Evangeline Brandão é uma viúva, mãe de Dois filhos. Seu marido, Raymond Gallagher, teve uma morte trágica, depois de receber uma enorme quantia em dinheiro, sendo
pierce brosnan |
e menos ainda que Ambrose seja uma cópia exata de Ray.
capitulo 1
- Onde está a tal mulher? - Disse o homem alto, de faiscantes olhos azuis e extremamente bonito, enquanto jogava sua bolsa de viagem em cima de um dos
sofás da grande sala de estar, onde acabara de entrar. Estava irritado, furioso, tanto que Seu rosto sombrio parecia que pegaria fogo a qualquer momento, tal era
a cólera estampada nele. Ele, que já era visto por todos como um homem extremamente sério e altamente responsável e trabalhador desde a adolescência, também era
muito conhecido pelo seu eterno mau humor e pelo temperamento perigosamente explosivo.
A moça morena, de cabelos tão escuros quanto os dele e semelhantes olhos azuis temera pela integridade física da mulher que ele ansiava por encontrar ali.
- Está na biblioteca. Papai e mamãe estão lá com ela. - Respondeu a moça, um pouco apreensiva, sabendo que de nada adiantaria aquela informação. Nada, nem
ninguém se colocaria em seu caminho quando ele estava determinado a resolver uma situação qualquer. - Não vá lá, por favor.
- Você acha que voei de Londres até aqui para ficar esperando que vocês resolvam um problema que até agora foram incapazes de resolver.
- Você não sabe como nossos pais estão sofrendo com tudo isso! Além de terem feito de tudo para encontrá-la. Só eu sei o quanto eles tês-se esforçado!
- Grande esforço! - Falou com desprezo.
- Era uma situação complicada... - Ela tentava amenizar. - Eles estão velhos. Papai já enfartou mais de uma vez e agora a mamãe com esse problema no coração...
- Não me interessam os problemas de saúde dos seus pais! Não vai me comover usando essa velha ladainha! Você mesma poderia ter-se encarregado desse problema
desagradável. Acha que gosto de estar aqui^? Acha que isso me deixa contente? Tive que vir aqui e detesto isso! Droga! - Praguejou. - Odeio esse país!
- Não seja tão impaciente! Estávamos tentando! Só que é muito complicado para nós. Não a encontrávamos de modo algum! - A moça falava com desânimo. Na verdade,
ela não queria se envolver naquele problema. Tudo parecia bem do jeito que estava. Não muito bem, era certo, mas para que mexer em certas feridas quando elas pareciam
quase curadas? Não via muito sentido em cavar um buraco que já fora tampado. De nada adiantaria tudo aquilo!
- Nunca vou compreender essa sua mania de defender duas pessoas que sempre se lixaram para você... - Ele disse com um brilho de rancor no olhar. - São
meus pais. - Ela respondeu com tristeza.
- E nunca lhe demonstraram nenhum tipo de amor por isso. - Ele continuou alfinetando.
- Mesmo assim, continuam sendo meus pais. - Ela o encarou. Trazia muita dor em seus olhos e o rapaz preferiu parar de magoá-la nesse sentido.
- Fizemos tudo o que podíamos para encontrá-la. Não era possível para nós ir mais adiante. Parecia um beco sem saída.
- E eu, de tão longe, consegui resolver parte desse problema. Encontrei-a não foi? E vocês aqui, ao lado dela, foram incapazes de tal feito!Agora, que estou
aqui, quero ver quem irá me impedir de arrasar com essa pistoleira! Saia! Saia da minha frente! Preciso acabar logo com isso!
Stephanie olhou para o irmão. Sempre prepotente, sempre arrogante, sempre insuportávelmente intimidador! Detestava o jeito dele, o jeito de machão dominador,
que jamais admitia ser contrariado. Todos deveriam render-se a sua vontade. Sua palavra deveria ser lei. Exigia obediência até mesmo de seus pais. Era um ridículo
idiota! Um ridículo idiota mandão! Tinha pena da mulher que se casasse com ele! Porém, de momento, tinha muita compaixão pela mulher que estava na biblioteca. Ele
cairia sobre ela como uma maldita tormenta e a destruiria como se ela fosse um inseto nojento! Mesmo assim, mesmo reconhecendo que seu irmão não passava de um prepotente
arrogante, amava-o e sabia que, infelizmente, aquela busca incessante por exorcizar alguns fantasmas eram necessárias. Ele jamais encontraria a paz de espírito se
não fosse fundo naquela história. Pelo menos, uma parte das tragédias que haviam desabado sobre aquela família destroçada, tinha que ser exposta, ser virada, para,
somente depois, voltar a ser devidamente enterrada.
- Você é muito desagradável! - Ela o fuzilava com olhos de pura censura.
Naquele momento, porém, as preocupações de Ambrose Gallagher não passavam pelas simpatias, empatias ou antipatias de Stephanie. Tinha um objetivo em mente,
que era o de descobrir qual era a verdadeira razão para que aquela mulher, que estava com seus pais na biblioteca existisse. Não! existisse não era bem o termo.
O termo correto era: deixar de existir. A tal mulher, que ele ainda não conhecia, deveria ter uma razão muito plausível para se esconder de sua família. E ele, ia
Curiosamente, Stephanie, sua irmã, oito anos mais nova, vivia a bater de frente com o rico empresário. Ela não o temia. Ou melhor, temia sim, apenas um pouquinho,
mas não conseguia evitar contrariá-lo. Era muito mais interessante vê-lo irritado do que satisfeito por terem suas ordens sempre acatadas por ela.. Nunca lhe seria
obediente. Onde já se viu tal absurdo! No entanto, naquele momento, não se tratava de rebeldia por parte dela e sim de um medo que fazia com que a moça se sentisse
de pés e mão atados. Aquela situação, terrivelmente constrangedora, poderia trazer consequências muito desastrosas para a vida de todos daquela família. E aquela
família, há muito tempo estava destruída. Talvez, na realidade, nunca tenha sido uma família! Só que, os acontecimentos dos últimos dez anos, acabaram por expor
ainda mais, as mazelas que aquelas pessoas traziam na alma.
Antes que ele se dirigisse a biblioteca, ela segurou-lhe o braço. Ambrose Gallagher a olhou contrariado, de cima a baixo e fez uma expressão de puro desagrado.
- Olha só como se veste! - Ele falou aborrecido ao ver que a irmã usava um vestido tão curto que mais parecia uma camisa. - Quando vai se vestir como uma mulher
da sua idade? ? - Ele ficava desgostoso em ver as roupas que sua irmã usava. Não compreendia. Há anos reconhecia naquele gesto uma clara agressão aos pais, que,
em sua opinião, de nada adiantava, já que seus pais jamais perderiam tempo em demonstrar qualquer tipo de sentimento com relação a filha caçula. E Ambrose nem compreendia
por que Stephanie tentava ainda, depois de ter saído há anos da adolescência, chamar a tenção de seus pais, como se ainda não tivesse passado dos dezesseis anos.
Ela riu satisfeita. Conseguira desviar a atenção dele do objetivo principal. De certo modo isso fazia com que ela se sentisse poderosa. Quase sempre conseguia
isso dele. Porém, ela não gostaria mesmo que ele fosse até a biblioteca.
- Esse é o meu irmão! Sempre gentil e tolerante! Eu moro no Rio de Janeiro, meu bem. Aqui é uma cidade quente e maravilhosa. Além do mais, sou uma mulher
apreciável. Por que deveria esconder minhas fabulosas curvas? Guarde esse falso puritanismo para as mulheres pudicas e hipócritas que se deitam com você!
Ambrose bufou de raiva. Tinha vontade de esbofetear a irmã por viver a insultá-lo daquela forma. Em momentos como aquele, tal comportamento era imperdoável!
Todavia, naquele instante, tinha uma mulher na biblioteca que lhe devia milhares de explicações. Com toda a certeza, deveria ser uma vadia qualquer, que não merecia
o cansaço em que ele se encontrava. Quase não dormira. Saíra de uma aborrecida reunião de negócios em Londres, que não poderia adiar. Assim que terminara ele pegara
o seu avião e voara para o Rio. Tide, o seu motorista no Brasil já o aguardava. Não conseguira dormir durante a viagem. Estava ansioso. Muitas coisas desagradáveis
esperavam por ele e ele não se sentia muito interessado em olhá-las de frente. Se o fazia, era por necessidade. Além disso, cada vez que voava para o Rio de Janeiro,
era assaltado pelas piores lembranças que podiam povoar a mente de alguém. Era uma viagem que não gostava de fazer. Se pudesse, se pudesse contar com a irmã, nunca
mais pisaria em terras brasileiras. Naquele momento, ele estava ali, na Gávea, na mansão da família, onde teria que ouvir as desculpas dos pais incompetentes,
Estava de volta! Estava em casa! E estava furioso! Aquele lugar era como o inferno! Não bastava desgraçar-lhe a memória com aquelas penosas recordações,
ainda por cima, era muito quente! Aquele calor escaldante fazia com que se sentisse ainda mais irritado. Queria matar a mulher que estava do outro lado da parede.
Ela era a única culpada por ele estar se sentindo tão aborrecido e desconfortável. Ia destruí-la com meia dúzia de palavras. Quem aquela vigarista pensava que era?
Virou-se novamente para se dirigir a biblioteca, mas, outra vez, sua irmã segurou-lhe pelo braço.
- Vai ficar me segurando? Nada vai-me impedir de destruir essa vagabunda! - Enquanto falava, olhava com desgosto para as cumpridas unhas vermelhas da irmã.
- Você não a conhece. Não a julgue sem ouvi-la antes!
- Vocês se protegem, não é? Ela é igual a você? - Perguntou ele olhando a irmã com desprezo. Não gostava de Vê-la vestida do modo como ela se vestia. Roupas
coladas no corpo, cores berrantes, geralmente vermelhas, ou saias tão curtas que ele acreditava não passar de um cinto. Para piorar, usava sapatos super altos ou
botas longas, quando o clima quente do Rio de Janeiro permitia. Em sua opinião, ela se vestia como uma garota fácil. Parecia uma garota de programa com aquela maquiagem
- Igual a mim? - A moça falou num tom de voz magoado que o irmão aceitou como uma bofetada. Estava cheio de ódio dentro de si, mas não era contra sua irmã
que deveria despejar aquela carga e sim contra a tal infeliz que o aguardava, há horas, na biblioteca.
- Desculpe. Não quis ofendê-la! Estou irritado e cansado! - Abraçou a irmã e afagou-lhe os cabelos fartos e escuros, exatamente iguais aos seus.
- Sei, mas ela não é...
- É que estou tão aborrecido com essa mulher que a minha vontade é de pulverizá-la da face da terra! exterminá-la de tal forma que a sua existência seja
esquecida do planeta como se jamais tivesse existido! Odeio-a! Raymond era um idiota! Só se envolvia com esses tipo! Ela não deve passar de uma prostituta de rua.
As vadias eram as preferidas dele.
- Você está se precipitando! Nem conhece a moça!
- Conheço o gosto de Raymond com relação a mullheres. Todas com as quais se envolveu eram vagabundas da pior espécie! Em que essazinha seria diferente? Nunca
o vi acompanhado de uma mulher digna do nome de nossa família! Tenho medo de imaginar o que se esconde do outro lado dessa parede!
- Você pode se surpreender! Nada sabe a respeito dela. Apenas pagou aos detetives que a trouxerssem aqui. Deveria ter tomado ciência antes de quem é ela,
o que ela faz para viver, onde vive...
- Eu bem posso imaginar o que ela faz para viver. - Ele riu com sarcasmo.
- Você pode estar enganado!
- Duvido! Era mulher do Ray, lembra-se? Que tipo de mulher ele gostava? Não eram todas vulgares? Como essa poderia ser diferente? Ray sempre gostou de vadias!
- Você pode se surpreender.
- Deixei orientações claras aos seus pais...
- Aos nossos pais. - Ela o corrigiu. Ficava irritada quando ele se negava a falar de seus pais como se fossem inimigos. Seus pais cometeram um grave erro.
- Deixei orientações claras aos seus pais, - enfatizou bem a palavra que se destinava aos pais, - para que obtivessem o máximo de dados a respeito da aproveitadora.
- Ele continuou falando sem ligar para a interrupção dela.
- Nossos pais tentaram, mas não conseguiram muitas coisas. quando o detetive a encontrou, só tiveram tempo de trazê-la até aqui, do jeito que estava. Apenas
esperaram que ela se vestisse e....
- Vocês nem me ligaram! Quem me ligou foi o próprio detetive! E eu vim assim que pude. Queriam me deixar longe dela, não é? Admita que não queriam que
eu estivesse aqui! Não querem saber a verdade? Preferem esconder a cabeça na areia?
- Não se trata disso e você sabe. De que vai adiantar saber alguma coisa agora? Nada vai mudar!
Ele observou a irmã. Aparentemente tão destemida, ousada, desafiante. Na verdade era frágil e temerosa. Temia que as revelações da moça na biblioteca pudessem
destruir ainda mais o péssimo relacionamento daquela família. Que família! Ele queria que tudo aquilo se lixasse. Tinha sede de sangue e queria beber o sangue de
alguém. Há tempos que precisava saciar aquela sede. Quem melhor que aquela vadia para lhe trazer algum conforto? Toda a dor que ele sentia em sua alma tinha que
sair por algum lugar. E o lugar se chamava Evangeline Brandão. Ela iria pagar com juros o que ele estava sofrendo. Não importava que ela, talvez, nem tivesse conhecimento
das coisas que aconteceram. Não era problema dele. Ele só queria alguém para desabafar a sua ira. Seus pais já não eram suficientes. Odiá-los não minimizava a dor
em seu coração. Precisava odiar a mais alguém. E a tal Evangeline Brandão parecia ser feita sob medida para ele desabar toda a sua fúria!
- Sim. Mas não falei com ela. Não tive coragem. O que eu teria para dizer a ela? A pobrezinha está aqui desde as seis da manhã. Até agora não dormiu. Não
pudemos deixá-la partir antes que você chegasse. Afinal, papai morre de medo de contrariar você. E ela poderia desaparecer novamente!
- Então, eu vou descobrir agora tudo o que quero saber. Mas adorei saber que a considera uma pobrezinha! - Ele riu desdenhoso.
- Espera... - Ela tornou a segurá-lo. - Há algo que você precisa saber antes de entrar lá.
- Agora eu estou aqui, Stephanie. Tudo o que me interessar eu vou ouvir direto da boca da golpista. Se vocês tivessem alguma informação importante, teriam
me notificado há horas. Agora, não preciso mais da ajudinha de vocês. Vou descobrir a verdade por mim mesmo.
"Bem, eu tentei" Pensou Stephanie. "Só espero que ele aguente o tranco. Mas, se conheço bem o meu irmão, nada o balançará!"
Ambrose Gallagher entrou na biblioteca como se fosse um tornado. Que ninguém ousasse ficar em seu caminho! Se o tentassem, ele não hesitaria em passar como
um rolo compressor por cima de quem quer que fosse!
Mal dera dois passos para dentro do aposento e, por apenas um milésimo de segundo. estacou. Não pode, entretanto, evitar o grito de pavor do menino e da
menina que acompanhava aquela mulher. Pareciam ter visto um fantasma horrendo Estavam apavorados. Tinham muito, mas muito medo dele! Saberiam que a intenção dele
era reduzir aquela maldita a nada? E a talzinha então? Olhava-o como se ele tivesse se levantado da sepultura e estivesse prestes a esganá-la! O medo nos três
semblantes era aterrador!
Contudo, não saberia dizer o que o surpreendia mais. A mulher, as crianças, o espanto nos olhos de todos, embora essa parte lhe fosse mais ou menos compreensível!
Pelo menos essa era! Porém, a mulher era completamente diferente do que ele esperava encontrar. Seus olhos de águia a percorreram de cima a baixo. Estava sentada
em um sofá de três lugares, linda, altiva e senhora de si, como uma rainha, pronta para ter suas ordens acatadas. Sentava-se ereta, con as pernas cruzadas, rígida,
mas pomposa. Tinha cabelos loiros. em fios retos, completamente ordenados. Nada nela estava fora do lugar. Parecia uma pintura, tal era a perfeição de seus traços.
Porém, não foi a perfeição da mulher ali sentada e nem a sua pose de estátuaque lhe fizera baquear. Nem o medo no rosto deles quando entrara. Esperava por isso,
já que não o conheciam. Mas... Temera... Quem se apavorara de verdade fora ele! Foi aquele menino sentado ao lado direito da mulher. Do lado esquerdo, havia uma
menina, de uns seis anos, tão linda e loira quanto ela. Mas o garoto era moreno como ele. Aliás, poderia facilmente dizer que era o retrato dele aos dez anos que
estava ali, ao lado da loira estátua de gelo. O garoto tinha os seus olhos azuis, a mesma cor de seus cabelos, o mesmo furinho no queixo, o ,esmo ar desconfiado
que ele tinha aos dez anos.
Sempre que se dirigia a uma reunião de negócios, onde a sua vontade deveria prevalecer a qualquer custo, estava mais que preparado. Entretanto, fora pego
de surpresa e detestava se sentir assim, vulnerável. Estava se sentindo agora, muito pior do que se sentira quando entrara naquela casa. Agora havia duas crianças
que ninguém lhe mencionara. E aquilo o deixava pouco a vontade. como iria destruir aquela vigarista com aquelas duas crianças ali presentes. E ela nem se parecia
com uma mulherzinha vulgar, como ele se preparara para encontrar. Estava lívido! Nada parecia fazer sentido! Tentava pensar rápido, como era de seu costume sempre
que algo não planejado surgia de repente, mas percebera que seu cérebro sempre ágil se negava a colaborar!
"Por que Steph não me disse?" Pensou irritado. Ia matar a irmã. Steph ´poderia ter ligado para ele no avião. Os seus pais também poderiam! Aliás, tinham
a obrigação de avisá-lo! Estariam todos se divertindo com a cara dele? Tudo fazia parte de uma conspiração macabra?
Não estava preparado para aquela situação que se apresentava. Teria que improvisar, trabalhar com o que tinha nas mãos. Tudo mudara, tudo estava diferente.
Que se danasse, então! Não iria recuar agora! Viera de longe para aquele desfecho. Era necessário, por mais que ele não o desejasse. No entanto, ver o medo nos olhos
das duas crianças o desarmara.
Deu um passo para dentro do recinto e isso fez com que a menininha chorasse. Percebeu que o garoto fazia um tremendo esforço para manter os olhos secos.
Deu outro passo na direção do sofá onde a mulher e as crianças estavam. Viu o pavor crescer ainda mais naquelas fisionomias.
Resolveu cumprimentar os pais com um aceno de cabeça. Fazia meses que não os via. De qualquer forma, mais que isso não se permitiria. Seus pais também eram
seus inimigos! Ali, todos eram! Estava sozinho em sua luta por justiça! Não importava. Daria conta do recado! E nunca iria ter com os pais, um gesto mais amável
que aquele. Era um homem cruel e vingativo. Ainda não pudera esquecer e perdoar o que seus pais lhe fizeram. Fora algo que o desgraçara. Nunca os perdoaria! E assim,
com aquele seco cumprimento, teria tempo mais que suficiente para se refazer do choque por encontrar uma mulher tão distinta e desejável em sua biblioteca e a duas
belíssimas crianças que pareciam ser encantadoras. Sacudiu a cabeça para expulsar tais pensamentos. Não viera, às pressas de Londres, para se curvar a sentimentalismos
banais. Viera destruir uma aproveitadora! Se ela resolvera apresentar-se com ares de grande senhora e trouxera aquelas duas crianças maravilhosas para fazer de escudo,
o problema era dela e das crianças. Não iria se comover com dois pares de olhos infantis que o olhavam num misto de curiosidade a apavoramento. A sua metralhadora
de ofensas não deixaria de girar em qualquer direção que fosse necessária. Ele queria sangue! O sangue daquela mulher! Que lhe importava que junto com o sangue dela
jorrasse o sangue de dois inocentes. Mas... E aquele garoto? Como destruir aquela mulher com aquele garoto, retrato fiel dele mesmo, a olhá-lo com tanto pavor?
E as roupas das crianças? A menina parecia um embrulho de presente em seu vestidinho rosa, cheio de laços, rendas e fitinhas. Mais fitas num cabelo de boneca,
liso e loiro.
O garoto parecia um mini executivo. Usava terno e gravata. Camisa com abotoaduras e tudo o mais!
- Quem são essas crianças? - Perguntou num tom tão hostil que seu pai pigarreou.
- São meus filhos. - Ela o encarou. Ele se perdeu nos olhos dourados dela. Aquilo o exasperou terrivelmente. Tinha fraquejado. Ela quase o intimidara com
aqueles olhos doces e tristes, porém, determinados. Estava lhe lançando um desafio com aquele olhar e não os desviava dos olhos dele. Ele desejou ardentemente que
algo acontecesse que o fizesse desviar a visão sem que parecesse que os olhos dela o intimidavam.
Por sorte, aconteceu. Sua mãe teve uma crise de falta de ar e todos correram para a mulher que arquejava.
Stephanie Gallagher entrara com um copo com água e acudia a mãe, que parecia a beira de um ataque nervoso.
- Saiam! Deixem-me conversar com esta mulher! Desse jeito não tem condições para uma conversa! - Ele falou alto e sua voz soou como uma trovoada. A moça
looira piscou levemente, visivelmente assustada. Disfarçou rapidamente e segurou a mão de seus filhos que se encontravam ao seu lado.
Ambrose, que suspirara tranquilo por se sentir dono, outra vez, da situação, viu quando os lábios da menina tremeram. Percebeu que sua mãe apertava-lhe as
mãos com a intenção de acalmá-la e protegê-la. E observou o olhar de desaprovação que Stephanie lhe lançara ao sair escorando sua mãe.
Por algum tempo, se perdeu olhando a garotinha. Teve vontade de colocá-la em seu colo e dizer-lhe que não precisava temê-lo. Ele não iria fazer mal nenhum
a ela. Mas iria! Iria fazer mal a ela, ao garoto e a mãe deles, deliberadamente, por escolha própria, como se odiar, machucar e desgraçar com a vida deles fosse
o seu passatempo preferido, o seu objetivo na vida. E era mesmo!
Amaldiçoou entre os dentes.
- Qual a idade das crianças? - Ele voltou-se para a mulher assim que a porta se fechou. Sua voz estava mais calma, mas seu olhar continuava ameaçador. No
entanto, Evangeline, a loira sentada a sua frente, notou que ele evitava olhar para as crianças.
- Dughlas tem dez anos e Patrícia, seis.
- Du... Dughlas? - Falou quase sem poder respirar. - Você disse Dughlas?
Ambrose fora atingido por um caminhão de carga. Não ouvira direito. Com toda a certeza, não ouvira aquele nome. Ia matar aquela mulher se ela repetisse o
nome que ele acreditava que ela dissera, Ia estrangulá-la ali mesmo diante das duas crianças.
- Sim. Dughlas.
- Está brincando comigo? - Ele vociferou. Falou tão alto que ela não pode disfarçar o susto como fizera até agora. Piscou várias vezes, totalmente atemorizada.
A menina começou a chorar de mansinho com a fúria estampada no rosto dele. O menino pôs a mão sobre a mão de sua mãe, para lhe dar coragem, invertendo a situação
anteriior.mudando a posição que antes era a mãe delequem lhe incutia força e coragem. Estavam com medo. Com muito medo daquele homem grande e assustador. Ele estava
desfigurado de ódio e cólera.
Ambrose Virou-se imediatamente de costas para aquela família que tentava apoiar-se e confortar-se mutuamente. Ele era o algoz. Ele era o homem mau que tentava
assustá-los, destruí-los. Por que estava agindo daquela forma? Por que tinha que ser desumano? E por que aquela maldita dissera aquele nome?
- Pare de brincar com a minha cara, sim? Não voei de Londres até aqui para servir de piadinha para a senhora. - Ele era ameaçador. Estava transtornado e
ela tinha a desagradável sensação que dissera algo que o irritara. Não. Irritar não era bem o termo. Ela dissera algo que o aterrorizara!
- Não o compreendo, senhor Ambrose. O senhor me fez uma pergunta e eu lhe respondi. Poderia me dizer onde estou falhando ao lhe responder?
- A senhora está me desafiando, dona Evangeline? - Ele perguntou sem se virar de frente para eles.
- Claro que não, senhor. Apenas...
- Qual o nome de seu filho? - Ele a interrompeu, ainda sem se virar.
- Dughlas! Já lhe respondi isso mais de uma vez! - Ela tentava ser paciente.
Ela não podia ver que ao ouvir a resposta dela o rosto dele se contorcia de dor.
- Dughlas... - Ele repetiu baixinho. - Seu filho se chama Dughlas.
Já não era mais uma pergunta. Apenas uma constatação.
- Dughlas. Dughlas Ambrose de Andrade Gallagher. Tenho aqui os documentos dele...
As mãos de Ambrose se fecharam até o ponto de suas unhas machucarem as palmas. Estava visivelmente chocado. Saiu da biblioteca sem olhar para as três pessoas
Stephanie, ao vê-lo passar feito um furacão, correu atrás do irmão. Encontrou-o do lado de fora. Os olhos dele estavam marejados, andando de um lado para
o outro, sem rumo, atordoado, desesperado!
- Por que não me disseram? Por que não me disseram? Nunca vou perdoar vocês! Estão brincando comigo? Já não basta o que essa maldita família me fez?
- O que aconteceu? - Ela perguntou preocupada. Seu irmão não estava bem. E ficar naquele estado não era uma atitude muito natural para Ambrose Gallagher.
Ele era o invencível! O homem indestrutível que jamais se vergava a qualquer situação. Seus nervos eram de aço e ele se gabava por nunca ter perdido uma batalha.
Aliás, perdera apenas uma. Mas, na época, ele estava em Londres e não pudera chegar a tempo. E, tinha um atenuante a seu favor. Era muito jovem. Seus pais haviam
fracassado em resolver aquela batalha enquanto ele não chegava. Depois, ficara insensível a dor. Nunca mais se abalara com os acontecimentos. Até há dois anos. Contudo,
dessa vez, não perdera a cabeça. Mantivera-se frio e distante, mesmo por se tratar de Ray. Mas, o que poderia deixá-lo naquele estado tão vulnerável?
- Não posso conversar com aquela maldita. Vá você e descubra o que puder. Eu não posso. Eu não sou capaz de enfrentá-la!
Stephanie olhava o irmão completamente aturdida. Não compreendia nada.
- Vá você! Converse com aquela bruxa desgraçada! Eu não posso! Eu não posso. - E Ambrose Gallagher abraçou-se a irmã e chorou.
Sem compreender o que se passava, Stephanie amparou o seu irmão. Instintivamente olhou para o lado de sua casa e pode verificar, de onde estava, que dentro
da sala envidraçada, seus pais, abraçados um ao outro, também choravam. O que estava acontecendo? Ela não sabia, mas podia perceber que algo muito desagradável ocorrera
para que derrubasse seu irmão e seus pais daquela forma. Odiou-se por não ter-se inteirado da verdadeira situação. Desde que souberam da existência daquela mulher,
a tal Evangeline Brandão, as coisas em sua casa nunca mais funcionaram de maneira satisfatória. Não que funcionasse antes. Há anos, nada funcionava bem naquela família,
mas todos conseguiam viver com seus fantasmas. Agora, tudo resolvera desabar de forma assustadoramente trágica. Como se já não houvesse tragédia suficiente em suas
Naquele dia, por causa da chegada de Evangeline a casa, os três empregados haviam sido dispensados, com exceção de Lita, a governanta. Ela estava com aquela
família há muitos anos, não tinha nenhum problema em estar inteirada das calamidades que podiam surgir por causa daquela visita, tão andiosamente aguardada e que
agora se encontrava na biblioteca, sozinha e sem saber ao certo o que ocorria com aquela família.
Lita percebera o que estava acontecendo, pelo menos em parte, e resolveu fazer o que sabia fazer de melhor. Apoiar, um a um, os membros daquela família tão
arrasada por tantos tombos que o destino lhes dava.
Em tempo recorde, pegou uma garrafa de uísque, um copo e levou até p jardim, onde Stephanie tentava consolar o irmão. Em seguida, retornou a casa e serviu
uma bebida para os patrões. Sabia que eles estavam abalados com alguma coisa. Suspeitava que era algo a ver com o menino Ambrose, que estava totalmente descontrolado
do lado de fora, como ela só vira uma única vez. E se o menino Ambrose estava num estado tão lastimável, seus pais não ousariam oferecer-lhe ajuda ou consolo. Felizmente
a menina Stephanie estava lá, com ele, para acarinhálo um pouquinho.
Logo, correu até a cozinha e acabou de arrumar uma bandeja, a qual ela já tinha começado a arrumar quando viu que os ânimos estavam muito esquentados. Ela
pensara em levar uns docinhos e sanduícjes para aquela moça que chegara lá, ainda muito cedo e já era noite, bastante tarde para que aquela mulher e as duas crianças
permanecessem presas dentro daquela biblioteca. Isso era um pecado com as duas crianças! Desde que chegaram ali ainda não saíram de lá, exceto para ir ao banheiro,
sendo sempre acompanhadas por um dos pais de Ambrose. Deveriam estar cansados e com fome. E as duas crianças? Coitadinhas! Se comportavam como adultas! Sempre ao
lado da mãe, sem reclamar, sem agir como duas crianças daquele tamanho deveriam agir.
Assim que vira aquele menino, sabia que iam ter problemas. Contudo, não pensaria que iam ser tão fortes! O que acontecera na biblioteca para que o menino
Ambrose saísse de lá daquela forma? com toda a certeza, ele estava tendo um sofrimento muito maior do que ele estava habituado a suportar. E a vida não estava sendo
nada generosa com aquele menino que ela vira crescer e ajudara a criar. Era o seu menino. Não gostava de Vê-lo daquele jeito!
Lita entrou na biblioteca, com sua bandeja de guloseimas e viu três pessoas esgotadas. As crianças cochilavam encostadas nos braços da mãe, uma de cada lado.
A mãe, a loira Evangeline, estava alerta a qualquer movimento da porta. Quando Lita entrou, trazendo a bandeja, a moça suspirou aliviada, todavia, continuou a olhar
a porta, a espera do homem que estivera ali, há poucos instantes, e que saíra tão bruscamente como entrara. Aquela mulher apavorada, aguardava silenciosa que o seu
menino Ambrose voltasse para acabar com ela!
- É melhor que deitemos as crianças ali, naquele sofá. - Apontou para um outro sofáágrande,
perto da janela.
Evangeline assentiu e deixou que a boa senhora levasse a menininha até lá. A garotinha era menor e mais fácil para ela carregar do que o menino.
- Coma alguma coisa. Não sei até que horas a senhora vai ficar por aqui. É melhor estar alimentada. A falta de alimento é tão desastrosa quanto o cansaço
físico ou mental. E não sei bem qual a batalha que a senhora tem pela frente. Tente relaxar um pouquinho enquanto todos estão lá fora. É melhor reunir forças! -
Lita não sabia por que dissera aquilo e com toda a certeza, estava ciente de que tinha razão. Viu que a loira concordara com ela. Viu o olhar de medo e preocupação
na moça. Bateu-lhe carinhosamente na mão.
- Tudo vai acabar bem. Fique tranquila! - E saiu dali.
Evangeline desejou que aquela mulher ficasse mais tempo com ela. Fora gentil e lhe trouxera um pouco de conforto. Era o que mais precisava naquele momento.
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Romances no Rio 7 - A Imagem retorcida - romantico
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Tomara que tenha a historia desse Solano. Ele me parece muito gostoso.
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