entre ambos. E um dos bebês aparecera morto no dia seguinte. Ninguém notara nada durante
todos esses anos e, por uma série de fatores, a desconfiança nascera e agora estava
formada aquela confusão em torno de seu sobrinho. Assim, o inspetor de
polícia Jorge del Toro suspeitara que o bebê trocado de Mayara, a dona da lanchonete que
ficava em frente a rodoviária e posto de gasolina de Guilherme Lobo, poderia ser
o filho de seu cunhado. O seu Thiaguinho! E ela nada podia dizer sobre o que era ou não verdade
naquela história. Estaria comprometendo a si mesma e não poderia correr o risco. E, na
verdade, nada sabia sobre o bebê de Mayara. Sabia apenas que Thiaguinho não fora trocado
por bebê algum. Afinal, ele era a cara do pai, não era?
Aquelas duas semanas em que esperavam o resultado do exame de DNA estavam sendo muito
conturbadas para Lila Rose. Orava, fazia promessas, não conseguia pensar em mais nada
enquanto aguardava que as coisas se definissem. Mas que coisas haviam para serem definidas. Há cinco anos que sua vida
estagnara e ela não tinha mais para onde correr.
Sua única esperança residia num pequeno sinal no quadril esquerdo que Thiaguinho tinha
e que ela sabia, Guilherme Lobo também o tinha. Mas o exame de DNA não se baseava em
sinais na pele.Como sua vida chegara aquele ponto sem saída? Se alguém soubesse, não acreditaria. Nem
mesmo ela, que vivia dia a dia aquela situação sem pé nem cabeça, acreditava que chegara tão
longe! E o que era isso? Esse longe significava o que? Que seu segredo jamais seria
descoberto? Que o homem dos seus sonhos jamais saberia o que ela fizera contra ele, ou a
favor dele?
Na verdade, nem saberia dizer se o ajudara ou não. Mas de uma coisa ela tinha certeza,
ele a expulsaria de sua casa, de Vila Verde, de sua vida se ao menos desconfiasse do que
ela fizera.
- Mas fizera por amor. Por amá-lo muito. além da conta. Por não saber colocar limites
naquele amor que a destroçava.
   
E de que isso lhe servia se Guilherme nem mesmo a olhava no rosto, se ele fazia questão de ignorá-la completamente? Mas Thiaguinho estava lá, não estava? Aquele garotinho de cinco anos e que era o seu sol, a sua vida! E Guilherme Lobo também, Aquela delícia de macho, todo moreno, com mais de um metro e oitenta, todo músculo e sensualidade. E, óbvio, com toda aquela cara fechada para ela.
Como podia ele ser tão amável e agradável com as outras pessoas e com ela parecer um cavalo pronto a dar coices e patadas em todas as direções em que ela estivesse? E isso era
o máximo que ele se dispunha a lhe oferecer. Na maior parte das vezes, apenas o silêncio dele era a sua resposta!
Em seu restaurante, ele agia como o mais afável dos seres, cumprimentando a todos,
distribuindo sorrisos e palavras gentis.
Dentro de casa era aquele poço de silêncio. Nunca... Quase nunca falava com ela.
Apenas se dirigia ao filho e nada mais.
O que havia de errado? Não gostava de vê-la todos os dias em sua casa?
Tudo bem que ao receberem a notícia de que sua irmã morrera ela fora para lá para
cuidar do sobrinho. Era certo que sua mãe não a queria ali. Achava que ela só queria
roubar o marido da irmã, mesmo que sua irmã já não vivesse mais. E era verdade. Ela
desejara mesmo, noite após noite, que Guilherme Lobo a seduzisse, a tomasse em seus braços
e fizesse amor com ela daquela forma intensa e viril como fizera antes.
Queria para si o lugar de Marielle e que antes era seu! Era obsessiva? Era! Assumia.
Assumia qualquer coisa que estivesse relacionada a Guilherme Lobo. Por ele morreria, por
ele mataria, por ele destruiria tudo!
Muitas vezes se perguntava se estava agindo com honestidade. Mas era claro que estava.
Afinal de contas, Guilherme fora seu namorado antes de trocá-la por sua irmã. Fora o seu
primeiro e único amor. Até que sua maravilhosa e glamourosa irmã se intrometera em seu
caminho e levara o homem dos seus sonhos para longe dela. Levara-o para Vila Verde,
aquele fim de mundo que nem aparecia no mapa!
E Guilherme ficara por lá. Abrira seu restaurante, comprara os postos de combustível do
lugar, curtia sua vida de casados.
No dia em que sua irmã cometera aquela atrocidade que transtornara a vida de toda a
família, que destroçara o coração de sua mãe, que deixara seu menininho órfão e seu marido
viúvo, Lila Rose estava determinada a cuidar do menino. E sua esperança de que Guilherme
voltasse a sentir por ela o mesmo que sentira antes de seu casamento com a irmã,
renascesse.
Sua mãe brigara, batera o pé! Sabia que ela tentava reconquistar o amor perdido. Além
disso, quem mais além dela tinha o direito de cuidar de Thiaguinho?
Todavia, cinco anos depois, nada acontecera. Guilherme até deixava mais claro a cada dia que
não gostava da presença dela ali.
Mas tinha o menino. Assim como não podia abrir mão de Guilherme Lobo, não podia abrir
mão de Thiaguinho. Ao menos o menino era seu. E tinha que ficar ali para poder vê-lo
crescer, cuidar dele, já que nunca poderia lhe contar a verdade!


    E a verdade sobre aquele garotinho era algo que ela nem se atrevia a pensar pois além
de machucá-la como se alguém a estivesse cortando em mil pedaços, iria atrair a fúria de




Guilherme sobre ela e então nada mais seria mesmo possível entre os dois.
Fora o pavor de que o exame de DNA desse algum problema que a fizera perder o sono
naqueles dias. Era professora num dos colégios da cidades e se esforçava além dos limites
para dar continuidade ao seu trabalho. Sua turma se compunha de um bando de adolescentes
barulhentos e sem compaixão que, a todo momento, lembrava a ela as histórias que
circulavam pela cidade. Não via a hora daquele mês de junho acabar e o exame de DNA dar o
resultado que ela esperava e assim poder dar um fim naquelas histórias que corriam soltas pela cidade mais rápido que rastilho de pólvora!
Mas de que desconfiariam. Nem mesmo a parteira Angel notara nada de diferente.
E o que dizer de Guilherme então? Jamais percebera nada de errado nem naquela semana
que antecedera ao nascimento do menino, nem antes e nem depois.
Era certo que ele saíra de casa pois esse era o plano. Marielle, sua irmã, não queria
a presença do marido em casa quando seu filho nascesse. Pura bobagem. Guilherme Lobo era
tão desligado quanto um fio cortado e sem energia. Não notava nada de diferente, não
prestava atenção em nada que não tivesse ligação com seu restaurante ou os seus postos de gasolina.
Era certo que agora, cinco anos depois Lila Rose se encontrava na palma de sua mão. E
sua mãe, que era alucinada pela filha caçula e que acabara se suicidando, culpava a filha
mais velha por isso. E vivia a ameaçar a destruir aquela falsa paz familiar que Lila Rose
conseguira no lar de Guilherme Lobo.
Era claro que era uma falsa paz. Ela administrava a casa enquanto ele se dedicava aos
negócios. Guilherme passava o dia inteiro entre seus postos de combustível e o restaurante que
adorava e que lhe servia como relaxante. Ao menos era o que ele dizia. Que a única coisa,
além do filho que lhe trazia um pouco de alegria na vida era estar na cozinha de seu
restaurante, elaborando, junto ao chefe, pratos diferentes e vivendo a vida como achava que era certo.
No entanto, bastava pegar o carro e se dirigir para o que ele chamava de Sítio do
Rouxinol para fechar a cara e demonstrar o seu desgosto por estar ali. Com ela.




Logicamente, as fofoqueiras de Vila Verde, sempre seguidoras do que a líder do grupo
dona Josepha ordenava, pediram, mais de uma vez, que Lila Rose fosse demitida do colégio onde
lecionava Inglês para os alunos do Ensino Médio da cidade. Achavam que sua conduta
desvirtuava os adolescentes, já que morava na casa de um homem solteiro, administrava o
lar daquele homem, cuidava de seu filho e não era casada com ele. Enfim, ela fazia tudo o
que uma esposa fazia. Então, não era certo que não estivesse casada com o dono daquela
casa que ambos compartilhavam.
A paixão que ela sentia por Guilherme chegara a fazê-la desejar que as fofoqueiras
fossem bem sucedidas em seus falatórios e maledicências. Queria mesmo que dona Josepha conseguisse
influenciar a direção da escola a ponto de Guilherme não encontrar outra saída além de se
casar com ela para que ela pudesse salvar seu emprego.
Mas ele tinha outra opinião.
- Acho melhor você voltar para sua casa no Rio de Janeiro ou ir viver com sua mãe.
Essas mulheres vão falar até dizerem chega e você não vai suportar tanta pressão. - Ele
dissera com a voz mais tranquila do mundo. Era claro que não sentiria falta dela. Estava
mais que certo que ele não se importava se ela queria ou não continuar em Vila Verde. Na
verdade, ela não estava nem um pouquinho preocupada com o lugar onde iria morar, desde que
Guilherme Lobo e Thiaguinho estivessem com ela. Mas aquele homem estava se lixando para
ela, não se interessava por ela e queria mais que ela impludisse!
- Mas e o Thiaguinho? - Ela perguntara desejosa de que, ao menos pelo filho, ele
reconsiderasse.
- Arranjo uma babá para ele.
- Mas ele me chama de mãe e...
- Desaprende... - Ele continuava num tom sereno. - eu nem gosto que ele pense que você
é a mãe dele. Assim ele vai entender que você é apenas a tia.
- Mas ela não era apenas a tia!
- Eu... sou muito apegada a ele e ele a mim. - Ia chorar? Não ia viver longe de seu
menino!
    - Nada no mundo dura para sempre, Lila Rose! - ele dissera olhando para a janela que
só ostentava a noite escura, nada mais.
- Thiaguinho vai sentir a minha falta... E eu a dele.
- A gente se acostuma com tudo na vida. Ele vai aprender que as coisas nunca são como
a gente espera que sejam.Ela queria perguntar se ele não sentiria a falta dela mas já sabia a resposta.
    - Não vou embora! - Era só o que poderia fazer e dizer. - Não vou fugir com o rabo
entre as pernas como se tivesse cometido algum crime!
    - Você é quem sabe... - Ele dissera com desdém.
Por que ela o amava tanto? Por que não ia embora viver sua vida e esquecia aquele
egoísta que não lhe dava a mínima?
Por que entre eles havia um menininho de cinco anos chamado Thiaguinho. Só por isso!
E, pelo menino, qualquer sacrifício era válido. Morreria por ele se fosse necessário. Mas
não era preciso tanto. no momento, era só conseguir lidar com o desprezo, com a
indiferença, com a frieza, com o desdém de Guilherme Lobo!
No mais, estava tão próxima a ele que lhe bastava sonhar. Era claro que adorava levar
as roupas dele para a lavanderia, sentir o cheiro dele, deitar-se na cama dele depois que
ele ia para um dos postos de combustível, tomar café na mesma xícara que ele fingindo que estava
recebendo dele, um beijo afetuoso.
O pior era saber que tinha trinta anos e ainda agia como uma adolescente, como uma de suas
alunas que viviam eternamente apaixonadas, não necessariamente pela mesma pessoa, como ela
que há anos morria por seu cunhado.
Mas seu sobrinho não seria uma boa razão para que ela continuasse na vã esperança de
que ele retomasse aquele relacionamento?
Entretanto, agora, como se nada de tudo aquilo bastasse, ainda tinha Patrícia, a loura
aguada que não largava o pé de Guilherme!
Ainda assim achava que era um direito seu estar ali, cuidando de Thiaguinho, amando
Guilherme Lobo. Afinal, não fora ela quem dera aquele filho para ele? Era certo que ele
jamais poderia saber disso. Menos ainda a loura aguada. Mas Thiaguinho era seu. Seu
sangue. Seu por direito. Mas o exame de DNA podia dizer que a mãe de Thiaguinho não era
Marielle? Como era possível ser professora do Ensino Médio e não saber nada de Biologia?








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