- Um bebê?
- Isso, senhor! - Nogueira tornara a repetir pela enésima vez.
- Sim, doutor, um bebê.
- E o que eu faço com um bebê? - Arnaldo Glier estava aterrorizado. - Alguém abandonara um nenezinho ao lado de seu Jaguar, dentro de um carrinho caindo
aos pedaços.
- Bem, doutor... A nota diz que o filho é seu e que o senhor pode fazer um teste de DNA.
- Mas... De onde ele saiu?
Nogueira pensou em explicar ao seu patrão como os bebês eram feitos, de onde eles vinham, mas achou que o patrão não entenderia a brincadeira. Não naquele
momento!
- Não sei, doutor... Apareceu. - E preferiu sair pela tangente.
- Do nada??
Outra vez a vontade de brincar com seu patrão lhe coçava as vísceras. Mas não era um bom momento para ficar desempregado.
- Mais ou menos, doutor. Saí apenas um segundo e quando retornei encontrei esse carrinho de bebê perto do carro. E tinha essa nota. Olhei em volta e não
vi ninguém.
E foi assim que Arnaldo Glier acabou descobrindo que era o pai de um filho que não era seu!
capitulo 1
Ian Somerhalder |
- Grávida? Mas como?
- Acho que não preciso responder a essa pergunta. - O plantonista do posto de saúde falou um tanto mal humorado. Era quase meia noite, estava cansado e não
tinha muita paciência com aquelas pessoas que o entendiavam terrivelmente. Detestava trabalhar naquele lugar e por tantas horas. E ainda tinha que lidar com vagabundinhas
que não sabiam que existiam no mundo inúmeras marcas de pílula anticoncepcional. Eram promíscuas demais e depois ficavam com aquela cara de tacho quando vinham lhe
procurar. E o que ele tinha a ver com aquilo? - Fez um bebê, senhora. Não sabe como ele foi parar aí?
- Eu... Eu... ai, meu Deus! Como vou explicar isso para meus pais?
- Pode se recompor? Tenho que chamar outra paciente. Aqui tem uma receita de vitaminas. Está um pouco anêmica. Deve voltar amanhã para consultar um obstetra,
fazer o pré natal... Só atendemos emergências nesse horário... Mas precisa muito procurar um médico. O pré natal é muito importante.
- Não tenho como... Não tenho horário para sair do trabalho e vir até aqui...
O médico deu de ombros. Na verdade, não se importava. Só estava falando as coisas que fora treinado para dizer, embora devesse insistir para que ela fizesse
dobro.
Ela saiu da sala do médico bastante desanimada. Estava grávida! E o que faria agora?
Era bem feito! Todos não haviam tentado alertá-la?
Carolina de Lara acabara de fazer dezoito anos e sonhava em ir para o Rio de Janeiro ou para São Paulo, acreditando que conseguiria emprego numa grande indústria.
Era ingênua demais, pois ainda acreditava que, se conseguisse ganhar um salário mínimo, ia ter o suficiente pra pagar por sua moradia, alimentação, luz, água e gás,
a conta do celular... E ainda lhe sobraria uma grana para comprar roupas, sapatos, objetos de decoração que via nas revistas especializadas e que a faziam sonhar
com um cantinho seu todo rosa e branco, personalizado e, por fim, ainda poderia ir ao cinema todas as semanas, ao teatro e as boates maravilhosas onde os artistas
iam se divertir.
Também sonhava com seu príncipe encantado. Lindo, moreno, alto e apaixonado. Sua crença de que a vida imitava a arte se limitava apenas às boas coisas. Em
sua opinião, o amor vencia a tudo e a todos. No amor de seus sonhos, não havia lágrimas, tristezas, decepções. Uma vez que estivesse apaixonada, uma vez que encontrasse
Carolina La Sale |
uma vida melhor, com um mundo melhor.
Todos estavam errados. Ela via nos filmes como o verdadeiro amor ultrapassava barreiras e como as mocinhas reconheciam sua metade, sua alma gêmea. Todos
tinham uma, não tinham? Por que justamente ela não encontraria a sua?
- Acha que as coisas são fáceis assim? Acha que vai poder ter todas as coisas com as quais você sonha? - Seu pai dizia. - A vida é dura, muito difícil! Ninguém
realiza sonhos. Sonhos são exatamente isso. Sonhos! Coisas da cabeça, da imaginação. Nada a ver com a realidade!
Carolina não se importava com o pessimismo do pai. Achava-o velho e ultrapassado. Parecia até que não via televisão, que o poder aquisitivo da classe trabalhadora
aumentara em muito nos últimos anos! Ela não era nenhuma boba. Ia mostrar aos pais que eles estavam errados e que ela seria capaz de vencer, ter seu apartamentozinho
numa cidade grande, do jeitinho que ela sonhava, cheio de flores, enfeites e cores. Teria roupas lindíssimas e iria a todos os lugares badalados dos quais as revistas
falavam tanto!
Todavia, naquele momento de sua vida, quando mal completara seus ansiados dezoito anos, idade que sempre achara lhe traria a libertação, precisava continuar
seu trabalho naquela pousada em Mauá, onde ralava feito uma escrava desde que completara quinze anos, onde já se cansara de servir aquelas pessoas, em sua maioria
chatas, que se hospedavam por lá.
Aqueles hóspedes antipáticos nem sequer olhavam para ela. Muitos rapazes acompanhavam a família e até a olhavam com interesse, mas ela sabia muito bem o
que aqueles garotos queriam.
Tinha um irmão, um ano mais novo, além de mais duas meninas e dois molecotes, todos ainda pequenos, é claro, já que ela era a mais velha, aquela que tinha
que dar os bons exemplos.
Entretanto, seu irmão George tinha muito mais coisas para demonstrar sobre sua experiência de vida, do que ela. Muitas vezes, ouvia os papos brabos que
eles e os amigos cochichavam no quarto ao lado do seu.
Era certo que ela até usava um copo para ouvir o que eles falavam. Colocava o copo na parede e o som parecia vir direto ao seu ouvido.
Assim, sabia que meninos daquela idade só queriam estar dentro de uma mulher. O assunto nunca mudava. Eram revistas de sacanagem, eram filmes de sacanagem,
era tudo voltado para a sacanagem! E se irritava ao perceber que, para eles, o mais importante era estar dentro de uma mulher, mas qual mulher seria essa, era irrelevante!
Qualquer uma servia. Podia ter quinze ou cinquenta anos, podia ser gorda ou magra, podia ser qualquer uma!
As garotas não eram assim. Pelo menos, ela não era! As garotas como ela queriam melhorar de vida. Ia ser uma executiva de uma grande empresa e ia mandar
em todo mundo. Ia fazer faculdade, assim que saísse de Visconde de Mauá, uma região turística do Rio de Janeiro, mas distante demais dos grandes centros.
E, quando seu príncipe cruzasse o seu caminho, teria orgulho dela pois ela seria uma super mulher!
Por enquanto, tinha que trabalhar ali, para dona Vera, a dona da pousada. A mulher era exigente demais, chata demais para o seu gosto, mas já aturava aquela
megera há três anos. Ia fazer o que? Fora a única pessoa que lhe dera emprego quando ainda era menor.
A megera nunca lhe assinara a carteira. Nem antes e nem agora que já se tornara maior de idade. Mas sabia lhe arrancar o couro direitinho. Tinha que estar
na pousada as seis da manhã e só saía as seis da tarde. E isso, todos os dias. De segunda a segunda. Era ou não trabalho escravo?
Era certo que a região de Visconde de Mauá tinha uma extensa estrutura turística com diversas opções de hospedagem e restaurantes que variavam da comida
caseira à internacional, e a pousada onde Carolina de Lara trabalhava não era diferente.
O ar puro, a beleza e o clima agradável tornavam a região uma ótima opção para roteiros ecológicos na prática de caminhadas, cavalgadas, mountain biking,
off-road, Down Hill, Motocross, rapel, tirolessa, bóia-corss, arvorismo e muito mais
Também se podia alugar jipes e quadriciclos, além de equipamentos para tudo o que se pudesse imaginar.
Além disso, podia se aventurar pelos céus, admirando a paisagem através de um voo de asa delta ou de um salto de parapente..
Para quem apreciava a vida noturna era bom saber que vários restaurantes ofereciam música ao vivo para acompanhar o jantar ou até mesmo uma paquera. E, claro,
a pousada de dona Vera era um destes lugares!
O artesanato local também oferecia excelentes alternativas para o deleite do turista. E todo mumdo que ali ia achava que estavam às portas do Paraíso!
Mas Carolina estava saturada daquele lugar do qual todos diziam maravilhas. Podia até ser mas não para ela! Um dia ela iria para o Rio ou São Paulo, e acreditava
que, num grande centro, os patrões não iam lhe tirar o couro daquele jeito! Ia ter um horário fixo de trabalho! E seus pais ainda queriam que ela estudasse. Era
certo que há três anos repetia o segundo ano. Não conseguia entender que droga era aquela de logaritmos, de probabilidade, de objeto direto ou indireto e nem a tal
da função do "quê"? Para que a porcaria do "quê" precisava ter tanta explicação? E aquela droga de inglês? Para que precisava estudar aquela chatice de verb to be
se ela já sabia cantar um monte de hip hop? E as tais soluções químicas? Por que tinha que aprender aquelas fórmulas? Ela sabia misturar os ingredientes para fazer
um bolo delicioso! Para isso não precisava estudar química, nem física e nem precisava saber a altura do Monte Everest! Tudo aquilo era bobagem que não a interessavam
nem um pouco! E duvidava que uma grande executiva de sucesso precisava saber aquelas idiotices!
Mas tinha que continuar trabalhando para dona Vera a fim de ajudar seus pais. Seu irmão também trabalhava. Entregava compras em sua bicicleta. E já fumava
maconha! E seus pais nem desconfiavam que ele e os colegas iam para a beira do rio fumar maconha e se masturbar enquanto viam as tais revistinha de sacanagem! E
todos acreditavam que ele era um santo!
Ela ia dar mole para os molecotes que iam ali acompanhar os pais? Tava na cara que ainda eram crianças. Iguais ao seu irmãozinho maconheiro. Ia perder tempo
com aqueles garotinhos que raspavam o peito e as pernas, que pareciam ter vergonha de serem machos?
Quando ela se apaixonasse, não seria por um menino que se raspava, que tinha desejos secretos de ser igual a ela! Ia se apaixonar por um macho peludo, um
homem com "H" maiúsculo e não era um "H" de homossexual, não!
E foi então que ela o notou.
Ali estava um homem de verdade. Moreno, olhos azuis, alto, musculoso, perfeito! Um verdadeiro artista de novelas!
- O senhor é artista? - Ela perguntou na maior cara de pau quando foi servi-lo em sua mesa. Um dos seus maiores defeitos era falar demais, ser intrometida,
dar trela aos hóspedes, querer saber como era a vida deles fora dali. Dona Vera cansara-se de reclamar, de chamar a sua atenção mas ela era muito curiosa. Não conseguia
evitar. Era só chegar numa mesa qualquer para servir e automaticamente começava a falar como se houvessem ligado um botão. A vida daquelas pessoas parecia ser tão
interessante. Nada a ver com a dela. E, à noitinha quando estava em sua cama, fingia ser uma daquelas mulheres ou uma daquelas adolescentes mimadas, que tinham de
um tudo na vida!
- Eu? - Ele pareceu distraído a princípio mas depois a olhou com mais interesse. - Eu? Artista? Por que pergunta?
- Ah! Nunca vi um homem tão bonito como o senhor! E olha que aqui vem muita gente da televisão. Eu mesma já servi um monte deles. Mesmo por que, durante
o dia, só eu trabalho aqui, né? - E riu. - Mas o senhor bate todos eles. Nunca vi ninguém mais bonito!
O rapaz, que antes parecia aborrecido com alguma coisa, abandonou o jornal que estava lendo enquanto esperava ser atendido e passou a observá-la com mais
interesse.
- Trabalha aqui todos os dias?
- Todos! A velha me arranca o coura, sabia?
E quando ela mencionou a dona da pousada, levantou automaticamente os olhos para ver onde a mulher se encontrava e viu que ela a olhava com ar furioso.
- Ih! Ela não gostou de me ver conversando com o senhor. É melhor eu ir andando. Já trago o seu café. Aliás, o que o senhor quer mesmo, hein? - E pegou o
bloquinho para anotar o pedido.
- A que horas você sai?
- Eu? Saio as seis. Por que?
- Tem algum namorado que vem buscá-la?
- Quem me dera! Não tem ninguém interessante aqui, não!
- Então não tem namorado? É difícil de acreditar. Você é uma garota muito linda!
Pela primeira vez desde que abordara o rapaz, Carolina sentiu o rosto corar e o coração bater mais forte. Aquele homem lindo estava paquerando com ela?
- Obrigada, moço. O senhor é muito legal.
- Estou dizendo a verdade.
- Tá bom! Vou fingir que acredito.
- Então?
- Posso levá-la até sua casa hoje?
- A mim?
- Carolina! - A voz da dona Vera reverberou no salão. - Tem outros hóspedes para atender!
- Por favor, o que o senhor quer para o café?
- Posso esperá-la?
- Pode! Mas diga o que o senhor quer, sim?
Durante o almoço, o rapaz não aparecera. Na parte da manhã, quando fora arrumar os quartos, ficara impressionada com as roupas finas que ele pendurara no
armário. Não era nenhum João sem nome. Era um homem de classe!
Quando saiu as seis horas, o rapaz a esperava ao lado de uma caminhonete importada. Era um carro luxuoso e ele usava jeans e uma camisa polo vinho que parecia
fazer com que o azul dos olhos dele faiscassem.
"Que homem lindo!" Pensou extasiada. "E está esperando por mim!"
- E então, vamos? - Ele falou abrindo a porta do carro.
- Claro que não! Eu nem sei o seu nome, não sei quem o senhor é... E se for um serial killer? E se for um... Um... Ah! Sei lá! Tem tanta gente estranha por
aí!
- Tenho cara de ser um mau feitor? - Ele perguntou com um sorriso. Parecia gostar do jeito espontâneo dela falar e agir.
- E mau feitores tem uma cara definida? Se fosse assim, nenhuma garota caía nas lábias de um homem safado!
Ele gargalhou deliciosamente e ela o admirou por isso. Era ainda mais bonito quando sorria.
- Meu nome é Roberto. Roberto Alvares. Moro em São Paulo e sou o presidente de uma grande empresa. Sou solteiro e estou aqui, longe do mundo para descansar.
Estava sofrendo de estress. Meu médico disse que se eu não desse um tempo urgentemente, ia acabar enfartando!
- Ah! Eu entendo dessas coisas. Na pousada aparecem muitos executivos com esse problema. Mas geralmente são bem mais velhos que você. E, quase sempre, estão
com uma aparência assustadora!
- Eu sei... Tenho trabalhado tanto que meu médico disse que nem passaria dos trinta e três se continuasse nesse ritmo!
- Tenho.
- Acho que é um pouco velho para mim.
- Sou?
- É sim. Tenho só dezoito...
- Já teve muitos namorados? - Ele quis saber.
- Claro que não! Os garotos daqui nem sabem beijar direito! Não perco meu tempo com esses meninos bobos. Um dia, vai aparecer um belo príncipe para mim e
eu serei dele para sempre!
- Um príncipe? - Ele a olhou curuiso. - E eu não pareço um príncipe?
- Parecer, até que parece. Mas pode virar um sapo, né?
Ele gargalhou deliciado.
- Você é muito espontânea!
- Sou? Mas sinceramente, acho que o senhor não viraria um sapo não! Impossível alguém tão bonito ser mau!
- Você é uma garota romântica. - Ele concluiu.
- Ah! Sou mesmo! Minha mãe disse que sou muito sonhadora e que corro o risco de levar um tombo muito grande. Disse que preciso ter os pés no chão, na realidade.
Mas sabe? Sou aquariana. E os aquarianos tem a cabeça nas nuvens!
Enquanto falava, Roberto fez mais um gesto para que ela entrasse no carro e ela acabou entrando e se sentando no banco do carona.
- Tem algum lugar que possa me mostrar antes que eu a leve para casa?
- O senhor não pode me levar em casa. Meus pais vão falar muito se virem que entrei no carro de um homem estranho.
- Não sou mais um estranho. Já lhe disse quem sou.
- Disse nada. Disse seu nome e onde trabalha. Ainda é um completo estranho. Se minha mãe perguntasse algo sobre sua família, o que eu diria?
- Que sou filho único, que moro numa casa enorme e que meus pais moram comigo. Que estudei na Europa... E que sou libriano!
- Não sou não. Por que insiste nisso?
- Por que acho que já o vi na televisão.
- A mim? Acho meio difícil! Não sou ninguém tão importante assim! Vai me guiar para algum lugar bonito?
- Já conhece Maromba? A Cachoeira do Escorrega?
- Ainda não.
- Então, vamos até lá.
Naquela noite, quando Carolina chegou em casa e seus pais já estavam dormindo, acreditando que ela fora para o colégio depois do trabalho, deitou-se feliz.
Era certo que o Roberto não tentara nada com ela. apenas passearam de carro e conversaram bastante. Ela já sabia até para qual time ele torcia. E ele não parara
de dizer que ela era linda, que não dava para acreditar que não tinha namorado. Será que ele ia se candidatar ao cargo? Se ele pedisse para ela fugir com ele, ela
fugiria. Ou será que ele, depois que voltasse para São Paulo, iria visitá-la todas as semanas, como um namorado de verdade? E as mulheres que ele conhecia? Um homem
como ele devia ter as mulheres mais deslumbrantes a sua disposição. Ela via um monte de mulheres maravilhosas nas revistas. E deviam ser muito cheirosas! Com certeza,
não tinham aquele cheiro de desodorante de supermercado que ela tinha e que ainda escolhia o mais barato!
Então, o que ele queria com ela, afinal? Tudo bem que ela lera, em milhares de revistinhas românticas, que homens como ele sempre acabavam se apaixonando
por meninas como ela. Era virgem e jovem demais. Os homens ricos se cansavam das mulheres fantasticamente deslumbrantes. Lia e relia que eles sabiam que elas só
queriam o dinheiro deles. E, logicamente, ele saberia que ela não era assim. Ela ia querer somente a ele e o bem estar dele! Esqueceria atém mesmo do próprio bem
estar por ele! Ele estaria sempre em primeiro lugar para ela. Seria a melhor esposa e, com o tempo, aprenderia a ser tão deslumbrante quanto as outras. E sem estourar
com a conta bancária dele. Ia sempre deixar claro que o amava acima de tudo!
Amava? Oh, Deus! Ela estava apaixonada pela primeira vez na vida. Caso contrário, por que ele não saía de seus pensamentos um só minuto?
Estava, a todo momento, com a imagem dele em sua mente. Ora o via sorrindo, ora com os olhos entrecerrados, ora respirando forte, ora passando as mãos por
aquela cabeleira escura... Ele era tão lindo! Se ele não a quisesse, morreria!
Sua mãe lhe dissera que uma garota não deveria se entregar a um homem em seu primeiro encontro. Mas ela não fizera isso. Se ele a pedisse na noite seguinte
para fazer amor com ele, ela faria!
Ela já tinha dezoito anos! A maioria de suas colegas do colégio, que ainda não tinham a sua idade, já transavam com seus namorados. A Larissa transara com
quatorze e agora estava casada com o namorado. Tudo bem que ele não passava de um pinguço vagabundo que traía Larissa até com os garotos gays que se dispunham a
transar com ele.
Com ela, seria diferente. Quando Cecília engravidara, o Lote 10, bairro onde ela morava em Mauá, falou por dias. No dia de seu casamento, ainda comentavam
que ela dera um mau passo. E de que adiantou casar-se? O marido de Cecília não ficou nem dez dias no Lote 10. Assim que teve oportunidade, deu no pé. E ele fora
nascido e criado ali! Agora, todo mundo falava mal de Cecília.
E ainda tinha outras colegas suas, de infância, que tinham coragem de transar com seu irmão e com os colegas dele, por qualquer matinho que se encontravam.
Os caras não tinham dinheiro nem para levar as meninas dadeiras para um motel!
- Se eu fosse você, me manteria afastada do bacana... - Conceição, a cozinheira falou.
- É... Mas você não é...
- Ora menina, acha que um homem desses vai dar confiança para você?
- Acha que sou uma boba, né, Conceição? Acha que o Roberto vai me usar e jogar fora como um lenço sujo, não é?
- Roberto? Olha só como estamos? Roberto!
- Ele gostou de mim...
- Quem não ia gostar de uma menina de dezoito anos que ainda cheira a leite? Todo homem gosta de menina novinha. Evitam as mais novas para não terem complicações
com a lei. Acha que se não fizessem tanta onda, os caras de quarenta não iam andar com as menininhas de quinze e dezesseis para cima e para baixo? E se olhar bem,
alguns até já andam. Só que, como são as garotas de favelas, as tais novinhas de quatorze, ninguém liga! Mas duvido que as que tem pai e mãe de classe média permitiriam
- Nossa, Conceição! Como você é amarga e rancorosa. Só porque seu marido foi embora com uma garota novinha que todos seguirão os seus passos. O Roberto
me ama! Pode ter certeza disso!
Mal falara aquelas coisas sobre o marido de Conceição, se arrependera. Todos sabiam o quanto a mulher sofrera ao ser abandonada, ao ser trocada por uma que
podia ser filha do casal. Para piorar, o marido de Conceição vendera tudo e a deixara numa situação financeira tão ruim que de quase madame, pois tinha uma casa
grande de causar inveja a todos do bairro além de um carro para ela e outro para o marido e com quatro filhos pequenos, teve que largar tudo e virar cozinheira da
dona Vera! Aquilo sim era um castigo cruel!
- Desculpa, Ceição... Sei que fala para o meu bem... Não devia ter dito o que disse...
- Tudo bem... O que disse é a mais pura verdade. As pessoas olham para mim e pensam nisso. Só não tem coragem de dizer o quanto sentem pena de mim...
- Eu... Hã... Vou arrumar os quartos. - E saiu ainda aborrecida consigo mesma pelo que dissera. Sabia que estragara o dia de Conceição e não sabia como resolver
aquilo.
Naquele dia, trabalhou na pensão bastante intrigada. Ao que tudo indicava, Roberto desaparecera. Nem mal tomara o café da manhã e sumira por aquela cidadezinha
minúscula. Não almoçara, não fora esperar por ela quando saíra.
Fora para o colégio como sempre ia. Jamais ouvia qualquer das palavras que seus professores diziam. E agora, mais do que nunca, tinha algo para ocupar seus
pensamentos além de seus sonhos com um futuro melhor. Agora tinha Roberto Alvares para preencher sua mente.
"Deus! Se ele não aparecer, vou morrer!"
E ele não aparecera no dia seguinte. Seu quarto estava intacto. Ele não dormira lá. Não aparecera para o café e nem para o almoço. E, quando ela saiu as
seis horas, cansada do trabalho e de pensar nele, estava mais esgotada do que jamais estivera por toda a vida.
Ficara tão intrigada com o desaparecimento dele que insinuara, para dona Rosa, que podiam tê-lo matado.
A mulher riu. que desaforada! Pena que era sua patroa senão lhe diria poucas e boas! Como não se preocupava com o que poderia ter acontecido a um hóspede?
Como tinha coragem de achar graça daquela situação?
- Ele precisou viajar. Disse que recebera um chamado de sua empresa e que teria que partir. Mas que retornaria assim que pudesse. Tanto que deixou as roupas
aí. E pagou pelo chalé.
- Sei... Foi por ver as roupas lá e não vê-lo por aqui que pensei em assalto, assassinato...
- Você anda vendo muita novela... E pare de se engraçar para ele. Ele é um homem rico, fino... Esse tipo de homem só se mete com meninas como você por pura
diversão. Você nunca vai significar nada para ele!
- Não entendo por que todo mundo, de repente, me diz a mesma coisa!
- Talvez por que desejam alertar você.
- Duvido! Todo mundo aqui é muito invejoso. Só por que ele gostou de mim...
- Gostou de você? Realmente, anda vendo novelas demais! E lendo essas revistinhas românticas além da conta! O homem só te viu uma vez. Acha que está apaixonado?
Faz-me rir!
Carolina ia falar que dona Vera ficara com ciúmes e inveja dela, já que deveria estar de olho nele! Ela, no ano anterior, se envolvera com um turista mais
jovem e o camarada até vivera ali, na pousada por uns dois meses. Era, ao fim das contas, um vagabundo. Acabou indo embora e deixando a quarentona na maior fossa.
Ela, Conceição e a arrumadeira da noite comeram o pão que o diabo amassara durante muito tempo. A mulher ficara com um humor de cão. Mas não ia ser respondona naquela
altura. Se irritasse a coroa, poderia ser despedida e, mesmo odiando a pousada e a dona dela, não ia dar um mole daqueles!
Tinha que ser forte e aguentar o despeito alheio! Aquelas mulheres haviam se dado mal e agora morriam de inveja dela. Roberto era bonito e rico. Era, então,
muito compreensível aquela atitude negativa das pessoas. Afinal, todos ficavam um pouco aborrecidos com o sucesso dos outros. Ela sabia como as pessoas agiam. Era
uma observadora. Os humanos, em geral, eram invejosos e maledicentes. Até as mães tinham inveja das filhas e vice-versa. Tava no sangue, na alma, não tinham como
evitar. Além disso até ela ficaria com inveja se ele tivesse dado bola para outra. "Argh!" Ainda bem que ele não paquerara dona Vera!
Estava caminhando para o colégio, o lugar mais chato do mundo quando a caminhonete cabine dupla parou ao seu lado.
- Roberto! - Ela deu um grito de alegria.
Ele, de vê-la tão entusiasmada, saiu do carro e veio abraçá-la.
- Não pensei que ia gostar tanto de me ver!
- Fiquei com saudades. Por onde andou?
- Tive que ir a São Paulo resolver um probleminha na minha empresa. Mas tudo deu certo e eu corri o máximo que pude para estar aqui, com você!
- Sério? Comigo?
- É... Com você, meu chuchuzinho! Morri de saudades. - E beijou-a como Carolina jamais fora beijada em sua vida.
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apaixonante essa é o termo exato pra esse livro
ResponderExcluirapaixonanteeeee
parabens meus sinceros parabens
e muiiiita boa sorte
vc tem muito talento
beijos maxlene do rio de janeiro
que lindinho esse livro,gente como voce é boa mesmo pra escrever,e voce é cega mesmo? nossa ...esse é o primeiro livrinho que eu leio seu eu simplesmente amo romances e leio muitos, mas nunca tinha lido ninguem daqui do brasil, so escritores estrangeiros e sendo bem sincera era por puro preconceito, nunca achei que alguem aqui tivesse o talento que eles tem la fora,ME ENGANEI voce esta de parabens,parabens mesmo pois seu livro é muito,muito bom lerei outros começando mais um agora mesmo abraços pra vocce e muita sorte aí para publicaçao eu comprarei com certeza meu nome é carem eu moro em sao paulo capital
ResponderExcluirOla gostsria de saber se ha mais historias suas com o tema diferença de idade amei este.
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